Nadando contra a maré?

.
Por: Felipe F. Inácio

Observando o crescimento exponencial que os evangélicos têm assumido nos últimos anos, percebemos que o número de pessoas preocupadas com questões sociais, política e econômica que o mundo enfrenta é mínimo. Temos visto crises em toda a existência humana, mas ao que parece, a maioria dos evangélicos não tem encontrado relevância no esforço em melhorar um mundo que só tende a piorar. Isso nos leva a pergunta: Qual o papel da Igreja em meio a nossa sociedade?

O Evangelho que presenciamos em nossos dias não tem abarcado o homem por completo. Age como uma espécie de teologia “manca”. Têm se feito uma dicotomia entre secular e sagrado. E para muitos, o evangelho é algo que se refere unicamente à religião. Vemos um total desinteresse com matérias presentes em nosso dia-a-dia. Quantos cristãos proclamam com ar de “espiritualidade” que não devemos nos preocupar com temas como política, sociedade e economia! Para eles, o que importa é que tudo isso acabará e viveremos em um lar celestial! Estas pessoas se recusam a tentar mudar a situação atual, pois para eles o mundo vai de mal a pior, até que tudo se finde. Para estas, o “mundo jaz no maligno”, somos “peregrinos na Terra” e este “mundo é passageiro”.

No entanto, quando olhamos de uma forma mais ampla o conceito bíblico acerca dessas questões, vemos um Deus que ao criar o mundo, desejou glorificar o seu nome e esta glória era em todas as áreas da vida. Com a entrada do pecado por meio do homem, a glória de Deus ficou manchada. Tudo passou a ser caos. Cristo, então, vem ao mundo para restabelecer aquilo que foi perdido com o intuito de redimir o homem, para que este volte a refletir o esplendor divino. Ele veio não para agir em uma única esfera da vida, mas veio para restaurar o homem por completo. No coração do homem regenerado agora, passa a ecoar as palavras de Abraham Kuyper: “Não há um único centímetro quadrado em todos os domínios da existência humana sobre o qual Cristo, que é o Soberano sobre tudo, não clame: é meu!”¹

O desejo maior que o crente tem nesse instante, é a busca da glória de Deus em tudo e todos. Viver desinteressado com as crises presente nas esferas da existência humana, não é a atitude de quem anela ver a glória de Deus. É impossível desejar glorificar ao Senhor por completo e não se preocupar com o império satânico que vêm crescendo no mundo. O cristão sincero sabe que a injustiça irá aumentar, que o mundo só atingirá a perfeição na consumação dos séculos. Mas ele se recusa a cruzar os braços, ele se recusa viver sem que o nome de Cristo seja glorificado em todas as áreas da vida. Pois em seu coração, “o fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e alegrar-se nele para sempre”².

Não é “nadar contra maré”, não é utopia, nem falsa esperança, mas é simplesmente a busca incessante para que a glória de Deus seja estabelecida na Terra. O verdadeiro cristão sabe que não é por mero esforço humano que o Reino de Deus será implantado, mas ele que tem o coração do Pai odeia a injustiça, odeia a glória do homem, odeia as crises decorrentes do pecado, e sua posição para com os problemas do mundo é que “o homem tem que viver e só pode viver coram deo”³

Referências bibliográficas:

1. Kuyper, Abraham. Sphere Sovereignty. Em: Bratt, James. Abraham Kuyper: A Centennial Reader. Grand Rapids: Eerdmans, 1998.
2. Catecismo Maior de Westminster, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1991.
3. Van Til, Survey of Christian Epistemology, 97.

Fonte: [ Apologia e Espiritualidade ]

.

O que é regeneração?

.
Por: Martyn Lloyd Jones

A implantação de um princípio de nova vida espiritual e uma mudança radical na disposição governante da alma. Deixem-me explicar o que quero dizer com isso. O importante que se deve captar é toda a idéia de disposição. Além das faculdades de nossas almas, há algo por trás delas que as governa todas, e isso é o que referimos como sendo nossa disposição. Tomem dois homens. Eles possuem as mesmas faculdades; no que diz respeito às suas habilidades, não se pode fazer nada para optar-se entre elas; um, porém, vive uma vida recomendável, o outro vive uma vida má. O que faz a diferença? A resposta é que o homem bom possui uma boa disposição, e essa boa disposição, esse algo que está por trás das faculdades e as governa e delas se utiliza, o impulsionam a usar suas faculdades na direção da bondade. O outro homem possui uma disposição má, e assim ele incentiva as mesmas faculdades numa direção inteiramente diferente. Isso é o que se pode dizer por disposição.

Quando vocês se põem a meditar nela, e quando se põem a fazer uma auto-analise, sua vida e toda a sua conduta e comportamento, bem como os de outras pessoas, perceberão imediatamente que essas disposições são, naturalmente, de tremenda importância. Elas são aquela condição, se o preferirem, que determina o que fazemos e o que somos. Permitam-me que lhes apresente outros exemplos. Pensem em pessoas que possuem diferentes interesses e habilidades. Escolham duas pessoas que são mais ou menos opostas; uma que seja artista e outra que seja cientista. Qual é a diferença entre elas? Ora, vocês não podem dizer que a diferença está na faculdade intelectual, nem dizer que a diferença está nas faculdades de suas almas. Claro que não, mas há em cada pessoa uma disposição que parece determinar o tipo de pessoa que ele ou ela é. E isso que direciona as faculdades e as habilidades, a fim de que uma pessoa seja artista e outra cientista, e assim por diante. Pois bem, estou salientando este ponto para mostrar que o que sucede na regeneração é que Deus assim opera sobre nós no Espírito Santo, para que essa nossa disposição fundamental seja transformada. Ele põe um santo princípio, uma semente de nova vida espiritual, nessa disposição que determina o que eu sou e como me comporto e como uso e emprego minhas faculdades.

Permitam-me apresentar-lhes uma grande ilustração para mostrar o que tenho em mente. Tomem o caso do apóstolo Paulo. Olhem para ele como Saulo de Tarso. Não há dúvida sobre sua habilidade, nem sobre seu entendimento, nem sua força de vontade. Não há nenhuma dúvida sobre sua memória. Suas faculdades estão aí, e são claras e salientes; ele fora sempre um homem notável. Mas ei-lo aí, perseguindo a Igreja, considerando o Filho de Deus um blasfemo; e ele se dirige a Damasco, "respirando ameaças e morte", usando de todos os seus poderes para exterminar a Igreja Cristã. Vejam-no, porém, mais tarde, pregando o evangelho como jamais havia sido pregado antes ou desde então, com as mesmas faculdades, com as mesmas habilidades, a mesma personalidade, o mesmo em tudo, movendo-se, porém, na direção exatamente oposta. O que havia mudado? Não as faculdades da alma de Paulo - elas ainda são as mesmas: a mesma veemência, a mesma lógica, a mesma eficácia, a mesma prontidão em arriscar tudo, completamente; ele é, obviamente, o mesmo homem. E não obstante toda a direção, toda a inclinação, toda a perspectiva tem mudado. Ele é um homem diferente. O que lhe teria acontecido? Agora ele possui uma nova disposição.

Estou enfatizando isso por esta boa razão: só através da compreensão desse fato é que somos capazes de entender a diferença entre regeneração e uma mudança e processo psicológicos. Vejam bem, quando homens e mulheres são regenerados, não se transformam todos na mesma coisa, como selos postais. Mas quando se tornam vítimas de um movimento psicológico, a tendência é se tornarem idênticos - uma distinção muitíssimo importante. Quando as pessoas são regeneradas os dons particulares que as constituem nos homens e nas mulheres que são sempre permanecem constantes. Paulo, segundo os lembrei, era essencialmente o mesmo homem quando pregava o evangelho como era quando o denunciava e o perseguia. Com isso quero dizer que ele era o mesmo indivíduo e que fazia as coisas da mesma maneira.Deus não intentou que todos sejamos idênticos como cristãos. Não intentou que todos falemos, preguemos e oremos da mesma forma. O evangelho não produz esse tipo de mudança, e se acreditam que a regeneração faz isso, então vocês têm uma falsa doutrina da regeneração. O que ela faz é lidar com essa disposição que está por trás de tudo, mudando-a; esse algo fundamental que determina a tendência, a conduta, o hábito. E vital que compreendamos que a mudança na regeneração se realiza na disposição.

Então, em segundo lugar, devido ao poder da disposição em nós, segue-se necessariamente, que essa mudança irá afetar a pessoa toda. Porventura alguém pensa que estou contradizendo uma de minhas negativas? Tenho sustentado que a pessoa toda não é inteiramente mudada - estaria agora afirmando o contrário? Mantenho minha negativa, mas digo que, em princípio, em virtude da mudança na disposição, a pessoa toda é afetada. O modo como uso minha mente será afetado, a operação de minhas emoções será afetada, e assim será com minha vontade, porque, por definição, a disposição está por trás de todas essas volições e lhes dá direcionamento. E assim, quando essa minha disposição é mudada, então me porto como uma pessoa com uma mente nova. Antes, eu não me interessava pelo evangelho; agora me sinto muitíssimo interessado nele. Antes, não podia entendê-lo; agora o entendo.

A mudança em minha disposição, porém, não significa que agora o meu intelecto seja maior do que antes! Ao contrário, tenho exatamente o mesmo intelecto, a mesma mente. Mas, visto que a disposição governante é transformada, minha mente é operante numa esfera diferente e de uma forma diferente, de maneira que aparenta ser uma mente nova. E exatamente o mesmo se dá com os sentimentos. Um homem que costumava odiar o evangelho, agora o ama. Uma mulher que odiava o Senhor Jesus Cristo, agora O ama. E o mesmo se dá com a vontade: a vontade resistia, era obstinada e rebelde; mas agora ela deseja, é zelosa, se preocupa com o evangelho.

A próxima coisa a dizer é que essa mudança é algo instantâneo. Agora percebem a importância de se fazer diferença entre geração e nascimento efetivo? Geração, por definição, é sempre um ato instantâneo. Há um certo momento, um lampejo, em que o germe da vida entra, impregna; essa é uma ação instantânea. Noutras palavras, não há na regeneração estágios intermediários. A vida é ou não implantada; não pode ser parcialmente implantada. Não é gradual. Ora, desejo uma vez mais enfatizar esse ponto. Quando digo que ela é instantânea, não estou me referindo à nossa consciência dela, mas ao fato em si mesmo, como ele é realizado por Deus. Consciência, naturalmente, ocorre na esfera do tempo, enquanto que esse ato de germinação é coisa súbita, e essa é a razão por que ela é imediata.
E assim, a próxima coisa - e isso uma vez mais é muitíssimo importante - é que a geração, a implantação dessa semente de vida e a mudança da disposição, ocorre no subconsciente, ou, se vocês o preferirem, no inconsciente. Nosso Senhor explicou isso plenamente a Nicodemos (João, capítulo 3). E uma operação secreta, uma operação insondável, a qual não pode ser diretamente percebida por nós; aliás, não podemos nem mesmo entendê-la plenamente. A primeira coisa que sabemos sobre ela é que a mesma aconteceu, visto que somos conscientes de algo diferente, mas isso não significa que podemos entendê-la e que realmente podemos penetrar no seu recôndito.

Permitam-me que agora lhes apresente a base autoritativa para isso. Nicodemos, como todos nós, estava tentando entendê-la. Nosso Senhor lhe disse: "se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus" (João 3:3). "Meu querido Nicodemos", disse Ele, com efeito, "você está tentando entender a diferença entre você e Eu, e o que estou fazendo. Pare com isso! Não se trata de mudar, ou de entender essa ou aquela coisa em particular; é a disposição governante de sua vida que deve ser mudada; você precisa nascer de novo. E algo por trás de todas essas faculdades que você está tentando usar."

Perguntou Nicodemos: "Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?" (João 3:4). Ele queria entender, e nosso Senhor continuava dando a mesma resposta, e Nicodemos continuava argüindo.

Eventualmente nosso Senhor o colocou para ele dessa forma: "O vento sopra onde quer..." Há algo de soberano nisso. Vocês não sabem quando o vento deverá vir ou ir, ele decide seu próprio tempo. Vocês não sabem onde ele começa e onde ele termina. "O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz" - vocês têm consciência de que ele está soprando - "mas não sabes donde vem, nem para onde vai" (João 3:8). Vocês não o vêem; podem ouvi-lo, podem ver as coisas balouçando ao sabor da brisa, mas não entendê-lo. Há um mistério em torno do vento, algo insondável. Vocês não podem sondá-lo ou agarrá-lo com seu entendimento, mas podem ver os resultados. "Assim é todo aquele que é nascido do Espírito" (v. 8).

Certas pessoas ignoram isso completamente, porque traduzem o vento do versículo 8 como "o Espírito sopra" - o Espírito Santo. Evidentemente, porém, não tem esse sentido, não pode significar isso, visto que nosso Senhor está se valendo de uma ilustração. Ele está falando sobre o vento, a ventania, se o preferem, não o Espírito Santo, nem qualquer outro espírito. "Ele sopra onde quer, e ouves a sua voz" - vocês não podem vê-lo, mas vêem os efeitos e os resultados - "assim é todo aquele que é nascido do Espírito." Eis aí a natureza essencial dessa grande mudança.

Portanto meu quarto ponto é que a regeneração é obviamente algo realizado por Deus. E um ato criador de Deus no qual homens e mulheres são inteiramente passivos e não contribuem em nada, absolutamente nada! Lemos em João 1:13: "os quais não nasceram" - vocês não dão à luz a si mesmos - "do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas" -inteiramente! - "de Deus". Deus implanta esse princípio, essa semente de vida espiritual. E uma vez mais, naturalmente, temos as palavras de nosso Senhor expressas a Nicodemos: "se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne" - e ela não pode fazer nada a respeito - "e o que é nascido do Espírito é espírito" (João 3:5,6). Noutras palavras, os termos são que somos nascidos outra vez. E algo que nos sucede; somos gerados, não geramos a nós mesmos, não podemos gerar a nós mesmos. E inteiramente obra de Deus em nós e sobre nós.

Não terminamos ainda nossa consideração dessa grande, essencial e central doutrina, mas espero que, neste ponto, a grande idéia esteja clara em nossas mentes e em nosso entendimento, ou seja, que é aí, na disposição, que Deus opera, e é Deus, através do Espírito Santo, quem faz isso. Nascemos do Espírito.

Hesito agora em usar de ilustração; vou lembrá-los, porém, de que nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo nasceu da virgem, Maria, sim, mas foi concebido do Espírito Santo. Algo comparável, similar a isso - não a mesma coisa, cumpre-me deixar bem claro - parece suceder aqui. Esse princípio de vida espiritual, essa mudança, portanto, na disposição, é algo que se realiza pelo Espírito de Deus. A natureza humana não é inteiramente mudada por ela, visto, porém, que a disposição é mudada, todo homem ou mulher é como uma nova criação. Em cada aspecto, eles são pessoas diferentes, visto que esse algo fundamental que governa todas as outras partes foi mudado neles.

As faculdades, entretanto, permanecem como antes. Jamais tentem ser outra pessoa; sejam vocês mesmos. Deus quer que sejam vocês mesmos. Ele os fez como fez, e podem glorificá-lo melhor sendo vocês mesmos. Sejam sempre cautelosos com cristãos que falam da mesma maneira e são os mesmos em muitos aspectos*, isso se assemelha mais a um fator psicológico do que espiritual. Todo homem, toda mulher, cada um individualmente, permanece o que ele ou ela era, e assim vocês retêm a gloriosa variedade nos apóstolos e na Igreja Cristã através dos séculos. Todos concomitantemente testificam do mesmo Salvador e da mesma graça, da mesma regeneração, da mesma mudança na disposição, mas revelado segundo os dons e faculdades, as inclinações e poderes que Deus concedeu a cada pessoa.

Que maravilhosa salvação, que glorioso método de redenção! Oh, como aprecio uma palavra que é usada pelo autor da Epístola aos Hebreus, no segundo capítulo. Ela descreve e define perfeitamente o que estou tentando dizer. Falando sobre esta grande salvação, o autor diz de Deus: "Porque convinha que aquele" - era preciso que Ele, foi o Seu modo de fazê-lo -"para quem são todas as coisas, e por meio de quem tudo existe, em trazendo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse pelos sofrimentos o autor da salvação deles" (Heb. 2:10) ~ convinha que Ele! E espero que todos nós, tendo considerado assim abreviada e inadequadamente esta grande doutrina, digamos a mesma coisa. E o método de salvação que convinha a Ele, ao Deus Todo-poderoso.

Fonte: [ Blog Martyn L. Jones ]
.

A teologia reformada

.
Por: Alderi Souza de Matos

Logo após o início da reforma luterana, ocorreu no país vizinho ao sul da Alemanha, a Confederação Suíça, uma segunda manifestação do protestantismo. Ela ficou conhecida como Reforma Suíça ou movimen­to reformado. Seus líderes iniciais foram Ulrico Zuínglio, em Zurique (Suíça alemã), e João Calvino, em Genebra (Suíça francesa).

Graças à habilidade desses líderes, principalmente de Calvino, a "Se­gunda Reforma" teve maior difusão na Europa que os outros movimen­tos protestantes iniciados no século XVI (luterano, anabatista e anglicano). Em poucas décadas, surgiram igrejas reformadas no sul da Alemanha, na França, nos Países Baixos, na Polônia, na Hungria e nas Ilhas Britânicas, especialmente na Escócia. Esse movimento recebeu a designação de "re­formado" devido ao entendimento de que estava sendo mais profundo em sua obra de reforma que o movimento alemão ou luterano.

Ao contrário da relativa informalidade da teologia de Lutero, os re­formadores suíços se concentraram em organizar e sistematizar a nova teologia protestante. Ao lado de convicções comuns com os luteranos, eles deram novas ênfases ou elaboraram doutrinas peculiares e distinti­vas. Daí falar-se em teologia reformada ou tradição reformada, poste­riormente também conhecida como calvinista. O termo "reformado" é preferível a "calvinista" porque esse movimento teve outras fontes além do pensamento de Calvino. Além disso, seus sucessores fizeram modifi­cações sutis na teologia do reformador de Genebra. Os protestantes em geral e os reformados em particular fizeram amplo uso de dois recursos valiosos para consolidar e transmitir sua nova identidade doutrinária - catecismos e confissões de fé.

A teologia reformada é abrangente, envolvendo aspectos doutriná­rios, forma de governo eclesiástico, padrões para o culto e um modo específico de encarar questões políticas, econômicas e sociais. As princi­pais expressões dessa teologia são os escritos dos reformadores da tradi­ção suíça (Ulrico Zuínglio, João Calvino, Martin Bucer, John Knox, Teodoro Beza e outros) e os muitos documentos confessionais elabora­dos pelas primeiras gerações de reformados. Os exemplos mais significa­tivos são: os Sessenta e sete artigos de Zuínglio (1523), a Primeira confissão helvética (1536), a Confissão de Genebra (1536), o Catecismo de Genebra (1542), a Confissão galicana (1559), a Confissão escocesa (1560), a Confis­são belga (1561), o Catecismo de Heidelberg (1563) e a Segunda confissão helvética (1566). São especialmente importantes a Confissão de Fé e os Catecismos elaborados pelos calvinistas ingleses - os puritanos - na Assembleia de Westminster (1643-1648).

Algumas ênfases especiais da teologia reformada são a plena sobera­nia de Deus, a eleição ou predestinação, o livre-arbítrio entendido como livre agência, a soteriologia monergista que reconhece a prioridade da iniciativa divina, o conceito simbólico dos sacramentos, a noção do pacto (das obras e da graça) e a importância da lei de Deus. Essa teologia é abraçada particularmente pelas igrejas presbiterianas, e também por muitas igrejas congregacionais e batistas.

Outras ênfases da tradição reformada são o governo representativo por meio dos presbíteros e de concílios (presbitério, sínodo e assembleia geral), as duas classes de oficiais (presbíteros e diáconos) e a simpli­cidade e solenidade do culto em virtude do princípio regulador (somente são admissíveis no culto os elementos prescritos pelas Escrituras). As principais áreas de divergência teológica com Lutero foram o entendi­mento da lei de Deus e a teologia sacramental.
_________________________
Fonte: Fundamentos da Teologia Histórica, Alderi Souza de Matos, Ed. Mundo Cristão, pág. 148-149. Extraído do site: [ Eleitos de Deus ]

Eu também mudei

.
Augustus Nicodemus Lopes

Seria uma grande tolice da minha parte negar que as pessoas mudam no decorrer dos anos. Eu mesmo já mudei de opinião em questões teológicas algumas vezes. Quando me converti, pela graça de Deus, aos 22 anos, era um zeloso arminiano dispensacionalista. A leitura de Spurgeon dois anos mais tarde me curou do arminianismo e o seminário em Recife, no ano seguinte, se encarregou do dispensacionalismo. Durante o mestrado na África do Sul, quando eu já tinha 31 anos, mudei de opinião quanto ao papel do Espírito Santo no Antigo Testamento – passei a crer que Ele também habitava nos crentes da antiga dispensação da mesma forma que hoje habita nos crentes da nova. E foi nesta época que passei a acreditar na possibilidade de reavivamentos espirituais hoje. Nos próximos anos, algumas outras mudanças no entendimento de algumas passagens difíceis aconteceram. Por exemplo, passei a aceitar que Romanos 7 é mais uma descrição do homem não regenerado debaixo da lei do que a descrição autobiográfica de Paulo da vida cristã normal, como antes eu pensava.

Todavia, nenhuma destas mudanças me levou para fora do círculo do Cristianismo histórico. Nunca mudei naquelas coisas que consideramos como o núcleo essencial do Cristianismo bíblico, como a doutrina da Trindade, a plena divindade e humanidade de Cristo, a personalidade do Espírito, os atributos clássicos de Deus – imutabilidade, onipotência, onipresença e onisciência, etc. – a queda e o estado de perdição e pecado no qual se encontra toda a raça humana, a morte sacrificial e expiatória de Cristo e a salvação pela graça mediante a fé no Salvador, a sua ressurreição literal e física de entre os mortos, sua segunda vinda, o céu e o inferno como realidades pós-morte e a autoridade e infalibilidade das escrituras – para mencionar algumas. Sempre cri nestas coisas. Nunca mudei quanto a isto. Considero as mudanças que passei como progressos e um melhor entendimento de determinados pontos teológicos.

Portanto, como disse no início, eu seria um tolo em pensar que as pessoas não mudam. Só que, na minha opinião, nem sempre estas mudanças teológicas são salutares. Em muitos casos, as pessoas mudaram tanto a ponto de não poderem mais ser identificadas, a não ser remotamente, com o Cristianismo bíblico. É isto que a Bíblia chama de apostasia.

Jesus falou daqueles que crêem por um tempo, mas depois se desviam (Lc 8.13). Conheci vários assim. Eles mudaram. Um caso em particular, que me lembro, foi de um jovem cristão ardoroso que depois da leitura de livros de autores ateus e agnósticos mudou de opinião quanto ao Cristianismo, alegando ter recebido novas luzes da ciência e da razão. Largou definitivamente a fé cristã e virou agnóstico.

Paulo adverte Timóteo contra aqueles que se desviam do “amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia,” e que se perdem “em loquacidade frívola” – isto é, em discussões inúteis (1Tm 1.5-6). A referência é provavelmente a falsos mestres que estavam ensinando doutrinas erradas nas igrejas, de onde haviam saído, após mudarem de opinião sobre o Evangelho. É a estes mesmos que o apóstolo se refere, quando menciona os que "apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência” (1Tm 4.1-2). Eram pessoas que haviam começado como cristãs, mas mudaram com o tempo, a ponto de não poderem ser mais considerados como tais. Paulo ainda menciona mulheres que haviam se desviado da fé e seguido a Satanás – certamente não uma mudança para melhor (1Tm 5.15), obreiros que se desviaram da fé por amor ao dinheiro (1Tm 6.10) e outros que se desviaram por professar a gnose, o saber mundano (1Tm 6.21). Talvez Paulo se refira ao mesmo grupo de pregadores itinerantes que havia antes pertencido às igrejas cristãs.

Ele cita especificamente dois líderes cristãos, Himeneu e Fileto, e os considera como apóstatas, por professarem e ensinarem contrariamente ao ensino apostólico da ressurreição (2Tm 2.18). O perigo da apostasia e do desvio doutrinário – acarretados pelas mudanças – é motivo de alerta de outros escritores neotestamentários, como Tiago (Tg 5.19) e o autor de Hebreus (Hb 2.1 e 12.25).

Todas estas pessoas acima mudaram. Do ponto de vista delas, provavelmente, esta mudança representou uma liberação, uma melhora, um crescimento, um progresso. Libertaram-se das antigas peias da fé e da ética. Sem restrições impostas pela teologia, sentiam-se agora livres para pensar da maneira que achavam melhor e agir de acordo.

Conhecemos vários casos de pessoas que mudaram em nossos dias. Recentemente a imprensa noticiou, se baseada em fatos reais ou não, não sabemos - a mudança ocorrida com o pastor João de Deus, da Assembléia de Deus, na Paraíba, que virou muçulmano. Faz três anos fomos surpreendidos com a mudança ocorrida com Francis Beckwith, pastor evangélico americano, presidente da Evangelical Theological Society, que mudou e virou católico. Outra mudança que surpreendeu o mundo evangélico foi do famoso estudioso evangélico conservador Bill Barclay, autor de renomado comentário do Novo Testamento, um clássico usado por gerações de seminaristas e pastores – mudou e virou universalista ao final de sua vida, afirmando que todos os homens, no fim, seriam salvos. Como eu disse, algumas das mudanças acontecidas com líderes cristãos acabam empurrando-os para fora do Cristianismo bíblico, ou deixando-os bem em cima da risca.

Acho que devemos estar sempre abertos para mudar. Todavia, precisamos fazer a diferença entre mudança e apostasia. Nem toda mudança representa apostasia e desvio da fé. A Reforma protestante, sem dúvida, começou com uma grande mudança no coração de Lutero e representou uma enorme mudança dentro do Cristianismo - para melhor, assim entendemos. Longe de ser uma apostasia, representou um tremendo retorno às Escrituras. Mas toda apostasia, sem dúvida, começa com uma mudança na mente e no coração, que durante anos vai corroendo as convicções, minando as resistências mentais e espirituais, até que uma mudança completa – e para fora da fé – venha a ocorrer. Nesta fase, o apóstata se justifica de todas as maneiras, desde apelando para as mudanças como algo natural e desejável, como rompendo abertamente com alguns pontos centrais do Cristianismo histórico nos quais antes acreditava. O próximo passo, por coerência, é assumir um estado perpétuo de mudança, sem poder afirmar absolutamente nada com convicção, e impondo-se uma existência de metamorfose eterna.

Eu prefiro ficar com o lema da Reforma, que a Igreja sempre está se reformando e com ela, seus membros –, mas sempre à luz da Palavra de Deus. Aqui Lutero nos é útil mais uma vez. Como ele, estamos prontos a mudar, desde que convencidos pela luz que emana da Palavra de Deus, sem nos desviarmos dela nem para um lado nem para o outro.

A Onda... Evangélica!

.

“Com ou sem religião, pessoas boas farão coisas boas e pessoas ruins farão coisas ruins. Mas para pessoas boas fazerem coisas ruins é preciso religião.” Steven Weinberg

Estes dias assisti a um filme que se chama “A Onda”, é um filme de produção alemã, que trata da história de um professor de uma escola pública que bola uma estratégia mirabolante como forma de provar suas teorias não ortodoxas. Ele convoca os seus alunos há viver uma semana com algumas regras, a fim de formarem um grupo distinto, sem diferenças, onde todos vestiriam naquela semana a mesma cor, falariam dos mesmos assuntos, e andariam juntos a se ajudar. Logo como grupo se cognominou como “A onda”, só que o interessante é que com o decorrer da semana o que era um exercício de sala de aula se tornou uma bola de neve descontrolada, ao ponto de no final da semana um grupo gigante de pessoas estarem formando um grupo paramilitar, que só veio a acabar com o suicídio de um aluno integrante do grupo, devido a tentativa do professor em parar aquele movimento.

Para mim pessoalmente foi chocante a experiência, pois pouco a pouco comecei a me identificar com as experiências vividas pelos adolescentes, e vou citá-las para vocês. A convivência daquele grupo como uma proposta de vida onde as diferenças sociais seriam extintas, onde não haveria mais classes sociais e desigualdades, tomou uma proporção na mente daqueles jovens, que logo eles sentiram um sentimento de superioridade de propósito, e passaram a um segundo estagio de descriminação dos diferentes. Em sala de aula havia uma proposta de ordem, que era passada como uma idéia de harmonia, onde a partir de uma obediência cega entendia-se que estes, eram padrões eram significado de fidelidade a um propósito maior. Logo sob um pretexto de harmonia e singularidade, como que entorpecidos por uma droga o grupo começou a exercer atos de barbárie contra os diferentes, e estipular os limites de liberdade para os outros colegas da escola.

Por mais que pareça cômico e até meio trágico, as semelhanças não são mera coincidência, mas impressões do que uma filosofia de conquista que pretexte melhoras em base da exclusão é verdadeiramente destrutiva, não só para os meios onde são exercidas, mas acima de tudo para as pessoas que participam. Por minha experiência pessoal, posso dizer sem medo de que os evangélicos são campeões em vender estes perfis de ideologia. Conquistam adeptos sobre pretextos de uma vida melhor, afirmando que a partir da agregação ao grupo, passa-se a ser uma “raça superior”, ou na linguagem evangélica; “nação santa”, “sacerdotes”, “reis”, “Príncipes”, e sobre esta idéia constroem uma realidade que oprime o diferente. Nestes meios assim como nestes sistemas ditatoriais, não existe espaço para questionamentos e discordâncias, a fidelidade é exigida acima de tudo, fidelidade esta que também é sinônimo de comungar com atos de barbárie que são tidos como justiça, endossadas pelos líderes como vontade divina.

Dentro destes ambientes ilusórios, multidões que caíram no enredo deste mundo fictício criado por religiosos fanatizados, vivem uma inverdade que mais é uma cadeia, pois nele se negam a questionar a imperfeição e desconexão com a realidade do sistema ao qual estão inseridos. Os lideres por sua vez, não aceitam serem questionados, e impõem-se de forma massiva sobre seus opositores, e quando sofrem resistência perdem o rumo de suas convicções, partindo para atos de ignorância ou para perda de suas referencias. Este sistema “evangélico” é uma verdadeira ditadura religiosa, que a meu ver às vezes passa a ser pior que uma filosofia “talibã” ou aristocracia radical. Pois sobre uma mensagem de bondade e amor ao próximo, subjetivamente distorcem a mesma, tornando-se instrumentos de segregação e ganância.

Talvez para uma mente mais evangélica o meu texto vai soar como heresia ou blasfêmia, mas para quem foi vitima do mesmo, trará uma compreensão e capacidade maior de lidar com esta realidade. Sim por mais triste que seja grande parte de nós cai no “conto do vigário”, e sobre um falso pretexto de bondade, uma ânsia de encontro com Deus, acaba por cometer atrocidades até o dia em que somos vítimas das mesmas. Creio que nosso maior desafio “e falo por experiência pessoal”, é encontrar Deus em meio a toda esta bagagem e informações as quais fomos por anos condicionados. De todas as minhas experiências, em toda minha caminhada, posso afirmar com garantia que Deus não é propriedade exclusiva dos evangélicos.

Quero desafiar a você a um requestionar de valores, a parar e perceber se você não é apenas mais um integrante da “Onda”, que esta tão cego ao ponto de não ter mais empatia e tato para sentir que existe um mundo a sua volta. Deus não criou você para ser um covarde que foge da vida, mas alguém que vive o seu “mundo” com caráter, sem precisar da proteção da “onda” ou da indicação de cegos guiando cegos, para ser apenas humano.

Bem e Paz

Leandro Barbosa


Fonte: [ Emeurgência ]

Carta a um jovem cristão que está se enchendo de teologia e esvaziando-se de Deus

.
[Dominar temas difíceis da teologia não é garantia nenhuma de felicidade espiritual. Muito pelo contrário: na maioria das vezes o conhecimento leva a um verdadeiro desânimo de alma. “Porque”, diz o Pregador, “na muita sabedoria há muito enfado; e quem aumenta ciência aumenta tristeza” (Ec 1.18). Recentemente recebi um e-mail de um amigo que, a despeito de seu talento como dedicado estudioso e expositor das Escrituras, hoje encontra-se no meio de uma medonha neblina espiritual – em suas próprias palavras, “o vento está balançando o meu barco, e só consigo ver Jesus dormindo”. Ele me pediu ajuda, o que resolvi fazê-lo escrevendo a carta que se segue, que é fictícia apenas em uns poucos detalhes. Espero que ela também possa servir para a edificação de outros que estejam passando por semelhante situação].

***

Caro Beltrão (*),

Seu e-mail me deixou muito preocupado, e faço questão de começar logo nesse tom para que você perceba a seriedade que o assunto encerra. Você bem sabe que tentar tapar o sol com a peneira não é do meu feitio. Portanto, não espere apenas leves chuviscos, mas prepare-se também para estrondosas trovoadas.

Quando nos reencontramos pela última vez fiquei sobremodo alegre em ver teu entusiasmo e empenho no estudo das Escrituras e da sã doutrina. Mesmo sendo ainda muito jovem, você já despontava na igreja como um exemplo a ser seguido. Em meu íntimo eu dava graças a Deus por existirem pessoas assim como você em nosso meio, sedentas por reforma e reavivamento espirituais. Mas ao mesmo tempo isso me gerava apreensão, e simultaneamente eu também orava a Deus para que sua história não tomasse o curso de tantas outras que terminaram em tragédia, a saber, a de jovens que, de tanto se encher de teologia, acabaram se esvaziando de Deus. Escrevo-te com o coração apertado, meu caro, lembrando momentos de minha própria trajetória, e dos perigos que ainda teimam em rondar por aqui.

Você me disse que, de uns tempos pra cá, tem sido atormentado por uma tristeza e certo desânimo decorrentes, vamos dizer assim, da “falta de experiências com Deus”. Penso que você esteja se referindo não àquele tipo de experiência mística tão comum nos círculos sensacionalistas da “fé”, mas à genuína comunhão espiritual ensinada nas Escrituras. Você cita uma pregação do Paul Washer (“Você é amado”), na qual ele diz que Deus por um tempo se afasta de jovens ministros a ponto de eles passarem por vários fracassos até chegarem ao momento de declararem o que Pedro diz em João 6:69, para dizer que se sente inseguro de se colocar na mesma posição deles. Ou seja, você parece duvidar que há um propósito corretivo de Deus por trás de tudo isso que você está passando, e o fato de você pensar assim é realmente preocupante. Sei que você até pode ter dito isto como que um desabafo, mas não é bom que fiquemos alimentando coisas desse tipo em nossas mentes, pois do contrário chegará o dia em que estas coisas solaparão de tal forma aquilo que nos convêm pensar (cf. Fp 4.8) que não nos restará mais nenhuma fagulha de esperança ou fé nas quais possamos buscar apoio. Não devemos dar lugar para que o diabo semeie incredulidade em nossos corações!

Mas você foi bem específico em uma coisa: você disse que as coisas pioraram depois de uma pregação sua em que você falou “algumas palavras fortes” à igreja. É muito comum jovens como nós se encantarem com os livros que lemos ou com as pregações que ouvimos, ainda mais quando as mesmas são “bombásticas” ou “chocantes”. “Nossa igreja precisa refletir nisso!” – é o que geralmente exclamamos. Mas o problema é quando começamos a nos enquadrar perfeitamente no tipo de pessoa criticada por nossos pregadores e escritores favoritos. E o pior de tudo é quando os pregadores somos nós! Agora entendo perfeitamente porque você se sente como um copo pela metade – cheio e vazio ao mesmo tempo, e do seu medo de ser “vomitado” por Deus, que detesta os mornos (cf. Ap 3.16). Essa sua preocupação é, de fato, legítima. Mas sabe o que é pior ainda, Beltrão? É quando, depois de pregarmos (ou até mesmo antes!), voltamos exatamente para a mesma lama à qual tanto advertimos nossos ouvintes para que saíssem. É como se a Palavra não surtisse nenhum efeito sobre nós, fazendo com que nos sintamos como os “decepcionados do Último Dia”, que ouvirão do próprio Cristo: “apartai-vos de mim, malditos!” (Mt 25.41-46).

Você também fala que está sendo “severamente tentado”. Bem, há diversas áreas em que um homem (independente se jovem ou não) pode ser tentado, mas penso que a maior delas seja a área sexual. Se não é bem a isto que você esteja se referindo, desculpe-me, mas permita-me tecer alguns comentários a respeito. Jaime Kemp costuma dizer que o homem enfrenta três grandes “barras” em sua vida (ou seja, três grandes tentações): a “barra” de ouro (dinheiro); a São João da Barra (uma marca de cachaça – álcool); e a “barra” de uma saia (a libido, ou o sexo). Novamente, penso que esta última seja a que mais nos incomoda, e acho que nem preciso provar isto. Sinceramente, Beltrão: não alimente esse tipo de coisa (falo da libido pecaminosa), porque é algo que vicia tanto que seus vestígios ainda permanecem na memória. Estamos lidando com algo realmente terrível – não brinque com isso; não teste a si mesmo.

De fato, toda essa série de coisas faz com que não sintamos mais aquela alegria espiritual que tanto marcou o início de nossa caminhada. Passamos a orar menos, nos alimentar menos da Palavra, e a adorar menos. Consequentemente, ficamos menos felizes, menos sábios (embora “mais” inteligentes) e menos próximos de Deus. É possível reverter isso?

Há uma passagem na Escritura que revela e muito como Deus nos molda à Sua vontade. É sobre quando Jesus avisou a Pedro que este o negaria. Mateus, Marcos e João descrevem apenas o aviso propriamente dito (Mt 26.31-35; Mc 14.27-31; Jo 13.36-38). Mas Lucas nos dá um “detalhezinho” interessantíssimo. Ele não apenas relata Jesus avisando a Pedro sobre sua negação, mas também revelando àquele pescador o que estava acontecendo nos bastidores da História:

Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos (Lc 22.31, 32).

Notou como são as coisas? Satanás fez com Pedro o mesmo que houvera feito com Jó. Ao contrário do que muita gente pensa, o objetivo do diabo não era o de testar a Pedro, e sim o de destruí-lo. Quem está provando a Pedro é o próprio Deus, que usou o diabo (Lutero dizia que o diabo é “o diabo de Deus”) como um instrumento para o aperfeiçoamento da fé do discípulo. Mas Pedro só não perdeu de vez a fé graças à intercessão de Cristo! Ele orou para que a fé do seu amado discípulo não se esvaísse, e ainda incumbiu-o com a missão de fortalecer a outros. Este foi o motivo pelo qual Pedro chorou amargamente após ter negado a Cristo, e não por remorso (igual a Judas Iscariotes), mas por arrepender-se verdadeiramente como Jesus havia predito. É o próprio Pedro quem vai dizer mais tarde que o diabo, nosso adversário, “anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar”. Por este motivo é que ele nos recomenda sobriedade e vigilância (1Pe 5.8).

Beltrão. Você tem toda razão de estar “assustado” com essa situação. Mas não se desespere! Paul Washer está certo quando disse que Deus permite que jovens líderes passem por caminhos como o de Pedro com vistas ao próprio aperfeiçoamento deles. Às vezes somos exatamente igual ao impulsivo Simão Pedro: nos sentimos robustos, inabaláveis e “santos” demais, até que Deus dá uma “rasteira” em nosso ego, fazendo com que nos apoiemos única e exclusivamente em Seu poder. E Ele faz isto não por sadismo ou coisa parecida, mas por amor, pois ele disciplina a todos quantos ama, e somente a estes (Hb 12.6). Mas é necessário que haja arrependimento – mudança de mente e conduta. Deus nos disciplina, continua o escritor aos Hebreus, “para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade” (Hb 12.10). Não queira pagar para ver o que acontece com aqueles que fingem se arrepender. Deixe que os próprios exemplos da Bíblia e da história falem.

Espero não ter te desapontado, Beltrão. Pelo contrário, espero ter te ajudado. Nem tudo que falei acima se refere a você diretamente, mas procurei ser bem genérico, uma vez que seu caso é semelhante ao de muitos. Saiba que este que vos escreve também enfrenta as mesmas coisas que você. Às vezes penso que não há mais solução, que o pecado vai finalmente triunfar. Mas aí eu olho para a cruz. Ah, a cruz! Que seria de nós sem ela, ou melhor, sem Aquele que sobre ela padeceu, mas ressuscitou para nos assegurar a vitória final? Mas também não adianta ficar somente contemplando não – é preciso que oremos mais, que busquemos mais a Deus, que nos alimentemos mais da Sua Palavra e que desejemos mais e mais se parecer com Aquele que nos amou primeiro.

Trace seu próprio roteiro disciplinar. Pergunte a si mesmo do quê você mais precisa – se de bons livros de teologia ou de uma vida consagrada. Não que os livros sejam inúteis, óbvio que não! Mas que sua busca pela ortodoxia não ofusque sua busca pela ortopraxia.

Um grande abraço, e que Deus te ajude!

Att.

Leonardo.

Soli Deo Gloria!

P.S.: Para sua reflexão adicional, medite na canção abaixo (“Letra morta”, de Jorge Camargo):


_____________________________________

(*) Beltrão é um nome fictício.

Autor: Leonardo Bruno Galdino
Fonte: [ Óptica Reformata ]

Não se esqueça do Robin

.
Por: Rodrigo de Lima Ferreira

A bênção da internet é saber como éramos bregas e não sabíamos! Recentemente assisti a um filme do Batman, dos anos 60, baseado na famosa série com Adam West (Batman) e Burt Ward (Robin). Era engraçado ver um Batman meio barrigudinho e um Robin com aquele cabelo entupido de gel. A cena mais ridícula no filme foi a em que Batman, pendurado em uma escada de helicóptero, sobrevoando o mar aberto, é atacado por um tubarão e então contra-ataca com um repelente de tubarões em spray retirado do seu batcinto de utilidades!

Na minha imaginação infantil, quando o seriado era exibido na TV, era impossível ter o Batman sem o Robin. E sem também aquele batmóvel maravilhoso, mas esta é outra história. Portanto, aonde o Batman ia, o Robin ia atrás.

Nos tempos de Jesus também havia uma dupla dinâmica. Não era formada por um protótipo de Batman e Robin, mesmo porque o morcego era animal imundo perante a Lei. Mas era a dupla dinâmica formada por fariseus e saduceus.

Os fariseus são constantemente lembrados hoje em dia. Não há ofensa maior que chamar alguém de fariseu. Isso porque fariseu é entendido como alguém intransigente, cabeça dura ou, conforme disse Rubem Alves, seguidor do protestantismo de reta doutrina, onde o que importa é a letra da Lei, não o seu espírito. Segundo o fariseu, o que vale é a correta interpretação da Lei, dada por ele mesmo, e não ela em si.

Mas os saduceus formavam um grupo diferente. Eram judeus que tinham um tipo de fé diferente. Não criam na ressurreição. Diziam que a tradição oral não valia como a tradição escrita. Eram pessoas, conforme nos diz Flávio Josefo, que criam apenas no livre-arbítrio aqui e agora.

O mais interessante é que, para pegar Jesus, eles sempre se alinhavam com os fariseus, que criam de modo diametralmente oposto. Para um “bem comum”, ou melhor, mal comum, aceitavam a união com um pretenso inimigo.

Os saduceus, embora menos citados na Bíblia, eram tão perniciosos quanto os fariseus em sua busca em perseguir Jesus. Sua perniciosidade residia não só em sua hipocrisia e em seu “colaboracionismo” com o farisaísmo, gerando uma distorção do conceito de co-beligerância de Francis Schaeffer. Sua malignidade residia principalmente em sua incredulidade latente.

Vemos hoje o grande mal que estruturas doentes fazem com as pessoas. A cada dia que passa aumenta o número de pessoas traumatizadas com igrejas, lideranças e pastores. Tal como um alérgico em um ambiente mofado, esses indivíduos começam a agonizar com a simples lembrança de algo que já foi belo, mas que hoje necessita urgentemente de uma reforma e um avivamento (citando, novamente, Schaeffer). Essas pessoas necessitam de amparo, comunhão e restauração do verdadeiro Deus e da verdadeira Igreja, que é seu corpo e que reside nas igrejas e fora delas.

Mas, tal como lobos que acompanham rebanhos machucados, os saduceus modernos espreitam tais pessoas, afirmando seu egoísmo como parte inerente ao reino, dizendo que a “igreja sou eu”, quando, na verdade, a igreja nunca é um indivíduo apenas. Estes saduceus apresentam sua incredulidade em uma capa estranha de piedade mundanizada e santidade suja, crendo transmitir o “verdadeiro Evangelho”, como se os últimos dois mil anos tivessem gerado apenas espertalhões e heréticos, mas que agora a realidade estava revelada a eles. Movimentos heréticos, como os Testemunhas de Jeová e os Mórmons, tiveram início bem semelhante. Em seu descaminho, semeiam apenas a desgraça, a arrogância, a amargura, o cinismo, a incredulidade e o sarcasmo. Tudo em nome de Jesus.

Jesus condenou tanto os fariseus quanto os saduceus: “Vocês erram, não conhecendo as Escrituras” (Mt 22.29). E são essas mesmas Escrituras, tão vilipendiadas hoje em dia, que testemunham de Jesus (Jo 5.39). Na busca pela restauração da igreja, a incredulidade e a carnalidade humanas nunca podem ser alternativas viáveis. É hora, portanto, de buscarmos a Palavra, a santidade e o Senhor, deixando os modernos saduceus de lado. São guias cegos, e não quero que ninguém seja guiado ao precipício (Mt 15.14). Abra bem os olhos e nunca se esqueça do Robin!

Rodrigo de Lima Ferreira, casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, hoje pastoreia a IPI de Rolim de Moura, RO. revdigao.wordpress.com
Fonte: [ Ultimato ]

.

Por que estou comprometido em ensinar a Bíblia

.

Jamais aspirei ser conhecido como um teólogo, um apologista ou um erudito. Minha paixão é ensinar e pregar a Palavra de Deus. Embora tenha abordado questões teológicas e controvérsias doutrinárias, em alguns de meus livros, nunca o fiz sob o ponto de vista da teologia sistemática. Pouco me inquieta o fato de que algum assunto doutrinário se enquadra nesta ou naquela tradição teológica. Desejo saber o que é bíblico. Todas as minhas preocupações estão voltadas às Escrituras, e meu desejo é ser bíblico em todo o meu ensino.

Pregue a Palavra

Esta é a atitude com a qual abracei o ministério desde o início. Meu pai é um pastor, e, quando lhe disse, há alguns anos, que senti haver Deus me chamado para o ministério, ele me presenteou uma Bíblia em que havia escrito essas palavras de encorajamento: “Pregue a Palavra!” Esta simples frase se tornou um estímulo em meu coração. Isso é tudo que tenho me esforçado para fazer em meu ministério — pregar a Palavra.

Os pastores de nossos dias sofrem tremenda pressão para fazerem tudo, exceto pregar a Palavra. Eles são instruídos pelos eruditos do Movimento de Crescimento de Igreja que têm de alcançar as “necessidades sentidas” dos ouvintes. São encorajados a se tornarem contadores de histórias, comediantes, psicólogos e preletores que motivam. São aconselhados a evitarem assuntos que os ouvintes acham desagradáveis. Muitos já abandonaram a pregação bíblica em favor de mensagens devocionais que têm o objetivo de fazer as pessoas sentirem-se bem. Alguns têm substituído a pregação por dramatização e outras formas de entretenimento.

Mas o pastor cuja paixão é completamente bíblica tem apenas uma opção: “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4.2).

Quando Paulo escreveu essas palavras a Timóteo, ele acrescentou este aviso profético: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fá- bulas” (vv. 3,4).

Com certeza, a filosofia de ministério do apóstolo Paulo não incluía a teoria de “dar às pessoas o que elas desejam”. Ele não instou Timóteo a realizar uma pesquisa a fim de descobrir o que as pessoas queriam; mas ordenou que ele pregasse a Palavra, com fidelidade, repreensão e paciência.

Na verdade, ao invés de insistir que Timóteo idealizasse um ministério que acumularia elogios do mundo, Paulo advertiu o jovem pastor a respeito de sofrimentos e dificuldades! O apóstolo não estava ensinando Timóteo sobre como ser bem-sucedido; estava encorajando-o a seguir o padrão divino. Paulo não o estava aconselhando a buscar prosperidade, poder, popularidade ou qualquer outro conceito mundano de sucesso. O apóstolo instava o jovem pastor a ser bíblico, apesar das conseqüências.

Pregar a Palavra nem sempre é fácil. A mensagem que somos exigidos a pregar é, com freqüência, ofensiva. O próprio Senhor Jesus é uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo (Rm 9.33; 1 Pe 2.8). A mensagem da cruz é uma pedra de escândalo para alguns (1 Co 1.23; Gl 5.11) e loucura para outros (1 Co 2.3).

Não temos permissão para embelezar a mensagem ou moldá-la de acordo com as preferências das pessoas. O apóstolo Paulo deixou isto claro, ao escrever a Timóteo: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2 Tm 3.16 — ênfase acrescentada). Esta é a mensagem a ser proclamada: todo o conselho de Deus (At 20.27).

No primeiro capítulo de sua segunda carta a Timóteo, Paulo lhe dissera: “Mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouviste” (2 Tm 1.13). O apóstolo se referia às palavras reveladas por Deus nas Escrituras — todas elas. Paulo instou Timóteo a guardar o tesouro que lhe havia sido confiado. No capítulo seguinte, o apóstolo aconselhou Timóteo a estudar a Palavra e manejá-la bem (2 Tm 2.15). E, no capítulo 3, Paulo o aconselhava a proclamá-la. Deste modo, todo o ministério de um pastor fiel gira em torno da Palavra de Deus — manter, estudar e proclamar.

Em Colossenses, Paulo, ao descrever sua própria filosofia de ministério, escreveu: “Da qual me tornei ministro de acordo com a dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de Deus” (Cl 1.25 — ênfase acrescentada). Em 1 Coríntios, ele foi um passo além, afirmando: “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1 Co 2.1-2). Em outras palavras, seu objetivo como pregador não era entreter as pessoas com um estilo retórico ou diverti-las com esperteza, humor, novos pontos de vistas ou metodologia sofisticada; o apóstolo simplesmente pregou a Cristo.

A pregação e o ensino fiel da Palavra de Deus têm de ser o âmago de nossa filosofia de ministério. Qualquer outra filosofia de ministério substitui a voz de Deus pela sabedoria humana. Filosofia, política, psicologia, conselhos despretensiosos, opiniões humanas jamais são capazes de fazer o que a Palavra de Deus faz. Essas coisas podem ser interessantes, informativas, entreter as pessoas e, às vezes, serem úteis, mas elas não constituem o objetivo da igreja. A tarefa do pregador não é ser um canal para a sabedoria humana; ele é a voz de Deus para a igreja. Nenhuma mensagem humana tem o selo da autoridade divina — somente a Palavra de Deus. Como ousa qualquer pregador substituí-la por outra mensagem? Sincera-mente, não entendo os pregadores que estão dispostos a abdicarem deste solene privilégio. Por que devemos proclamar a sabedoria dos homens, quando temos o privilégio de pregar a Palavra de Deus?

Seja Fiel, Quer Seja Oportuno, Quer Não

Nossa tarefa nunca se acaba. Não apenas temos de pregar a Palavra de Deus, mas também precisamos fazê-lo apesar das opiniões divergentes que nos rodeiam. Somos ordenados a nos mostrarmos fiéis quando esse tipo de pregação for tolerado e quando não o for.

Encaremos esse fato: pregar a Palavra agora não é oportuno. A filosofia de ministério norteada por marketing, que está em voga no presente, afirma claramente que proclamar as verdades bíblicas está fora de moda. Exposição bíblica e teologia são vistas como antiquadas e irrelevantes. Essa filosofia de ministério declara: “As pessoas que freqüentam a igreja não querem mais ouvir a pregação da Palavra. A geração do pós-guerra simplesmente não agüenta ficar sentada no banco, enquanto à sua frente alguém prega. Eles são frutos de uma geração condicionada pela mídia e precisam de uma experiência de igreja que os satisfaça em seus termos”.

O apóstolo Paulo disse que o pregador excelente tem de ser fiel em pregar a Palavra, mesmo quando isso não está na moda. A expressão que ele utilizou “esteja pronto” (no grego, ephistemi) literalmente significa “permanecer ao lado”, retratando a idéia de prontidão. Era freqüentemente usada para descrever uma guarda militar, sempre a postos, preparada para o dever. Paulo estava falando sobre uma intensa prontidão para pregar, assim como a de Jeremias, o qual afirmou que a Palavra de Deus era como um fogo em seus ossos. Isto era o que Paulo estava exigindo de Timóteo: não relutância, e sim prontidão; não hesitação, e sim coragem; não mensagens que motivavam os ouvintes, e sim a Palavra de Deus.

Corrige, Repreende e Exorta

Paulo também deu a Timóteo instruções a respeito do tom de sua pregação. Ele utilizou duas palavras que têm conotação negativa e uma que é positiva: corrige, repreende e exorta. Todo ministério de valor precisa ter um equilíbrio entre coisas positivas e negativas. O pregador que falha em reprovar e corrigir não está cumprindo sua comissão.

Recentemente, ouvi uma entrevista no rádio com um pregador bastante conhecido por sua ênfase em pensamento positivo. Esse pregador tem afirmado em seus escritos que evita qualquer menção do pecado em suas pregações, porque ele acha que as pessoas, de alguma maneira, estão sobrecarregadas com excessiva culpa. O entrevistador perguntou-lhe como ele poderia justificar essa atitude. O pastor respondeu que bem cedo em seu ministério havia decidido focalizar as necessidades das pessoas e não atacar seus pecados.

Entretanto, a mais profunda necessidade das pessoas é confessar e vencer seus pecados. Portanto, a pregação que não confronta e corrige o pecado, através da Palavra de Deus, não satisfaz a necessidade das pessoas. Falas sentirem-se bem e res- ponderem com entusiasmo ao pregador. Mas isso não é o mesmo que satisfazer suas verdadeiras necessidades.

Corrigir, repreender e exortar é o mesmo que pregar a Palavra de Deus, pois estes são os ministérios que as Escrituras realizam – “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2 Tm 3.16). Observe o mesmo equilíbrio de tom positivo e negativo. Repreensão e correção são negativos, ensinar e educar são positivos.

O tom positivo é crucial também. A palavra “exorta” é para kaleo, um vocábulo que significa “encoraja”. O pregador excelente confronta o pecado e, em seguida, encoraja os pecadores arrependidos a comportarem-se de maneira cor-reta. Ele tem de fazer isso, com “paciência e longanimidade” (2 Tm 4.2). Em 2 Tessalonicenses 2.11, Paulo falou sobre exortar, encorajar e implorar, “como um pai a seus próprios filhos”. Isto freqüentemente exige muita paciência e instrução. Todavia, o pastor excelente não pode negligenciar esses aspectos de sua vocação.

Não se Comprometa em Tempos Difíceis

Existe urgência no encargo de Paulo ao jovem Timóteo: “Haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças como que sentindo coceira nos ouvidos” (2 Tm 4.3). Esta é uma profecia que lembra aquelas que encontramos em 2 Timóteo 3.1 (“Sabe, porém isto: Nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis”) e 1 Timóteo 4.1 (“O Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé”). Este, portanto, é o terceiro aviso profético de Paulo advertindo Timóteo a respeito dos tempos difíceis que estavam por vir. Observe a progressão: o primeiro aviso dizia que viria o tempo em que as pessoas se apartariam da verdade. O segundo advertia Timóteo sobre o fato de que tempos perigosos estavam vindo à Igreja. E o terceiro sugere que viria o tempo em que haveria na igreja aqueles que não suportariam a sã doutrina e, em vez disso, desejariam ter seus ouvidos coçados.

Isso está acontecendo na Igreja hoje. O evangelicalismo perdeu sua tolerância em relação à pregação confrontadora. As igrejas ignoram o ensino bíblico sobre o papel da mulher na igreja, a homossexualidade e outros assuntos. O instru- mento humano tem sobrepujado a mensagem divina. Esta é a evidência do sério comprometimento doutrinário. Se as igrejas não se arrependerem, esses erros e outros semelhantes se tornarão epidêmicos.

Devemos observar que o apóstolo Paulo não sugeriu que o caminho para alcançar nossa sociedade é abrandar a mensagem, de modo que as pessoas sintam-se confortáveis com ela. O oposto é verdade. Esse coçar os ouvidos das pessoas é uma abominação. Paulo instou Timóteo a estar disposto a sofrer por amor à verdade e continuar pregando a Palavra com fidelidade.

Um intenso desejo por pregação que causa coceira nos ouvidos tem conseqüências terríveis. O versículo 4 diz que essas pessoas “se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2 Tm 4.4). Elas se tornam vítimas de sua própria recusa em ouvir a verdade. “Se recusarão” está na voz ativa. As pessoas voluntariamente escolherão essa atitude. “Entregando-se às fábulas” está na voz passiva; descreve o que acontece a tais pessoas. Tendo se afastado da verdade, elas se tornam vítimas do engano. Ao se afastarem da verdade, tornam-se presas de Satanás.

A verdade de Deus não coça nossos ouvidos; pelo contrário, ela os golpeia e os queima. Ela reprova, repreende, convence; depois, exorta e encoraja. Os pregadores da Palavra têm de ser cuidadosos em manter esse equilíbrio.

Sempre houve nos púlpitos homens que reuniram grandes multidões porque eram oradores dotados, interessantes contadores de histórias e preletores que entretinham os ouvintes; tinham personalidades dinâmicas; eram perspicazes manipuladores das multidões, políticos populares, elaboradores de mensagens que estimulavam os ouvintes e eruditos. Esse tipo de pregador pode ser popular, mas não é necessariamente poderoso. Ninguém prega com poder, se não pregar a Palavra de Deus. Nenhum pregador fiel minimiza ou negligencia todo o conselho de Deus. Proclamar toda a Palavra – essa é a vocação do pastor.

Autor: John MacArhtur
Fonte: [ Editora Fiel ]

Lidando com filhos desobedientes

.


12 Formas de amar os vossos filhos desobedientes

O artigo que se segue foi escrito pelo meu filho Abraham, que fala com a sabedoria da experiência e das Escrituras. Li-o com lágrimas e gargalhadas. É um artigo tão emocionante que lhe perguntei logo se podia partilhá-lo com a Igreja e com, a ainda mais vasta, comunidade cristã. Não há alegria maior do que a de ver os vossos filhos a caminhar na verdade – e a expressá-la tão bem! O resto não é do Abraham. – John Piper

Muitos pais ficam com o coração partido e completamente perplexos por causa da filha ou do filho que não são crentes. Não fazem a mínima ideia por que é que a criança que criaram toma decisões tão horríveis e destrutivas. Nunca fui um desses pais, mas fui um desses filhos. Reflectindo sobre essa experiência, sugiro estas soluções para vos ajudar a alcançar os vossos filhos desobedientes.

1. Direccionem-nos para Cristo.

O verdadeiro problema dos vossos filhos rebeldes não é drogas, sexo, tabaco, pornografia, preguiça, criminalidade, maldicência, desmazelo, homosexualidade ou fazer parte de uma banda de rock punk. O verdadeiro problema é que eles não vêem Jesus com clareza. O melhor que podem fazer pelos vossos filhos—e a única razão para fazer qualquer uma das sugestões que se seguem—é mostrar-lhes Cristo. Não é um processo simples ou imediato, mas os pecados nas vidas deles, que vos inquietam e que os destroiem, só começarão a desaparecer quando eles virem Jesus de uma forma como ele realmente é.

2. Orem.

Só Deus pode salvar o vosso filho ou filha. Por isso, continuem a pedir-Lhe que se mostre a eles, de forma a que eles não possam resistir a adorá-lo.

3. Assumam que algo está errado.

Se a vossa filha rejeita Jesus, não finjam que está tudo bem.

Para todas as crianças que não são crentes, os detalhes são diferentes. Será preciso que os pais abordem cada detalhe de formas únicas. Contudo, não é aceitável o facto de não os abordarem de todo. Se o vosso filho não é crente, não ignorem esse facto. As férias podem ser mais fáceis, mas a eternidade não o será.

4. Não esperem que eles sejam como Cristo.

Se o vosso filho não é cristão, ele não vai actuar como tal.

Vocês sabem que ele abandonou a fé, portanto não esperem que ele viva pelas normas segundo as quais o criaram. Por exemplo, vocês podem sentir-se tentados a dizer: «Sabemos que é difícil para ti acreditar em Jesus, mas não consegues pelo menos admitir que embebedares-te todos os dias é pecado?»
Se ele está com dificuldade em acreditar em Jesus, então há muito pouco significado em admitir que a embriaguez está errada. Querem protegê-lo, pois. Mas a falta de crença dele é o problema mais perigoso—e não o facto de andar sempre em festas. Por mais que o comportamento de falta de crença do vosso filho se mostre, façam sempre questão de se concentrarem mais na doença do coração do que nos sintomas da doença.

5. Recebam-nos de braços abertos em casa.

Porque a preocupação maior não são as atitudes do vosso filho, mas sim o coração dele, não criem muitas exigências para que ele volte para casa. Se ele sentir alguma suspeita ao estar convosco, isso é Deus a dar-vos uma oportunidade de o amar de volta para Jesus. Obviamente há algumas instâncias em que devem dar ultimatos: «Não entres nesta casa se estiveres...». Porém, instâncias como essas acontecem raramente. Não reduzam as probabilidades de estar com o vosso filho ao impor demasiadas regras.

Se a vossa filha cheirar a erva ou a tabaco, borrifem o casaco dela com 'Febreze' e mudem os lençóis quando ela sai, mas deixem-na vir para casa. Se descobrirem que ela está grávida, comprem-lhe ácido fólico, levem-na à ecografia na 20.ª semana de gravidez, protejam-na do Planeamento Familiar e, custe o que custar, deixem-na vir para casa. Se o vosso filho ficar falido porque gastou o dinheiro todo que lhe emprestaram em mulheres da vida e bebidas caras, então perdoem-lhe a dívida como também vocês foram perdoados; não lhe deêm mais nenhum dinheiro e deixem-no vir para casa. Se ele não aparece há uma semana e meia porque tem ficado em casa da namorada peçam-lhe para não ir mais e, deixem-no vir para casa.

6. Incentivem-nos mais vezes do que as que os repreendem.

Sejam gentis com o desapontamento.

O que mais vos preocupa é o facto do vosso filho se estar a destruir a si próprio, e não o facto de ele estar a quebrar as regras. Tratem-no de forma a que ele perceba isso. Provavelmente ele sabe—principalmente se foi criado como cristão—que o que anda a fazer está errado. E, definitivamente, ele sabe que vocês pensam isso. Portanto, o vosso filho não precisa que vocês lho digam. Ele precisa de saber como vocês vão reagir ao mal dele. A vossa indulgência bondosa e esperança dolorosa mostrar-lhe-ão que vocês confiam realmente em Jesus.

A consciência dele, por si só, pode condená-lo. Os pais devem permanecer compreensivos e firmes, vivendo sempre na esperança de que o filho volte.

7. Façam com que os vossos filhos contactem com crentes que conseguem aproximar-se mais deles.

Há dois tipos de acesso ao vosso filho que podem não conseguir ter: geográfico e relacional. Se o vosso filho desobediente vive longe, tentem encontrar um crente convicto na zona onde ele vive e peçam-lhe para contactar o vosso filho. Isto pode parecer intrometido, estúpido ou embaraçoso para ele, mas vale a pena—especialmente se o crente que encontrarem se consegue relacionar também emocionalmente com o vosso filho numa forma que vocês não podem.

A distância nas relações pode também ser um efeito secundário do abandono da fé por parte do vosso filho, portanto a vossa relação será ténue e deve ser protegida, se for possível. Mas uma repreensão dura é necessária na mesma.

É aqui que, outro crente com acesso emocional ao vosso filho, pode ser muito útil. Se há um crente em quem o vosso filho confia e, talvez até com quem goste de estar, então esse crente tem a plataforma para dizer ao vosso filho—de uma forma a que ele preste atenção—que ele está a ser um idiota. Isto pode soar severo, mas precisamos muitas vezes de uma chamada de atenção, e as pessoas em quem confiamos são normalmente as únicas que conseguem dar-nos uma repreensão dolorosa de forma a ser um presente para nós.

Muitos miúdos rebeldes fariam bem em ouvir que estão a ser tolos—e é muito raro que os pais lhes digam isto de forma a ajudá-los—portanto, tentem manter outros cristãos nas vidas dos vossos miúdos.

8. Respeitem os amigos dos vossos filhos.

Honrem o vosso filho desobediente da mesma forma que honrariam qualquer outro descrente. Eles podem andar com grupos com os quais vocês nem pensariam em falar ou até mesmo olhar, mas tratam-se dos amigos do vosso filho. Respeitem isso—mesmo que o relacionamento se baseie no pecado. Eles são más influências para o vosso filho, sim. Mas ele também é má influência para eles. Nada se resolverá pelo facto de tornarem evidente que não gostam de quem anda com quem.

Quando o vosso filho aparece com outra namorada para uma festa de aniversário familiar—uma pessoa que nunca viram e que provavelmente nunca mais vão ver—sejam hospitaleiros. Ela também é a filha desobediente de alguém, e ela também precisa de Jesus.

9. Enviem-lhes e-mails.

Agradeçam a Deus pela tecnologia que lhes permite estar tão facilmente presentes nas vidas dos vossos filhos!

Quando lerem algo na Bíblia que os incentive e os ajude a amar mais Jesus, escrevam-no e enviem-no ao vosso filho. A melhor exortação para eles são os exemplos positivos da alegria de Cristo na vossa própria vida.

Não entre em stress quando estiver a elaborá-los, como se cada um deles precisasse de ser unicamente poderoso. Apenas tirem um após o outro, e deixem que o efeito cumulativo da vossa satisfação em Deus se reuna na caixa de correio electrónico do vosso filho. A palavra de Deus nunca é proclamada em vão.

10. Levem-nos a almoçar fora.

Se possível, não deixem que a única interacção com o vosso filho seja apenas electrónica. Passem tempo juntos, cara a cara, se puderem. Podem pensar que isto é desconfortável e stressante, mas acreditem que é pior estar no lugar do vosso filho—ele está a viver esse mesmo desconforto, mas com culpa. Portanto, se ele se quer encontrar com vocês para almoçar, agradeçam a Deus, e façam uso dessa oportunidade.

É quase hipócrita falar sobre a rotina dele, porque aquilo que vos importa realmente é a vida eterna dele; mas tentem na mesma. Ele precisa de saber que se importam com tudo o que lhe diz respeito. Então, antes de acabar de almoçar, rezem para que o Senhor lhes dê a coragem de perguntar sobre a alma dele. Não sabem como ele vai responder. Será que ele vai revirar os olhos como se vocês fossem idiotas? Será que se vai zangar e ir embora? Ou será que Deus tem trabalhado nele desde a última vez que falou com ele? Se não perguntar, nunca vai saber.

(Eis aqui uma nota para os pais de crianças pequenas: estipulem saídas regulares para irem comer fora com os vossos filhos. Não só será uma experiência valiosa para ambos, como também, se alguma vez os vosso filhos entrarem na crise da insubordinação, a tradição de se encontrarem com eles já existirá e não será estranho convidá-los para ir comer fora. Se o filho estiver habituado, desde pequenino, a ir comer fora com o pai aos Sábados, será muito mais difícil para ele recusar um convite do pai—mesmo para um confiante rapaz de 19 anos.)

11. Interessem-se por aquilo que eles querem conseguir.

É provável que se a vossa filha está a rejeitar Cristo de propósito, então a forma como ela passa o tempo irá provavelmente decepcioná-los. Contudo, encontrem valor nos interesses dela, se possível, e incentivem-na. Vocês foram assistir às peças da escola dela e aos jogos de futebol quando ela tinha 10 anos; o que poderão fazer agora que ela tem 20 para mostrar que realmente ainda se interessam pelos interesses dela?

Jesus passou tempo com cobradores de impostos e prostitutas, e nem sequer era familiar deles. Imitem Cristo sendo o tipo de pais que poem os tampões dos ouvidos no bolso e que vão para o centro da cidade, à pequena discoteca fria e húmida, onde vai ser o espectáculo de lançamento do CD da vossa filha. Incentivem-na e nunca párem de rezar para que ela comece a usar os dons dela para a glória de Jesus, em vez de para a sua própria glória.

12. Apontem-lhes Cristo.

O mais importante é que isto não seja demasiado stressante. Nenhuma estratégia para alcançar o vosso filho, ou filha, surtirá qualquer efeito duradouro se o objectivo subjacente não for ajudá-los a conhecer Jesus.
Jesus.

Não reze para que eles voltem a ser bons miúdos outra vez; para que cortem o cabelo e comecem a tomar banho; para que venham a gostar de música clássica em vez de deathcore; para que deixem de se sentir envergonhados no estudo semanal da Bíblia; para que votem no partido conservador outra vez nas próximas eleições; nem para que possam dormir à noite ao saber que os vossos filhos não vão para o inferno.

A razão mais importante para rezar por eles, recebê-los de braços abertos, pleitear com eles, enviar-lhes e-mails, comer com eles ou interessarem-se pelo que eles se interessam é para que os olhos dos vossos filhos se abram para Cristo.

E não só Cristo é o único objectivo—ele é também a única esperança. Quando eles virem a maravilha que é Jesus, a satisfação será refinada. Ele substituirá a patética vaidade do dinheiro, o louvor ao homem ou ao estatuto ou ao orgasmo em que estão a delimitar as suas vidas eternas neste momento. Só a sua graça pode retirá-los dessas buscas arriscadas e prendê-los com segurança a ele—cativos, mas satisfeitos.

Ele fá-lo-á por muitos. Tenham fé e não desistam.

Por Abraham Piper. © Desiring God. Website: desiringGod.org
Original: 12 Ways to Love Your Wayward Child. Website: desiringGod.org
Tradução: gospeltranslations.org



A melhor forma de punir seus filhos

Em sua autobiografia, John Paton, missionário escocês em New Hebrides, reflete sobre como seu pai reagia tão eficazmente à desobediência de seus filhos:

Se algo verdadeiramente sério precisava ser castigado, ele primeiro se retirava ao seu “closet” para orar, e nós garotos entendíamos que ele estava colocando toda a questão diante de Deus; e aquilo era a parte mais severa da punição para eu suportar! Eu poderia resistir a qualquer quantidade de punições, mas aquilo falava à minha consciência como uma mensagem de Deus.

Nós o amávamos ainda mais, quando víamos o quanto custava a ele nos punir; e, na verdade, ele nunca teve muito trabalho daquele tipo para com cada um dos onze – éramos governados pelo amor muito mais do que pelo medo (John G. Paton: Missionary to the New Hebrides, p.17, parágrafo adicionado).

Por Tyler Kenney © Desiring God. Website: desiringGod.org
Original: The Best Way to Punish Your Kids. Website: desiringGod.org
Tradução: voltemosaoevangelho.com

Fonte: [ Voltemos ao Evangelho ]

.

Eu quero a reforma de ontem na Igreja de hoje.

.
A Reforma protestante ocorrida no século XVI, transformou a vida da Igreja, trazendo-a de volta à centralidade das Escrituras. Em virtude disto, a tradição produzida pelos papas, cardeais e bispos, que até então, norteava a igreja impondo-lhe conceitos absolutamente antagônicos a Palavra de Deus, foram rechaçadas pelo redescobrimento das maravilhosas doutrinas da graça. A partir de então, as tradições católicas romanas, como também os pronunciamentos “ex-cáthedra” do Papa, não poderiam mais ocupar o mesmo patamar de autoridade das Sagradas Escrituras. Junta-se a isso, o fato que em virtude do redescobrimento da importância da Palavra de Deus, houve também uma revisão plena das doutrinas concernentes aos sacramentos, à obra salvadora de Cristo e outras tantas mais, que haviam sido corrompidas com o passar do tempo.

Quanto à práxis litúrgica, a missa Católica que se caracterizava pela superstição, pelo ritualismo e pela completa ignorância daqueles que participavam da cerimônia, deu lugar a ao culto desprovido de altares, santos e rituais onde a pregação da Palavra de Deus era o mais importante.

O culto reformado diferentemente da missa católica primava pela simplicidade na adoração ao Senhor, desde a arquitetura dos templos até a comunicação com o povo de Deus, que passou a ouvir a exposição das Escrituras em sua própria língua, tornando-se participante ativo do culto, e não um expectador passivo. Além disso, o culto reformado se caracterizava objetivamente pela centralização das Escrituras e ênfase na pregação da Palavra de Deus, que definitivamente, pois fim a venda de indulgências.

Hoje, diante das idiossincrasias e incongruências de parte da Igreja Evangélica Brasileira acredito mais do que nunca que haja a necessidade de pregarmos novamente os valores ensinados pelos reformadores, além obviamente de reconduzirmos as Escrituras Sagradas a um lugar de centralidade litúrgica o que proporcionará algumas transformações imediatas na vida da igreja.
Eu quero a reforma de ontem na igreja de hoje, e você?

Soli Deo Gloria,

Renato Vargens
Fonte: [ Blog do autor ]

.

Minha bronca com os "tolerantes"

.
É impressionante como a palavra “calvinista” (ou “calvinismo”) causa asco nas pessoas. Muita gente não quer nem ouvir falar em calvinismo, muito menos nos calvinistas. Motivo? Bem, dizem que somos muito intolerantes. Tanto crentes quanto incrédulos pensam basicamente a mesma coisa a respeito de nós, embora que por ângulos um pouco diferentes. Os não-crentes nos perguntam se somos adeptos daquele “tirano capitalista” de Genebra; os que se dizem cristãos nos perguntam se cremos mesmo naquele “Deus tirano” de Calvino. Ou seja, onde quer que um calvinista esteja ele sempre será alvo do doce vilipêndio dos “tolerantes”. Não é interessante isso?

Mas os calvinistas tem culpa no cartório, sim. São eles que sempre “estragam” as conversas sobre religião. Tudo vai bem até o calvinista dizer que Deus é soberano, que nenhuma folha cai no chão se não for pela ordem divina e coisas afins para que o clima fique tenso. E o intolerante na história sempre será o calvinista, é claro!

Fico me perguntando quando é que essa hipocrisia vai acabar, se é que um dia vai acabar. Os “tolerantes” não suportam um confronto sério com a Verdade, e ainda ficam dando uma de vítima da situação, dizendo que os intransigentes somos nós. Peço a Deus que me livre de ser tolerante para com o erro daqueles que não acatam e aceitam Sua Verdade, mas que Ele igualmente me dê o discernimento necessário para saber onde devo ser flexível – combater as ideias, não as pessoas!

Soli Deo Gloria!

Autor: Leonardo Bruno Galdino
Fonte: [ 5 Calvinistas ]

eu penso que... eu acho que...

.
Uma das introduções a "estudos teológicos de banco de igreja" mais comuns que costumo ouvir no meio evagelico é "eu penso que" ou sua variante irresoluta "eu acho que". Trata-se de um grave sintoma de distanciamento da Palavra e pode indicar ali um forte candidato as mais estapafúrdias crendices e práticas sincréticas dentro da igreja.

Obviamente, lendo a Palavra de Deus, vemos o apóstolo Paulo em várias ocasiões fazer o uso do "penso que". No entanto não é deste uso a que estou me referindo, mas sim daquele que contraria a Palavra de Deus dando às minhas palavras os mesmo poder contido naquelas palavras de Poder. Pensar não é o problema. E como "eu penso", pensar é um dom de Deus, pouco utilizado e desenvolvido no nosso meio é verdade.

O apóstolo Pedro escreveu fundamentado não em sua sabedoria, mas naquela advinda do alto o seguinte:

"Porque Toda a carne é como a erva, E toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; Mas a palavra do Senhor permanece para sempre." (1 Pe 1.24-25)

O apóstolo Pedro não temia que suas palavras não chegassem ao destino, pois sabia que toda sua eloqüência assim como sua carne eram semelhantes a erva, temporais. O que permaneceria seria a Palavra de Deus, pois Ele não muda, é eterno (Tg 1.17).

O que aconteceu é que a experiência pessoal extra-bíblica tornou-se o norte do "crentinismo" contemporâneo. Servir e seguir os prórios pensamentos e achismos, ser guiado pelas próprias verdades eivadas dos vícios mundanos que trazem consigo quando supostamente aceitam a Cristo e o novo "rosa" da moda cristã.

A Bíblia é para estes um livro que afasta-se da realidade e é impraticável no cotidiano. Contudo, fazer tal afirmação, mesmo para estes incircuncisos, é o mesmo que "blasfemar" contra o Espírito, então, substituem a assertiva para: A Bíblia é de difícil compreensão.

Mentira. E como todo praticamente da mentira sois filhos de satanás a quem procurais agradar, procurando agradarem sempre a si mesmos. (Jo 8.44)

Acontece que a Palavra de Deus não é de difícil interpretação. Pelo menos não para os verdadeiramente salvos. Pedro não era nenhum homem versado em palavra. Tiago, João, Judas... nenhum deles possuia estudos avançados... quanto a Paulo, ele mesmo afirma que suas palavras não firmavam-se em sabedoria humana, mas no Poder de Deus (1 Co 2.1-5).

Ao dizer o que eu "acho", ou o que eu "penso", exponho minha fraqueza, minha incredulidade, minha falta de fé... pois não confio plenamente na Palavra de Deus para dizer: A Palavra afirma o seguinte... pois estes que freqüentemente fazem uso dessas expressões não conseguem ver na Bíblia uma afirmação, um lugar sólido para construir a sua vida. Ela pode ser todo o resto, de livro de receitas mágicas a enciclopédia histórica do povo israelita.

Aqueles que negligenciam a leitura da Palavra de Deus procuram esquivar-se da prática advinda de sua leitura. Como se fosse possível, tentam enganar a morte. Entendem tão somente a Bíblia como fonte de "acusação" ou "absolvição", não conseguem compreender que ela é as duas coisas. Por meio dela vejo minha condição e em suas palavras tenho a redenção (Jo 5.39). ela é fonte de vida não de morte... o que é incompreensível para aqueles que ainda não morreram pois acreditam estarem vivos. Na verdade alguns acreditam até mesmo serem eternos.

A compreensão da Palavra de Deus passa pela cruz, passa pela morte e ressurreição. E isso não é algo que eu pense ou acredite... Essa é a Palavra de Deus. Loucura para os que se perdem... mas só para os que se perdem.

Daniel Clós Cesar
Fonte: [ Batalha pelo Evangelho ]
.