A Doutrina da Salvação só pela Graça

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Por Samuel Falcão

Uma das maiores e mais preciosas doutrinas da Bíblia é a da graça de Deus, da salvação somente pela graça. Mesmo uma leitura perfunctória da Bíblia, especialmente do Novo Testamento, mostrará que a salvação e todas as bênçãos da vida cristã são resultado da graça de Deus. Vejamos numa incursão rápida pelo Novo Testamento qual é o lugar que a graça ocupa em toda a nossa vida espiritual.

1 - A eleição é pela graça. “Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a elei­ção da graça. E se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Rom 11:5,6).

2 - Jesus é a personificação da graça. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade... To­dos nós temos recebido da sua plenitude, e graça sobre graça. Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (Jo.1:14,16,17). “Conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que pela sua pobreza vos tornásseis ricos” (2Cor 8:9).

3 - A Salvação é pela graça. “Pela graça sois salvos por meio da fé” (Ef 2:8). “Porquanto a graça de Deus se manifes­tou salvadora a todos os homens” (Tito 2:11).

4 - A Justificação e o Perdão dos pecados são pela graça. “Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rom 3:24). “No qual te­mos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, se­gundo a riqueza da sua graça” (Ef 1:7).

5 - A Fé é pela graça. “Tendo chegado, auxiliou muito aqueles que mediante a graça haviam crido” (At 18:27).

6 - A graça capacita-nos a servir. “Pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça que me foi concedida, não se tornou vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus comigo” (1Cor 15:10).

7 - Graça capacita-nos a ser pacientes e perseverantes. “Então me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Cor 12:9). “Acheguemo-nos portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportu­na” (Heb 4:16).

8 - Devemos crescer na graça. “Crescei na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3:18).

9 - A plenitude de nossa salvação na segunda vinda de Cristo será uma nova expressão da graça de Deus. “Cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo” (1Pe.1:13).

10 - Por toda a eternidade os salvos serão um monumento da graça de Deus. “Em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo... para louvor da glória de sua graça” (Ef 1:5,6). “Para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus” (Ef 2:7).

Vemos, conseqüentemente, a singularidade do papel que a graça de Deus desempenha em todo o plano de nossa salvação. Desde toda a eternidade fomos eleitos por graça de Deus. No devido tempo, esta graça foi revelada, em toda a sua beleza, por Jesus Cristo. Por esta graça é que somos salvos, isto é, justificados e perdoados mediante a fé, a qual em si mesma é um resultado da graça. Esta mesma graça, que trouxe salvação às nossas almas, capacita-nos a servir a Deus e dá-nos força para suportar todos os sofrimentos a que estamos sujeitos neste mundo e a perseverar até ao fim. Nesta graça estamos firmes (Rom 5:2) e crescemos. A segunda vinda de Cristo será nova revelação de graça, e por toda a eternidade a infinita graça de Deus resplandecerá em nós, para Seu eterno louvor e glória.

Que é graça?

“Graça é favor gratuito, não merecido, mostrado, aos indignos dele. Se a redenção fosse devida a todos os homens, ou se fosse uma compensação necessária à responsabilidade deles, não poderia ser gratuita, e o dom de Cristo não poderia ser uma expressão supe­rior do livre favor e amor de Deus. Só poderia ser uma revelação de Sua retidão. Mas as Escrituras declaram que o dom de Cristo é uma expressão sem pa­ralelo de amor gratuito, e que a salvação procede da graça... E todo verdadeiro crente reconhece a graciosidade essencial da salvação, como um elemento in­separável de sua experiência. Dai as doxologias do céu. — 1Cor 6:19,20; 1Pe 1:18,19; Ap 5:8-14. Contudo, se a salvação é pela graça, então obviamente é compatível com a justiça de Deus salvar a todos, a muitos, a poucos, ou a ninguém, como lhe aprouver”. [1]

“A graça, por sua própria natureza tem de ser livre ou gratuita; e a diversidade ou disparidade de sua dis­tribuição (ou manifestação) demonstra que é de fato gratuita. Se alguém pudesse com justeza exigi-la, dei­xaria de ser graça para se tornar débito. Se neste particular nega-se a Deus Sua soberania, a salvação então se torna uma questão de divida para com todas as pessoas”. [2]

É interessante notar que Paulo associa esta doutrina de salvação exclusivamente pela graça à doutrina da total depravação e, por conseguinte, à doutrina do novo nascimento. “Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo — pela graça sois salvos e juntamente com ele nos ressuscitou... para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2:4-9). Se estamos mortos em delitos e pecados, não podemos viver para Deus se Ele não nos criar es­piritualmente por seu infinito poder. Esse criar de novo é uma como ressurreição ou novo nascimento, como já vimos. E Deus não tem nenhuma obrigação de fazer isso. Se o faz, é por pura graça e misericórdia. E se é pela graça, Ele pode salvar a todos, a muitos, a poucos, ou a ninguém, como Lhe aprouver. Como disse Paulo, citando palavras de Deus dirigidas a Moisés, “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia.” (Rm 9:15,16).

Assim escreveu o Dr. James Moffatt em seu excelente livro Grace in the New Testament, p. 172, 173:

“Quando os que experimentam a graça de Deus refletem na origem dela, que é a vontade do mesmo Deus, o resultado instintivo é a doutrina da eleição. Os crentes descobrem que devem sua posição não a qualquer habilidade sua de penetrar na fé, mas devem-na à cha­mada e escolha do próprio Deus, que os distinguiu com esse privilégio. Sabem que foram escolhidos pela gra­ça e portanto não o foram por nada que tivessem feito; de outro modo a graça deixaria de ser graça (Rom 11:6). O primeiro passo foi dado por Deus, e muito antes que eles se apercebessem de que precisavam de salvação. Foi um movimento livre, gracioso da Vontade eterna. Paulo não pôde explicar de outro modo por que ele ou qualquer outro foi escolhido para ser membro da Igreja de Deus. Devia ter sido Deus, e Deus foi movido pelo amor”.

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Fonte:
Escolhidos em Cristo – O Que de Fato a Bíblia Ensina Sobre a Predestinação, Samuel Falcão, Ed. Cultura Cristã, 1997, pág. 99-103.

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Notas:
Link
[1] A. A. Hodge, op. cit., p.225
[2] Loraine Boettner, op cit, p.270

Extraído do site: [ Eleitos de Deus ]

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2 comentários

Anônimo mod

Amei o artigo, muito bom, inclusive quero desenvolver minha tese do mestrado sobre este assunto "Salvação somente pela Graça", caso tenha alguma indicação de literaturas, peço que me envie.

obrigada
Thábata

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Não ia postar o comentário meu aqui por achar que pode não ser aprovado, mas, se prevalecer o item 2 acima, minha hermenêutica bíblica é divergente, como se segue:
A doutrina da "salvação somente pela graça" é o cerne principal da teologia do protestantismo, que é o mais árduo defensor dela, cuja credibilidade é unânime. Não se discute. Reza que: uma vez que se creu que Cristo morreu para a expiação do pecado, e foi batizado tendo os seus pecados do passado perdoados, não é mais possível perder a salvação, porque todos os pecados praticados perdoados inclusive os que forem cometidos no futuro; todos também serão purificados pelas águas do batismo! Não existem escolhidos e nem chamados, todos serão salvos pela grã salvífica. Creio eu que todas as minhas Bíblias versões bíblicas foram pirateadas!
Segundo qualquer uma delas [versões] que eu tenho, uma pessoa pode perder a salvação sim! Por isto há uma distinção entre os escolhidos [predestinados] e os chamados [livre arbítrio]. E ainda diz mais: A Igreja são os escolhidos; mas, os chamados que estiverem preparados no dia do Arrebatamento também subirão juntos com os eleitos. A teologia não confirma o Arrebatamento, porque o Livro que descreve o seu acontecimento, não deve ser interpretado literalmente. O seu cumprimento findou-se com a queda do templo em 70 d.a.C.
As versões que eu tenho já estão ultrapassadas. Muitos evangélicos, digo eu, porque temos dois tipos de seguidores de Cristo: os evangélicos que são aqueles apenas frequentam os cultos de alguma denominação a vida inteira, mas, nunca foram cristãos sinceros, foram apenas chamados para a salvação. Já por outro lado àqueles que ao conhecerem a Cristo em alguma fase da vida, serão escolhidos por Deus para a Salvação; estes alcançarão a vida eterna, além de voltar depois da primeira Parusia, para governar a terra com Cristo, a partir de Israel por 1000 anos. Resumindo: Aos escolhidos a salvação é garantida, porém, aos que forem apenas chamados, a salvação dependerá somente deles, de manter uma vida santificada perante Deus até antes da morte ou até o dia do Arrebatamento para os que estiverem vivos; estes sim correm o risco de não serem salvos, se por ocasião do momento em que as almas deles lhes forem retiradas dos seus corpos, elas estiverem contaminadas por algum pecado!

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