Precisamos de Luteros no Brasil - meditações no aniversário da Reforma


“O Justo, por sua fé, viverá”
Rm 1.17

“28ª Tese

Certo é que no momento em que a moeda soa na caixa vêm o lucro e o amor ao dinheiro cresce e aumenta; a ajuda, porém, ou a intercessão da Igreja tão só correspondem à vontade e ao agrado de Deus.”

“39ª Tese

É extremamente difícil, mesmo para os mais doutos teólogos, exaltar diante do povo ao mesmo tempo a grande riqueza da indulgência e ao contrário o verdadeiro arrependimento e pesar.”

“62ª Tese

O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus. "

63ª Tese

Este tesouro, porém, é muito desprezado e odiado, porquanto faz com que os primeiros sejam os últimos.”


Por que?

Hoje, dia 31 de Outubro de 2009 faz 492 anos que o monge Martin Lutero pregou as 95 teses na catedral de Wintemberg, na Alemanha em protesto aos dogmas impostos pela igreja de Roma como, por exemplo a venda de indulgências e objetos para a salvação.

De certa forma, todos nós evangélicos temos total dívida com esse evento. Nascemos oficialmente (falando como protestante) como instituição dele. É nosso aniversário! Todas as igrejas e denominações que adotaram a Bíblia como fé e prática são filhas da reforma. Seja Deus glorificado!

Mas qual tem sido a influência de Lutero no Brasil? Será que as denominações evangélicas estão levando a sério ensinamentos extraídos da própria Bíblia enfatizados por este homem? Ou ainda temos um misticismo medieval em nosso meio? Ou temos uma comercialização religiosa nos arraiais evangélicos?

O objetivo dessa postagem é contrastar princípios pelos quais Lutero lutou em sua época com a teologia da prosperidade e o misticismo tão presente no evangelicalismo brasileiro.


É bom saber história

A Reforma Protestante foi um marco na história do cristianismo. Representou um resgate de doutrinas que estavam esquecidas na mente cristã, completamente cativa aos moldes da ditadura da Igreja Católica.

Antes de entrarmos na questão doutrinária e sua relevância nos dias atuais, não podemos deixar de citar o seu mentor, ou seja, Martinho Lutero.

Lutero foi um monge católico, que antes de entrar para o convento, possuía duas formações: Filosofia e Direito. Mas sua alma sempre desejou conhecer mais a Deus, entrando, por esta razão e para frustração de familiares e amigos, para a vida monástica. Nasceu em 10 de novembro de 1483 na Alemanha, na vila de Eisleben, filho de um humilde minerador de prata e foi criado em Mansfeld na Turíngia. Decidiu ir para um convento agostiniano por causa de um livramente de uma tempestade e raios. Clamava dizendo que se houvesse livramento, viraria padre.

Sua vida no convento foi marcada por uma intensa busca pela santidade, fato que o fez declarar: “Dá-me santidade ou morro por toda a eternidade; leva-me ao rio de água pura e não a estes mananciais de águas poluídas; traze-me as águas da vida que saem do trono de Deus!”

Após receber uma Bíblia de presente, logo, um texto o chamou atenção: “O Justo, pela sua fé viverá” (Rm 1.17) e esse texto não sairia de sua mente até o dia em que compreendeu o verdadeiro sentido de justiça, que o levou a dizer: “Então me achei recém-nascido e no Paraíso. Todas as escrituras tinham para mim outro aspecto; perscrutava-as para ver tudo o que ensinavam sobre a ' justiça de Deus '. Antes, estas palavras eram-me detestáveis; agora as recebo com o mais intenso amor. A passagem me servia como a porta do Paraíso”.

Depois dessa descoberta, Lutero começou a pregar chamando o povo para a liberdade em Cristo, o que o levou a fixar as famosas 95 teses na porta da Igreja de Wittenberg. Em 1512 doutorou-se em Teologia. Pregou em Wittenberg expositivamente os livros de Salmos, Romanos, Gálatas e Hebreus.

Em um ano, seus ensinos já tinham se tornado público, mas não escapou da ira do Papa, que, para sua surpresa, o convocou com o objetivo de retratar-se. Mas sua mente já estava cativa e apaixonada pela liberdade em Cristo e sua resposta foi: “Não posso retratar-me, nem me retratarei de qualquer coisa, pois não é justo nem seguro agir contra a consciência. Deus me ajude ! Amém”.

Excomungado e ameaçado de ser lançado na fogueira, o príncipe da Saxônia o escondeu em seu castelo, de onde pode produzir livros e traduzir a Bíblia para a língua alemã, com o fim de torná-la acessível a todos, já que, até então, só poderia ser lida no original e em latim.

Em 1529 escreveu um catecismo menor explanando os Dez Mandamentos, o Credo dos Apóstolos, Pai Nosso e alguns pontos sobre vida cristã no método perguntas e respostas.

Após sair do exílio, deixou a vida monástica e casou-se com uma ex-freira, Catarina Von Bora e passou toda a sua vida pregando e ensinando a verdadeira liberdade do evangelho até perecer na sua cama citando por três vezes o texto de João 3.16.

Morreu em 18 de fevereiro de 1546, em sua cidade natal, aos 62 aos 62 anos. Filipe Melanchton dirigiu o culto fúnebre. A influência de Lutero seguiu curso não só na Alemanha, mas também na Holanda, Suécia, Dinamarca e Noruega.


Sua contribuição

Martinho Lutero teve uma vida voltada para a oração e estudo da Palavra, fato que pôde proporcionar ao mesmo uma grande produção teológica.

Uma das marcas da sociedade naquela época era pouquíssimo conhecimento da Bíblia e a institucionalização da autoridade da igreja de Roma, que escravizava a vida religiosa da sociedade, influenciando em toda o cotidiano.

Martinho Lutero não descobriu uma nova doutrina ou um novo modo de ler a Bíblia, somente resgatou a disseminação de seus ensinamentos, dando grande importância ao ensino da Palavra para o povo. Ele traduziu a Bíblia para o alemão.

A doutrina da Justificação somente em Cristo, principal doutrina resgatada por ele, ensina que todos os nossos pecados são perdoados porque Cristo morreu em nosso lugar, quando ainda éramos os seus inimigos e que, por isto, não precisamos de mais nenhuma obra para chegarmos a Deus, sendo declarados justos.

Esse ensinamento veio de encontro aos seus anseios de se tornar santo, porque a santificação, que nos separa para Deus só é possível por meio da Justificação, que leva o Senhor a nos ver como justos, embora vivamos neste corpo pecaminoso.

Também militou contra as indulgências, a venda de relíquias supostamente de santos e também a troca de moedas por almas libertas do purgatório. Seu adversário nesse conflito foi Johann Tetzel, representante do Papa Leão X., que levantava dinheiro para a construção da Catedral de São Pedro em Roma através da venda das indulgências.


Nossos dias tristes

O quadro pintado até aqui nos remete, como um exercício natural de conhecer a história, a pensar como está o evangelicalismo brasileiro no mundo pós-moderno e com muitas oportunidades de conhecimento.

Temos testemunhado, pelo menos no Brasil, o crescimento de teologias que transformam Deus em um produto de consumo (neste caso “deus”) e os fiéis, pessoas carentes de Deus, em uma clientela em potencial ou então no “deus” gênio da lâmpada como na estória de Aladin em que alguém esfrega a lâmpada e sai um “gênuo” pedindo para o “amo” fazer três pedidos que os desejos serão realizados. A Teologia da Prosperidade tem influênciado grande parte o evangelicalismo brasileiro ocupando horários na televisão e influênciando pessoas em outras igrejas que não são originalmente adeptas dessa persuasão. Mesmo que alguns pastores preguem a Bíblia e a sã doutrina, boa parte da membresia acompanha pela televisão a transmissão desses ensinamentos.

Nossos representantes televisivos desfilam com roupas caras, vendendo livros e até mesmo bênçãos em troca de uma rápida resposta divina.

Podemos ver isso como uma conseqüência da nossa idéia de que o ensino doutrinário é menos importante do que a prática do cristianismo, o que nos leva a um desinteresse do ensino verdadeiro, nos desviando da prática do verdadeiro evangelho.

Esses falsos pastores, na ânsia de resultados, dinheiro fácil e poder, utilizam de técnicas de oratória e até mesmo da neurolinguística para convencer um povo cansado de promessas, levando muitos a ficarem decepcionados com igreja e até mesmo com Deus.

Não seria isso uma forma de venda de indulgências com roupagem moderna (e pós-moderna)? Não estariam sendo discípulos de Johann Tetzel ao invés de ouvirem Lutero? A Teologia da Prosperidade que engloba misticismo e supertição trazendo conceitos como “maldição hereditária”, “confissão positiva”, “declaração de bençãos” e outros, só fazem repetir em linguagem atualizada, o que Lutero denunciou no passado em suas 95 teses.


Lutero fala ao Brasil


Por todas essas razões, seus ensinos ainda são atualíssimos e devem nos levar a pensar qual o nosso papel diante dessa crise de ensino.

Precisamos não somente de um homem que compre essa briga, que se dedique a ensinar a Bíblia com fidelidade e combata essas heresias, mas também devemos batalhar em nossas comunidades locais, preparando estudos e sermões que ensinem uma vida de liberdade em Cristo, por meio da Justificação!

Precisamos também de um resgate a suficiência de Cristo para a nossa salvação. Precisamos entender e ensinar a singularidade de Cristo e a simplicidade do Evangelho da Graça de Deus frente aos falsos ensinamentos da Teologia da Prosperidade.

Lutero ainda fala para a nossa geração - ele não é somente pó num túmulo da Alemanha, mas um mestre, uma pessoa que teve erros, mas que amou a Palavra, lutou para que Ela fosse suficiente e amou também o seu povo - ele ainda nos ensina e está gritando para a gente: “Castelo Forte é Nosso Deus”.


Fonte: texto do monergismo.net – Martinho Lutero, de Orlando Boyer
Via:
Em Busca de Deus ] / [ Reforma e Avivamento ] .
.
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1 comentários:

REalmente, precisamos de mais Luteros, precisamos da Reforma. Só tem um problema, vamos reformar o que, ou quem? Seria impossível uma reforma nos dias de hoje com a quantidade de denominações que temos e com o fato de que nenhuma delas responde a ninguém, ou seja, hoje a igreja tem dono, e não é o Nosso Senhor Jesus. Mas a única certez que tenho é que realmente precisamos de uma reforma, ampla e irrestrita, senão, que Deus nos ajude.

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