Para matar o orgulho

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"O Senhor odeia os orgulhosos de coração. Sem dúvida serão punidos."1

Um provérbio como esse incomoda o mais puritano frei em clausura. Em parte porque os cristãos, ou melhor, os crentes, acreditam que Deus apenas "ama" e portanto, não pode odiar. Primeiro, Deus não ama, Ele é o próprio Amor e em segundo lugar sim, Ele sente ódio, ou alguém acha que ele nutre simpatia pelo pecado e pelo pai da mentira? Tudo o que vai contra a Sua natureza Santa é por Ele odiado. Você pode ou não concordar comigo, sinceramente, não me importo. É sobre meu orgulho que vou escrever e não sobre o seu.

Nascido num lar quase cristão (meu pai não era convertido na minha infância), batizado nas águas aos 11 anos de idade (e diga-se de passagem sem entendimento algum do que era aquilo), converti-me aos 16 anos em um retiro para jovens, na mesma fase da vida em que a única coisa que realmente me importava era quando tudo aquilo iria acabar... não o retiro, mas minha detestável vida. Entre os 18 e 26 anos experimentei todo esse alimento "sobrenatural", rico em esquizofrenia e extremamente pobre em Palavra e Poder. Aos 27 anos embarquei para o Timor-Leste como professor de História mas também como servo do Senhor, conheci um verdadeiro campo missionário e não uma Disney para crentes de classe média sem oportunidades no Brasil. Com quase 29 anos, já no Brasil, assisti um vídeo com a pregação do Pr. Paul Washer. Quase uma hora de pregação e nenhum grito, nenhum aleluia e na única vez em que foi aplaudido repreendeu a massa com uma autoridade que faria Nikita Krushev ruborizar.

O que havia de diferente naquele homem? Sinceramente... ao analisar bem aquela pregação ele não era diferente de Elias, não mesmo... era sujeito aos mesmos pecados do profeta arrebatado. A diferença que vi em relação a grande maioria dos pregadores contemporâneos estava em sua pregação. Eu vi a Palavra de Deus sendo exposta e não a história ou a experiência orgulhosa de um homem.

Naquele dia compreendi que não era convertido a nada senão à meu próprio ventre. um deus ridiculamente preservado por mim para minha própria condenação. Toda minha espiritualidade girava em torno do meu umbigo. Orgulhava-me de ter um conhecimento razoável sobre Deus e convencer-me de um erro era uma tarefa para Hércules. Ainda naquele dia vi meu ventre se abrir e expor toda minha podridão. O trabalho de uma vida sendo desfeito em poucos minutos. Meu orgulho de conhecer algo sobre Deus não passava de conhecimento da letra e nisso, qualquer fariseu era melhor do que eu. Quanto a Hércules, não foi ele que Deus usou, mas Seu próprio Espírito Santo.

Um soldade inglês da Primeira Guerra Mundial reescreveu a sacrifício de Isaque. No final de sua "nova" história ele escreveu. "A Europa, ao invés de sacrificar o Cordeiro-Orgulho, sacrificou seus próprios filhos". O que vemos hoje na igreja de Cristo como feridas expostas e chagas incuráveis? O orgulho de pessoas que não aceitam a repreensão pois não querem ver seus ventres abertos e exposta toda sua prole de pecados. Preferem sacrificar sua própria vida a enviando para o inferno do que mandar aquele "bode" criado com tanto esmero.

O que eu enxergo hoje: Pastores que por mais bem intensionados que estejam preferem vociferar suas experiências pessoais com bastante orgulho à expor a Palavra de Deus, que sem dúvida alguma foi inspirada pelo Espírito Santo. Também vejo pastores que expõe a Palavra e buscam usar o púlpito como um verdadeiro altar de adoração, no entanto suas ovelhas estão mais preocupadas com a hora com que o culto vai terminar pois querem chegar em casa e aquecer a janta, pois o pão espiritual não é nada para elas.

Constantemente luto contra esse alfinete em minha carne, que às vezes parece ser um espinho... mas seria ousadia minha dizer que o que passo é semelhante ao que passou aquele que levou a cruz por mim. A cada dia tento fazer minha as palavra do rei Davi, para que um dia eu possa ver o Rei dos Reis e Senhor da Glória.

"Senhor o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes. Não ando a procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim."2

Que um dia eu possa ver meu orgulho totalmente aniquilado e enterrado e possa ler não mais o meu texto... mas o seu.

Notas:
1. Provérvbios 16.5
2. Salmos 131.1


Autor: Daniel Clós Cesar
Fonte: [ Batalha pelo Evangelho ]
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2 comentários

Que Deus seja louvado.

Excelente irmão.

Primeiro por Deus fazer brotar essa consciência; segundo pela exposição do texto.

Que Deus seja louvado.

Esse é o nosso pecado de cada dia.

Em Cristo.

Responder
Anônimo mod

"Como podem existir pessoas evidentemente cheias de orgulho que declaram acreditar em Deus e se consideram muitíssimo religiosas ? Na prática essas pessoas imaginam o quanto Deus as aprova e as têm em melhor conta do que o resto dos comuns mortais.
Cada um de nós, a todo momento, vê-se diante dessa armadilha mortal. Felizmente, temos como saber se caímos nela ou não. Sempre que constatamos que nossa vida religiosa nos faz pensar que somos bons, sobretudo, que somos melhores que os outros, podemos ter certeza de que estamos agindo como marionetes, não de Deus, mas do diabo."
Extraído do livro Marcados pelo Espírito.

Ótimo post.

Ingrid

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