O que torna possível a reforma de uma Igreja?

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Por John Folmar

Plantar igrejas parece ser a obra mais importante em nossos dias. Mas eu diria que revitalizar igrejas existentes é, igualmente, importante para a causa do reino. De fato, revitalizar igrejas não saudáveis nos permite obter duas coisas como resultado de uma única obra. Não somente estabelecemos uma igreja reformada e vibrante para o evangelho, mas também eliminamos o testemunho medíocre que havia antes.

Igrejas doentes são, como Mark Dever o afirmou, "forças antimissionárias terrivelmente eficazes". Elas anunciam à comunidade: isto é o cristianismo! O cristão é assim! Esses falsos anúncios difamam o evangelho e, na realidade, impedem a evangelização nas áreas adjacentes. Mas, quando uma igreja é transformada, o evangelho prospera enquanto a comunidade é confrontada com um genuíno testemunho coletivo a favor de Cristo.

Já testemunhei duas reviravoltas em igrejas: uma em Louisville (Kentucky) e a outra em Dubai (Emirados Árabes). Em ambos os casos, as igrejas foram completamente transformadas, desde a pregação até a adoração coletiva, a cultura da igreja e ao impacto evangelístico na vizinhança. Em ambas as reviravoltas, ainda que eu não possa reivindicar crédito por nenhuma delas, desfrutei do privilégio de ver pessoalmente a mudança radical de uma igreja.

O que tornou estas reforma de igreja possíveis?

Pregação

A forca impulsionadora que está por trás de qualquer reforma verdadeira será a Palavra de Deus. À medida que a Palavra manifesta seu poder em uma congregação, ela amolece o solo endurecido e produz mudança espiritual. Em Dubai, havia membros fiéis que trabalharam por anos, mas obtiveram poucos resultados. Não eram nutridos consistentemente por sermões semanais. Tentativas ousadas foram feitas para fortalecer a congregação, mas faltava algo. No entanto, quando a pregação se tornou consistentemente expositiva e centrada no evangelho, foi como se alguém jogasse um fósforo acesso em gasolina. O ministério se multiplicou. Quando a igreja começou a mudar, um membro antigo comparou a pregação com um fogo de artilharia semanal. O bater constante da Palavra amoleceu a oposição e abriu caminhos para que um ministério mais frutífero acontecesse em todo o corpo de membros.

O púlpito tem de liderar um esforço de reforma de uma igreja. E isso implica em pregação expositiva com ênfase no evangelho e aplicação criteriosa à vida da igreja, especialmente àquelas áreas que precisam de mudança. Se o púlpito não estiver firmemente por trás deste esforço, os reformadores talvez estejam desperdiçando seu tempo. É melhor mudar para um lugar onde a Palavra já está sendo pregada corretamente e perceber como aquele ministério pode ser apoiado.

Providência

Igrejas moribundas serão vivificadas somente se Deus estiver em ação ali. Anos atrás, em Louisville, uni-me a uma igreja velha cujo ministério definhava por várias razões. Pessoas velhas predominavam na igreja, muitas delas ministrando com fidelidade, mas sem liderança pastoral. Os mais novos tinham desertado da igreja havia muito tempo; e eu podia entender o motivo. Além da lealdade familiar, poucas coisas os mantinham ali. A pregação consistia principalmente de histórias rústicas sem qualquer exposição bíblica séria. A igreja era mais norteada pela cultura do que pela teologia. E a cultura contemporânea se mudara para lá.

Na providencia de Deus, havia outra igreja nas proximidades (uma igreja que se reunia numa escola). Nesta o evangelho era proclamado com clareza. Esta igreja mais nova tinha vida, energia e sã doutrina, mas não tinha raízes na comunidade, nem prédios. A solução óbvia era unir as duas congregações. Inicialmente, a ideia de unir as duas igrejas foi rejeitada pela igreja mais velha e necessitada. Eles eram muito diferentes na teologia, na música, na cultura e em outros aspectos. Mas Deus começou a remover soberanamente os oponentes da união e mudou aos poucos o coração das pessoas, para que a nova igreja surgisse. Como noite e dia – de oposição rígida para aprovação quase unânime da congregação –, em sua providência Deus cuidou para que uma nova obra começasse ali, em Louisville, uma igreja que continua vibrante e unida até hoje.

Há muitas forças dispostas contra a reviravolta de uma igreja local, que nunca acontecerá se Deus não a fizer acontecer. O cuidado providencial de Deus é essencial à reforma da igreja; é por isso que a oração é crucial.

Companheirismo

Procure não fazer isto sozinho. A reforma da igreja pode ser desgastante, ingrata e desencorajadora. O tempo para isso não é medido em meses, e sim em anos. E uma reforma espiritual profunda não é rápida. Deus usa os meios comuns de graça para dar crescimento e mudar seu povo. Igrejas melindrosas podem se tornar impacientes; e, em tempos difíceis, é bom ter amigos.

Quando comecei a pastorear em Dubai, havia um presbítero que pensava como eu e me encorajou bastante quando os tempos se tornaram árduos. Ele era perito em identificar evidências de graça, mesmo quando eu prosseguia com dificuldade em meio aos meus erros pastorais e às interrupções inevitáveis que acompanham a reforma da igreja. Quando elementos cruciais da reforma estavam em perigo, ele estava lá para dar ajuda na hora certa. Se possível, compartilhe com outros antes de atirar-se impetuosamente numa situação de reforma. Não vá sozinho.

Valorize o identificar homens que respondem ao ministério e integre sua vida à deles. Considere isto uma prioridade fundamental: treinar homens da congregação que um dia serão presbíteros e companheiros no ministério.

Paciência

Quantos pastores já foram demitidos porque introduziram mudanças antes que a igreja estivesse pronta? Quantos esforços de reforma já estiveram em perigo por conta da impaciência dos líderes que, talvez, sabiam a coisa certa a fazer, mas falharam em gastar tempo ensinando, orando e servindo as pessoas, para que ganhassem sua confiança e as convencessem dos pontos que necessitavam de reforma? Lembre a exortação de Paulo a Timóteo: "Corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina" (2 Tm 4.2). Somente porque você sabe quais são os problemas, isso não significa que eles devem ser resolvidos imediatamente.

Quando comecei a pastorear em Dubai, alguém me lembrou proveitosamente que a igreja não era "minha". Em outras palavras, as pessoas que estavam ali e seu estado de maturidade espiritual eram o fruto do ministério de outro pastor, e não de meu próprio ministério. Eu não podia chegar e esperar que a igreja adotasse imediatamente as minhas opiniões sobre a vida da igreja e o ministério. Isto me deixou livre para servir com alegria as pessoas que nem sempre compartilhavam de minhas convicções sobre a Bíblia ou sobre o ministério. Mas, depois de poucos anos, o quadro começou a mudar.

Adote uma perspectiva de longo prazo no que diz respeito à reforma da igreja. Ajuda-nos ter um horizonte de tempo de dez a vinte anos. Com uma perspectiva de longo prazo, podemos priorizar mais pacientemente as áreas da vida da igreja que necessitam de mudança. Podemos agir mais alegremente em um ambiente de ministério imperfeito quando pedimos às pessoas que tolerem as nossas fraquezas pessoais.

No entanto, existem duas coisas que um pastor pode mudar de imediato, ao chegar em uma nova igreja: a pregação e a recepção de membros na igreja. Num dia, você pode exaltar a autoridade das Escrituras pela maneira como você prega, extraindo os pontos explicitamente do próprio texto bíblico e mostrando que você se rege por ele. Segundo, você pode começar imediatamente a fazer entrevistas com os novos membros, quando eles chegam. Desta maneira, você pode:
- Assegurar-se, no melhor de sua habilidade, de que eles são crentes genuínos;
- Assegurar-se de que eles podem articular o evangelho;
- Definir suas expectativas quanto ao membros da igreja;
- Começar a estabelecer um relacionamento pastoral com os novos membros que estão chegando, um relacionamento que no decorrer do tempo afetará a complexão da igreja como um todo.
Poucas coisas são melhores do que ver pessoalmente uma reforma na igreja

Em conclusão, há poucas coisas que são melhores do que ver uma mudança na igreja, de igreja fraca e irrelevante para igreja vibrante e bíblica. A única maneira como isso pode ocorrer é pela pregação correta da Palavra de Deus. Contudo, alguns esforços de reforma fracassam apesar da fidelidade no púlpito; o Senhor tem de estar em ação para mudar o rumo das coisas. É provável que você seja bem sucedido a longo prazo se tiver alguns irmãos que labutam com você na obra. No entanto, mesmo com todas essas coisas, você tem de adotar a abordagem de longo prazo para a reforma da igreja. "Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas. Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima" (Tg 5.7-8).

Traduzido por: Wellington Ferreira.
Editor: Tiago J. Santos Filho.
Traduzido do original em inglês: What Makes a Church Reform Possible?. Com permissão do ministério 9Marks.
Fonte: [ Editora Fiel ]

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Bíblia "apostólica" do Estevam Hernandes e René Terra Nova?

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Por Lucas Porto

O apóstolo Estevam Hernandes, fundador da Igreja Renascer em Cristo, vai lançar no dia 24 de março a Bíblia Apostólica. Uma Bíblia com 5.000 notas comentadas ao longo dos 66 livros e cada um deles vem com uma introdução com base na “Visão Apostólica”.

Editada pela Sociedade Bíblica do Brasil.

Na Bíblia do fundador da Renascer há 40 estudos bíblicos, 40 ministrações de ofertas e 40 perfis de personagens. Fora isso também se encontra um dicionário bíblico com 500 palavras, mapas coloridos, tabelas de referências históricas e uma introdução de 15 páginas que explica o que é a Visão Apostólica e como ela chegou até a Igreja dos nossos dias.

Deus nos deu o privilégio de ter a primazia do apostolado no Brasil e essa Visão se espalhou por todos os lugares. Com esta publicação, que é a primeira Bíblia Apostólica anotada do mundo, desejamos que esta visão alcance ainda mais vidas, resgatando a cada dia mais pessoas para Jesus”, afirmou o apóstolo Estevam Hernandes.

O prefácio da Bíblica Apostólica é assinado pelo apóstolo Renê Terra Nova.

Estevam é um líder incansável! Tenho visto isso na sua vida e história, que se tornou uma espécie de GPS apostólico (sic), pois muitos não tinham coragem de romper e adotar a nomenclatura (de apóstolo). Depois que ele abriu o caminho, todos estão logrando êxito em muitas áreas dos seus ministérios. Por trás, porém, existe esse estimulador de valores, um homem que treinou muitos generais de guerra no mundo espiritual

Creio que é chegado um tempo de unidade no Reino, um tempo no qual precisamos nos apegar ainda mais à Verdade, Jesus, para vermos o manto apostólico sendo estabelecido sobre nossa nação”.Afirmou Terra Nova

Terra nova ainda diz:

E você será adestrado (hein?) para este tempo profético e apostólico que estamos vivendo através desta Bíblia que está em suas mãos.

Cada exemplar deve custar R$110,00.

Fonte: iGospel


Comentário:

O que esperar de uma ‘biblía de estudo’ com préfacio de vossa sumidade o Apostolo Patriarcal Manauara Rene Terra Nova e comentada por ? cuma? Estevam Hernandes? aonde colocaram minha cartelinha de rivotril? não é isso mesmo!

E que parada é essa de GPS Apostólico, deve ser esse ‘GPS’ que guiou Estevam a prisão norte-americana em 2007.

Mas em uma coisa Terra Nova tem razão muitos estão ‘logrando’ em muita$ área$, principalmente no bolso dos fiéiss (risos).

E ainda: 40 mini$traçõe$ de ofertas?? orra….não rola nem um disfarce quando o assunto é grana!

E os adestramento então? melhor nem falar…

Só imagino quais a palavras e definições desse tal dicionário apostólico tupiniquim, coisas do tipo honra: 1. obediência cega ao seu mentor ‘espiritual’, 2. nunca sair da cobertura espiritual.

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Fonte: [ Púlpito Cristão ]

Objeções ao conceito da Cessação da Revelação – Parte II

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Por O. Palmer Robertson

Podem-se suscitar diversas objeções de natureza teológica contra a afirmação de que a revelação e os dons relativos à nova revelação cessaram. Tais objeções podem ser amplamente colocadas nestas três categorias:

1) Objeta-se que uma asseveração geral de que a revelação, hoje, cessou tem o efeito de limitar à Deus. É justo restringir a Deus, dizendo que Ele não pode comunicar-se com alguém por meio de revelação direta, caso Ele assim o queira? Não seria porventura uma atitude de presunção, sob quaisquer circunstâncias, limitar a Deus? Naturalmente que sim. Seria uma completa presunção por parte de alguém pressupor que poderia limitar a Deus. Ninguém tem o poder nem a autoridade de restringir a Deus em qualquer aspecto. No entanto, um antigo instrumento para instruir crianças pode oferecer um importante discernimento nesta matéria. O catecismo para as crianças em seu primeiro período de instrução pergunta: "Deus pode fazer alguma coisa?" A resposta contém certa profundidade que nem mesmo o mais sofisticado adulto deixaria de apreciar: "Sim, Deus pode fazer tudo segundo sua santa vontade."? Se Deus decidiu revelar-se de acordo com certo padrão, não significa limitar a Deus afirmar o que o próprio Senhor determina a esse respeito. Se Ele determina que o melhor para manter seu povo unido é requerendo dEle que busque fazer a vontade divina a partir de uma única fonte objetivamente conhecida, para o bem de todos, não seria para que o homem se proponha fazer a vontade divina, conhecida através de milhares de diferentes fontes individuais separadas pelo tempo e o espaço umas das outras?

Não significa limitar a Deus afirmar que a operação de milagres, como retratada no Novo Testamento, não ocorre hoje, se Deus mesmo determinou que esses sinais, atestando Cristo e seus apóstolos, têm servido seu propósito, ao confirmar uma vez por todas a verdade fundamenta necessária para o avanço da vida da igreja de Cristo. Suas poderosas obras realizadas entre os homens hoje são óbvias em todos os aspectos. Mas sua operação contínua no mundo de hoje não implica necessariamente que Ele pretenda dar prosseguimento às atividades miraculosas relativas a novas revelações. Ninguém pode limitar a Deus. Seria tanto blasfemo quanto presunçoso tentar restringir o Onipotente. A fé nEle, porém, não hesitará em afirmar que Ele agirá consistentemente em consonância com suas próprias intenções declaradas.

2) Objeta-se que os pagãos de hoje carecem do poder confirmador de sinais, maravilhas, profecia e línguas, justamente como o fizeram os pagãos do primeiro século. Por que seriam os homens de hoje negados as experiências revelacionais que poderiam ser instrumento para trazê-los à fé salvífica? Uma vez mais, porém, o padrão estabelecido na própria Palavra do Senhor deve ter precedência sobre as suposições hipotéticas engendradas pelas imaginações humanas. Seria de acordo com a Escritura afirmar que os dons extraordinários de profecia, línguas e milagres tiveram sua principal manifestação entre os pagãos que jamais ouviram? Ou não seria mais conclusivo, à luz dos fatos como registrados na Escritura, que os sinais miraculosos ocorreram, antes, entre aqueles que já haviam sido identificados como povo de Deus?

Sim, os pagãos ficaram amedrontados quando Paulo lançou ao fogo a peçonhenta serpente sem que a mesma lhe fizesse qualquer mal com sua mordedura (At 28.3-6). Sim, a igreja de Corinto pode ser caracterizada como uma Igreja predominantemente gentílica, na qual as línguas serviram de sinal para os incrédulos que acorriam às reuniões (1 Co 14.22). Mas era nas assembléias do povo de Deus que esses dons se manifestavam, não entre os pagãos que nada haviam ouvido. A esmagadora evidência aponta para o fato de que os dons de natureza revelacionaI funcionaram mais extensivamente entre as igrejas estabelecidas, confirmando a vontade de Deus entre seu povo, e não maravilhas operadas ante os olhos do mundo.

3) É a proclamação da verdade que toma os pecadores livres. Uma geração má e perversa busca basear sua fé no miraculoso, em vez de baseá-la na verdade de Deus claramente expressa (Lc 11.29). O Espírito Santo não necessita de milagres para convencer os homens em seus corações quanto à veracidade da Palavra de Deus, e nem devemos imaginar que Ele o faça. Uma fé vigorosa no poder da verdade do evangelho valerá muito mais para a salvação dos pecadores do que confiança nas obras miraculosamente deslumbrantes. O padrão estabelecido e o ensino explícito da Escritura consistem em que a clara proclamação da verdade é o método mais eficaz para a difusão do evangelho do que a operação de maravilhas.

O. Palmer Robertson Em: A Palavra Final - Resposta Bíblica à Questão das Línguas e Profecias Hoje, Ed. Os Puritanos, pág. 86-89.

Via: [ Blog dos Eleitos ]

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A piedade e a Igreja

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Dr. Joel Beeke

A pietas de Calvino não subsistia à parte das Escrituras ou da igreja. Pelo contrário, era fundamentada na Palavra e nutri­da na igreja. Embora tenha rompido com o absolutismo da Igreja de Roma, Calvino tinha um elevado ponto de vista sobre a igreja. "Se não preferimos a igreja a todos os outros objetos de nosso in­teresse, somos indignos de ser contados como membros da igreja", ele escreveu.

Agostinho dissera: "Aquele que se recusa a ter a igreja como sua mãe não pode ter a Deus como seu Pai”. Calvino acrescentou: "Não há outra maneira de entrarmos na vida, se esta mãe não nos conce­ber em seu ventre, der-nos à luz, alimentar-nos em seu seio e, por último, não nos manter sob os seus cuidados e orientação, até que, despidos desta carne mortal, nos tornemos como os anjos". À parte da igreja, há pouca esperança de perdão dos pecados ou salvação, Calvino escreveu. Sempre é desastroso deixar a igreja.1

Calvino ensinava que os crentes estão enxertados em Cristo e sua igreja, pois o crescimento espiritual ocorre na igreja. A igreja é a mãe, educadora e nutridora de todo crente, visto que o Espírito Santo age na igreja. Os crentes cultivam a piedade por meio do Espí­rito Santo mediante o ministério de ensino da igreja, progredindo da infância espiritual à adolescência e à maturidade em Cristo. Eles não se graduam na igreja enquanto não morrem.2 Essa educação vitalícia é oferecida numa atmosfera de piedade genuína, uma at­mosfera na qual os crentes cuidam uns dos outros em submissão à liderança de Cristo.3 Essa educação encoraja o desenvolvimento dos dons e do amor uns dos outros, uma vez que somos "constrangidos a receber dos outros".4

O crescimento na piedade é impossível sem a igreja, porque a piedade é fomentada pela comunhão dos santos. Na igreja, os cren­tes "se unem uns aos outros na distribuição mútua dos dons". 5 Cada membro tem o seu próprio lugar e dons para serem usados no corpo.6 Idealmente, todo o corpo usa esses dons em simetria e propor­ção, sempre reformando e desenvolvendo em direção à perfeição.7

A PIEDADE DA PALAVRA

A Palavra de Deus é central ao desenvolvimento da piedade no crente. A piedade genuína é uma "piedade da Palavra". O modelo relacional de Calvino explica como.

A verdadeira religião é um diálogo entre Deus e o homem. A parte do diálogo que Deus inicia é a revelação. Nisso, Deus vem ao nosso encontro, fala conosco e se nos torna conhecido na pre­gação da Palavra. A outra parte do diálogo é a resposta do homem à revelação de Deus. Essa resposta, que inclui confiança, adoração e temor reverente, é o que Calvino chama depietas. A pregação da Palavra nos salva e nos preserva, enquanto o Espírito nos capaci­ta a apropriar-nos do sangue de Cristo e responder-Lhe com amor reverente. Por meio da pregação de homens dotados de poder pelo Espírito Santo, "a renovação dos santos se realiza, e o corpo de Cris­to é edificado", disse Calvino.8

A pregação da Palavra é o nosso alimento espiritual e o remédio para nossa saúde espiritual. Com a bênção do Espírito, os pastores são médicos espirituais que aplicam a Palavra à nossa alma, assim como os médicos terrenos aplicam remédio ao nosso corpo. Com a Palavra, esses médicos espirituais diagnosticam, prescrevem re­médios e curam doenças espirituais naqueles que estão contami­nados pelo pecado e pela morte. A Palavra pregada é um instru­mento para curar, limpar e tornar frutífera nossa alma propensa a enfermidades.9 O Espírito, ou "o ministro interior", desenvolve a piedade usando o "ministro exterior" na pregação da Palavra. Con­forme disse Calvino, o ministro exterior "proclama a palavra falada, e esta é recebida pelos ouvidos", mas o ministro interior "comunica verdadeiramente a coisa proclamada... que é Cristo".10

Para desenvolver a piedade, o Espírito usa não somente o evan­gelho para produzir fé no profundo da alma dos seus eleitos, como já vimos, mas também a lei. A lei promove a piedade de três maneiras:

1. A lei restringe o pecado e promove a justiça na igreja e na socie­dade, impedindo que ambas cheguem ao caos.

2. A lei disciplina, educa, convence e nos move de nós mesmos para Jesus Cristo, o fim e o cumpridor da lei. A lei não pode nos levar a um conhecimento salvifico de Deus em Cristo. Pelo contrário, o Espírito Santo usa a lei como um espelho para nos mostrar nossa culpa, nos privar da esperança e trazer-nos ao arrependimento. Ela nos conduz à necessidade espiritual que gera a fé em Cristo. Esse uso convencedor da lei é essencial à pie­dade do crente, pois impede a manifestação da justiça própria, que é inclinada a se reafirmar até no mais piedoso dos santos.

3. A lei se torna a norma de vida para o crente. "Qual é a norma de vida que Deus nos outorgou?" Calvino pergunta no catecismo de Genebra. E responde: "A sua lei". Posteriormente, Calvino disse que a lei "mostra o alvo que devemos ter em vista, o objetivo que devemos perseguir; e que cada um de nós, de acordo com a medida de graça recebida, pode se esforçar para estruturar sua vida em harmonia com a mais elevada retidão e, por meio de es­tudo constante, avançar cada vez mais, ininterruptamente.¹¹

Calvino escreveu a respeito do terceiro uso da lei na primeira edição de suas Institutas: "Os crentes... se beneficiam da lei porque dela aprendem mais completamente, cada dia, qual é a vontade do Senhor... Isto é como se um servo, já preparado com total disposi­ção de coração para se recomendar ao seu senhor, tivesse de des­cobrir e considerar os caminhos de seu senhor, para se conformar e se acomodar a estes. Além disso, embora sejam impulsionados pelo Espírito e mostrem-se dispostos a obedecer a Deus, os crentes ainda são fracos na carne e prefeririam servir ao pecado e não a Deus. Para a nossa carne, a lei é como uma chicotada em uma mula ociosa e obstinada, uma chicotada que a faz animar-se, levantar-se e dispor-se ao trabalho".¹²

Na última edição das Institutas (1559), Calvino é mais enfático a respeito de como os crentes se beneficiam da lei. Primeiramente, ele diz: "Este é o melhor instrumento para os crentes aprenderem mais completamente, a cada dia, a natureza da vontade do Senhor, a qual eles aspiram, e para confirmá-Los no entendimento dessa vontade". Em segundo, a lei faz o servo de Deus, "por meio de me­ditação freqüente, ser despertado à obediência, ser fortalecido na lei e restaurado de um caminho de transgressão". Calvino conclui que os santos devem prosseguir desta maneira, "pois o que seria menos amável do que a lei, com importunações e ameaças, atribular as almas com temor e as afligir com pavor?"¹³

O ponto de vista que considera a lei primariamente como um guia que estimula o crente a apegar-se a Deus e a obedecer-Lhe ilustra outra instância em que Calvino difere de Lutero. Para Lute­ro, a lei é primariamente negativa. Está ligada ao pecado, à morte e ao diabo. O interesse predominante de Lutero é o segundo uso da lei, o uso convencedor ― mesmo quando ele considerava o pa­pel da lei na santificação. Por contraste, Calvino entendia a lei como uma expressão positiva da vontade de Deus. Como disse John Hesselink: "O ponto de vista de Calvino podia ser chamado de deuteronômico, porque ele entendia que o amor e a lei não são contrários, e sim correlatos".14 Para Calvino, o crente segue a von­tade de Deus, não motivado por obediência obrigatória, e sim por obediência agradecida. Sob a tutela do Espírito, a lei produz grati­dão no crente; e esta conduz à obediência amorosa e à aversão ao pecado. Em outras palavras, para Lutero o propósito primordial da lei era ajudar o crente a reconhecer e confrontar o pecado. Para Calvino, o propósito primário da lei era levar o crente a servir a Deus motivado por amor.15

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Extraído do livro Vencendo o Mundo, Joel Beeke, Editora FIEL, pgs. 53-57
Notas:
1.Institutes. 4.1.1, 3-4. Ver também BEEKE, JoelR. Gloriouslhings of Thee Are Spoken: The Doctrine of the Church. In: KISTLER, Don (Ed.). Onward, christian soldiers: protestants affirm the church. Morgan, Pa.: Soli Deo Glory, 1999. p. 23-25.
2.Institutes.4.1.4-5.
3.Commentary, Salmos 20.10.
4.Commentary, Romanos 12.6.
5.Commentary, 1 Coríntios 12.12.
6.Commentary, 1 Coríntios 4.7.
7.Commentary, Efésios 4.12.
8.Commentary, Salmos 18.31; 1 Coríntios 13.12. Institutes, 4.1.5, 4.3.2.
9.Sermons ofM. John Calvin, on the Epistles ofS. Paule to Timothie and Titus (1579). L. T. (Trad.). Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1983. Comentário em 1 Timóteo 1.8-11. Daqui para frente a nota dirá Sermon e citará o texto bíblico. Reimpressão fac-símilar.
10.REID, J. K. S. (Ed.). Calvin: theological treatises. Philadelphia:
Westminster Press, 1954. p. 173. Ver também ARMSTRONG, Brian. lhe Role of the Holy Spirit in Calvin's Teaching on the Ministry. In: DEKLERK, P. (Ed.). Calvin and the Holy Spirit. Grand Rapids: Calvin Studies Society, 1989. p. 99-111.
11.BEVERIDGE, Henry; BONET, Jules (Eds.). Selected works of John Calvin: tracts and letters. Grand Rapids: Baker, 1983. 2:56,69. Reimpressão.
12.Institutes of the Christian religion: 1536 edition, p. 36.
13.Institutes. 2.7.12. Calvino extrai dos salmos de Davi grande apoio para esse terceiro uso da lei. Ver também Institutes 2.7.12 e Comentário no livro dos Salmos, Valter Martins (Trad.), Vol. 4. (São José dos Campos: Editora Fiel, prelo 2009).
14.HESSELINK, I. John. Law - lhird Use of the Law. In: McKIM, Donald K. (Ed.). Encyclopeadiaof the reformed faith. Louisville:
Westminster/ John Knox, 1992. p. 215-216. Ver também:
- DoWEY JR., Edward A. Law in Luther and Calvin. Theology Today, 41.2 (1984).
- HESSELINK, I. John. Calvin's concept of the law. Allison Park, Pa.:
Pickwick, 1992. p. 251-262.
15.BEEKE, Joel; LANNING, Jay. Glad Obedience: The Third Use of the Law. In: KISTLER, Don.Trust and obey: obedience and the Christian. Morgan, Pa.: Soli Deo Gloria, 1996. p. 154-200.
- GODFREY, W. Robert. Law and Gospel. In: FERGUSON, Sinclair B.; WRIGHT, David F.; PACKER, J. I. (Eds.). New dictionary of theology. Downers Grove, 111.: InterVarsity Press, 1988. p. 379.

Fonte: [ Os Puritanos ]
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Não sei as línguas originais! O que posso fazer?

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O mundo ideal seria aquele em que todos os cristãos fossem profundos conhecedores das línguas originais da Bíblia para potencializar o estudo da Palavra ao máximo. Bem sei que isso é uma utopia. Estudar grego e hebraico, para alcançar um domínio mínimo dessas línguas a ponto de superar as limitações de uma tradução, não é tarefa para qualquer pessoa. Requer aptidão, muita dedicação, tempo e investimento com aulas e livros.

Nenhuma tradução será perfeita, e o conhecimento da língua original permite ir mais longe do que a tradução pôde expressar. Mas se você não pode recorrer aos originais, o que você fazer? A melhor recomendação seria: compre todas as versões (traduções) diferentes que você encontrar. Comparando as diversas traduções disponíveis no mercado brasileiro é possível trabalhar, com muito mais segurança, a hermenêutica de alguns textos mesmo sem conhecer os originais. Vou citar apenas um exemplo.

“Porém tu és Santo, o que habitas entre os louvores de Israel.”
Salmo 22:3 [ARC]

Muitos são levados a acreditar que Deus verdadeiramente “habita” nos louvores por causa da tradução da Almeida Revista e Corrigida ou Corrigida e Fiel. Acreditam que o salmista esteja afirmando que Deus estará presente sempre que se entoar um louvor. Mas vamos, antes de tirar quaisquer conclusões, comparar com a Almeida Revista e Atualizada, ou Almeida Edição Contemporânea: "Contudo tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel.”

Eu não preciso recorrer aos originais para descobrir que a palavra hebraica para “habitar” também pode significar “entronizar”. Não preciso recorrer aos originais para entender que o salmista, na verdade, queria dizer que Deus estava no centro dos louvores, Deus era o “tema”, Deus era engrandecido nos louvores de Israel. Não se louva outro Deus além do SENHOR em Israel! Essa era a mensagem do salmista (Se desejar, lei este estudo exegético mais completo do Salmo 22:3 clicando aqui).

Acredito que o exemplo do Salmo 22:3 é suficiente para mostrar a importância de possuir diversas versões (traduções) da Bíblia para comparar textos difíceis de entender, principalmente para as pessoas que não sabem os originais (grego e hebraico).

Se você acha que nunca aprenderá esses idiomas tão estranhos, não deixe de estudar e conhecer cada vez mais a Palavra de Deus mesmo em português. A Palavra de Deus em português é poderosa para a sua edificação e para o seu sustento espiritual pleno. O que não pode é também apresentar deficiência na língua portuguesa e acabar distorcendo ou não entendo os ensinos de Deus para a sua vida.

Se você tem dificuldades para ler uma versão como a Almeida Revista e Corrigida, Revista e Atualizada, Corrigida e Fiel ou a Edição Contemporânea, adquira uma Bíblia com a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) da Sociedade Bíblica Brasileira. O que importa é alimentar-se e ser produtivo!

Autor: André R. Fonseca
Fonte: [ Site do autor ]

Proclame a Sã Doutrina

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Por Vicent Cheung

Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina. Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos. (2 Timóteo 4.2-4)

As principais preocupações de Paulo são a honra de Deus e o progresso do evangeho. Visto ter alcançado o final de sua vida e ministério, ele agora ordena, diante de Deus e de Jesus Cristo, que Timóteo continue a obra.

Os profetas, os apóstolos e o próprio Senhor têm estabelecido a presença da fé cristã no mundo. O Senhor Jesus disse que essa é uma presença permanente, e que as forças do inferno não prevalecerão contra a igreja. A religião cristã nunca será exterminada, e suas doutrinas nunca podem ser refutadas ou destruídas. Contudo, de acordo com o plano de Deus, o cristianismo continuará a ter os seus inimigos. Haverá aqueles que resistem a ele e tentam aniquilá-lo. Haverá aqueles que recusam abraçar a única pessoa e mensagem que pode salvar as almas miseráveis dos homens, e que ainda tentar impedir que outros entrem na vida eterna. Embora nunca terão sucesso em seus esquemas perversos, seus esforços permanecerão mais que um simples aborrecimento aos seguidores de Jesus Cristo.

Paulo diz a Timóteo algo sobre o que a igreja enfrentará, incluindo as profundezas da depravação na qual os não cristãos se afundarão. Haverá tempos terríveis. As pessaos serão amantes de si mesmas, do dinheiro e do prazer, e não amantes de Deus. Elas serão ingratas, profanas, sem amor, implacáveis, caluniadoras, e assim por diante. Elas terão uma forma de religião, mas negarão o seu poder. Algumas alegarão ser religiosas, ou mesmo cristãos, mas na verdade irão se opor à verdade. Homens maus e impostores, ele escreve, irão de mal a pior, enganando e sendo enganados.

Qual é a instrução de Paulo para a igreja que encara oposição de todo lado, e enfrenta problemas de todos os tipos? Tempos terríveis estão aqui e estão mais adiante, e o ministério do apóstolo está prestes a chegar ao fim. Se há uma arma potente, uma estratégia especial, um entendimento espetacular, agora é o tempo de falar sobre isso. Com uma solenidade quase ameaçadora que é insuperável em qualquer outro lugar, ele engarrega Timóteo: “Pregue a Palavra”. Devemos ter isso fixado em nossas mentes: quando diz respeito ao ministério, essa é a única prescrição apostólica que se aplica a todos os tempos e em todas as situações.

A fim de reduzir a reduzir a ofensa, mostrar respeito, demonstrar humildade, e incitar interesse, a pregação têm frequentemente sido remodelada em termos não autoritativos. Assim, em vez de “pregar”, o ministro com frequência diz “compartilhar” a palavra de Deus ou “discutir” com a congregação o que deveria ser crido e praticado. Embora seja inteiramente apropriado compartilhar e discutir os ensinos da Bíblia, aqui Paulo não diz compartilhar ou discutir, mas pregar. Há uma diferença. Pregar é afirmar, declarar e proclamar com conhecimento, convicção e autoridade. É entregar uma palavra da parte de Deus sobre algo de importância considerável.

Paulo diz que o conteúdo da pregação é “a Palavra”. Aqui ela é sinônimo daquilo que algumas pessoas recusariam ouvir, isto é, “sã doutrina”. Embora nossa pregação deva ser totalmente consistente com a Escritura, ela não é idêntica à Escritura. Pregar não é simplesmente ler a Bíblia em voz alta, pois se fosse esse o caso, não haveria na verdade nenhuma necessidade de algo como pregação, e uma pregação não seria boa ou ruim, correta ou incorreta. E não haveria nenhuma diferença entre um pregador bom e ruim. Todos seriam leitores. Nem deveria um pregador parecer um comentário. Antes, o pregador assimila a Escritura e então declara a sua mensagem.

Novamente, a pregação sempre deve ser bíblica no sentido que deve seguir “o modelo da sã doutrina” (2 Timóteo 1.13). Mas ela é um padrão, não um roteiro. É um modelo, não um esboço preparado. Peritos em homilética com frequência prescrevem métodos pelos quais o pregador pode realizar melhor a sua tarefa. O método expositivo, pelo qual tanto o título como o conteúdo dos sermões são derivados de uma passagem, é considerado por muitos como a abordagem preferida. Contudo, visto que a própria Bíblia não ordena nenhum método particular, e os peritos em homilética têm falhado em provar que ela o faça, ou mesmo provar que existe um a ser preferido, ninguém tem a autoridade para afirmar que um pregador é fiel, ou mais fiel, à sua comissão apenas se usar o método expositivo.

Paulo pregou a sã doutrina tão fielmente aos atenienses em Atos 17, onde ele não citou nenhuma passagem bíblica, quanto Pedro, quando este usou uma abordagem “texto prova” em Atos 2. Mas pregar sem citar a Escritura, e citar passagens meramente como textos prova, são considerados como métodos inferiores ou mesmo inaceitáveis por muitos peritos em homilética terroristas. A verdade é que, embora o pregador deva sempre ser verdadeiro à Bíblia, a Bíblia permite muita liberdade e variedade na construção e apresentação do sermão. Ele deve pregar a sã doutrina, mas não deve deixar que os peritos em homilética digam como ele deve fazer isso.

De fato, se insistirmos que o próprio método deve vir da Escritura, parece que o método expositivo (onde tanto o título como o conteúdo são derivados de uma passagem) teriam o menor apoio escriturístico. Nenhum sermão na Bíblia segue este método como definido pelos peritos em homilética. Isso não o torna errado ou inferior. De fato, é discutível se o método expositivo é aquele que eu uso com maior frequência, embora por vezes vagamente. O ponto é que algumas pessoas têm alegado muito em favor dele, e têm imposto o mesmo sobre outros, ao passo que a Bíblia parece permitir certa liberdade nessa área. Assim, embora não haja nenhum método rígido, o conteúdo da pregação é definido e decidido, de forma que a ênfase essencial da mensagem é inegociável. E visto que a mensagem é baseada na revelação e na autoridade de Deus, ela obriga legitimamente a consciência dos homens.

O pregador aplica as doutrinas bíblicas de várias formas benéficas – ele deve instruir, repreender e encorajar. Instruir, ou anunciar e explicar a verdade, é o fundamento para os outros usos da palavra de Deus. O pregador então corrige e repreende aqueles que se desviam do padrão bíblico apresentado. É também sobre a mesma base da sã doutrina que o encorajamento significativo é possível. Deve haver uma proporção correta desses usos da palavra de Deus. Encorajamento sem uma base bíblica, sem o fundamento do ensino, é vazio ou mesmo enganoso. Correção é significativa somente quando o padrão correto é definido, de forma que possa ser mostrado que alguém se desviou dele, e de forma que possa ser conhecido que alguém deve retornar a ele. Então, se um pregador apenas instrui e encoraja, mas nunca repreende, aquele que se desvia da verdade nunca é confrontado com o seu erro, e o pregador não cumpriu o seu dever.

Paulo diz que haverá um tempo quando as pessoas não suportarão a sã doutrina. Elas rejeitarão a pregação como um método de ouvir da parte de Deus. E elas rejeitarão a mensagem que a pregação pretende comunicar. Em vez disso, elas desejam ouvir coisas que vão entretê-las, faciná-las e justificar seus erros e maus desejos. E elas exigem uma certa estimulação carnal e sensorial no método de apresentação. Alguns cristãos alegam que devemos acompanhar os tempos e adaptar nossa abordagem de acordo com as tendências culturais. Em outras palavras, deveríamos seguir os não cristãos e nos submeter aos seus desejos. Mas o apóstolo prescreve a pregação já com essa resistência em mente. Ele é quem menciona aqueles que não suportarão a sã doutrina. Ele é aquele que diz para pregar a palavra “a tempo e fora de tempo”, quer o tempo seja favorável ou não a esse método ou à nossa doutrina, e quer essa seja a coisa popular a se fazer ou não.

Portanto, aqueles que propõem alternativas à pregação, e aqueles que propõem alternativas à sã doutrina, estão na realidade propondo rendição ao pecado e à incredulidade. Ora, se as pessoas são desatentas e rebeldes, um rei não ordena ao seu arauto para que pare de declarar a sua mensagem, e que comece a dançar e fazer malabarismo, como um palhaço para atrair uma multidão. Não, se as pessoas não forem ouvir ao arauto, e se elas não concordarão com o rei, a próxima coisa que o rei faz, se assim o agrada, é enviar seus soldados para matá-los. O arauto não muda sua abordagem ou mensagem. Se um pregador muda sua abordagem ou sua mensagem para diminuir a distração e resistência, ele não é mais um pregador. Ele abandonou o seu ministério. Mas que os arautos do Rei insistam em cumprir o seu dever, suportar as dificuldades e manter a fé.

Fonte: Reflections on Second Timothy
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Extraído de: [ Monergismo ]

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Atos Simbólicos no Espírito?!

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Canzis similares aos usados pelo profeta Jeremias
Por Augustus Nicodemus Lopes

Não faz muito tempo Ana Paula Valadão provocou uma polêmica no meio evangélico ao se colocar de quatro no palco, durante um show em Anápolis, e começar a andar tentando imitar um leão. Enquanto isto, os membros da banda faziam gestos de “leão” ou de olhos fechados e mãos erguidas “abençoavam” a plateia, que gritava em delírio. O vídeo está no Youtube. Não quero voltar a este episódio, já tão batido, mas usá-lo como gancho para entender o quadro maior.

Isto de se imitar animais no palco sob a "unção" do Espírito Santo parece ter começado em 1995, na igreja do Aeroporto de Toronto, famosa por ter sido o berço da “bênção do riso santo”. Escrevi um artigo sobre isto em 1996. Naquele ano, um pastor chinês, líder das Igrejas chinesas cantonesas de Vancouver, Canadá, durante o período de ministração na Igreja do Aeroporto, começou a urrar como um leão. O pastor da Igreja, John Arnott, estava ausente do país, e foi chamado às pressas de volta, para resolver o problema. A liderança que havia ficado à frente da Igreja lhe disse que entendiam que o comportamento bizarro do pastor chinês era do Espírito Santo.

Arnott entrevistou o pastor chinês diante da congregação durante uma reunião, e para surpresa de todos, ele caiu sobre as mãos e os pés, e começou a rugir como um leão na plataforma, engatinhando de um lado para o outro, e gritando "Deixem ir meu povo, deixem ir meu povo!". Ao voltar ao normal, o pastor chinês explicou que durante anos seu povo tinha sido iludido pelo dragão, mas agora o leão de Judá haveria de libertá-los. A igreja irrompeu em gritos e aplausos de aprovação, e Arnott convenceu-se que aquilo vinha realmente do Espírito de Deus. Isto acabou provocando o desligamento desta igreja da sua denominação, a Vineyard Fellowship, que discordou que aquilo vinha de Deus. Mas, parece que a moda pegou.

A partir daí, os sons de animais passaram a fazer parte da "bênção de Toronto." Houve casos de pessoas rugindo como leão, cantando como galo, piando como a águia, mugindo como o boi, e gritando gritos de guerra como um guerreiro. Para Arnott, estes sons eram "profecias encenadas", em que Deus fala uma palavra profética à Igreja através de sons de animais. Arnott passou a admitir e a defender este comportamento como parte do avivamento em andamento na Igreja do Aeroporto.

Acredito que o argumento para “profecias encenadas” ou “atos proféticos” tão em voga hoje nos shows e cultos do movimento gospel e do pentecostalismo sincrético é que, no passado, Deus mandou seus servos transmitirem mensagens ao povo usando objetos e dramatizando a mensagem. Não é difícil achar exemplos disto no Antigo Testamento. Deus mandou que Jeremias atasse canzis (cangas) ao pescoço como símbolo do cativeiro do povo de Israel (Jer 27:2); mandou que comprasse um cinto de linho e o enterrasse às margens do Eufrates até que apodrecesse, como símbolo também da futura deportação dos judeus para a Babilônia (Jer 13:1-11); determinou que ele comprasse uma botija de barro e quebrasse na presença do povo, para simbolizar a mesma coisa (Jer 19:1-11). O Senhor mandou que Isaías andasse nú e descalço por três anos, como símbolo do castigo de Deus contra o Egito e a Etiópia (Is 20:3-4). Há outros exemplos demprofetas que poderiam ser citados.

No Novo Testamento, o único exemplo de um profeta falando a Palavra de Deus e ilustrando-a com um ato simbólico é o do profeta Ágabo, que usando um cinto, amarrou seus próprios pés e mãos para simbolizar a prisão de Paulo (At 21:10-11).

Ao tentarmos entender a “teologia” dos atos proféticos da Bíblia percebemos alguns traços comuns a todas as ocorrências.
- Elas foram determinadas a profetas de Deus, como Isaías e Jeremias, os quais foram levantados por Deus para profetizar sobre o futuro da nação de Israel e a vinda do Messias. Ou seja, tais atos tinham a ver com a história da salvação, o registro dos atos salvadores de Deus na história.

- Estes atos simbólicos ilustravam revelações diretas de Deus para o seu povo através dos profetas. No caso de Ágabo, tratava-se de uma revelação sobre a vida do apóstolo Paulo, homem inspirado por Deus, que o Senhor haveria de usar para escrever a maior parte do Novo Testamento. Portanto, a mensagem de todos aqueles atos proféticos se cumpriu literalmente, como os profetas disseram que haveria de acontecer.

- Sem revelação direta, infalível e inerrante da parte de Deus, não há atos simbólicos. Eles eram ilustrações destas revelações. Uma vez que não temos mais profetas e apóstolos, que eram os canais destas revelações infalíveis, não temos mais estes atos proféticos que acompanhavam ocasionalmente tais revelações.


- Nesta compreensão vai o autor de Hebreus, que relega ao passado aqueles modos de Deus falar ao seu povo. Agora, Deus nos fala pela sua dramatização maior e suprema, a encarnação em Jesus Cristo (Hb 1:1-3).


- Tanto assim, que os únicos atos simbólicos que o Senhor Jesus determinou ao seu povo, e cuja mensagem é fixa e imutável, foi que batizassem os discípulos com água e comessem pão e bebessem vinho em memória dele. Tais atos ilustram e simbolizam nossa união com o Salvador. Fora disto, não encontramos qualquer outra recomendação do uso de atos simbólicos para transmitir a mensagem do Senhor.
Portanto, para mim, estes “atos proféticos” atuais e profecias encenadas nada mais são que uma tentativa inútil – para não ser crítico demais - de imitar os profetas e apóstolos, na mesma linha destes que hoje reivindicam, em vão, serem capazes de fazer a mesma coisa que aqueles fizeram.

Após Deus ter se revelado em Jesus Cristo, ter estado entre nós e transmitido ao vivo a sua Palavra, após os apóstolos terem registrado esta mensagem de maneira infalível e suficiente nas Escrituras, pergunto qual a necessidade de profecias encenadas e atos simbólicos para que Deus nos fale através deles. Se alguém não entende a fala de Deus registrada claramente na Bíblia vai entender através do simbolismo ambíguo de gestos e encenações de gente que alega falar no nome dele? Sola Scriptura!

Escândalos e Disciplina

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Por Vincent Cheung

Não aceite acusação contra um presbítero, se não for apoiada por duas ou três testemunhas. Os que pecarem deverão ser repreendidos em público, para que os demais também temam. (1 Timóteo 5.19-20)

Os detalhes dessa história me escapam, mas penso ter a essência dele. Alguns membros da igreja viram um pregador entrar num botequim e ficaram transtornado com isso. Aqueles de vocês que estão acostumados a usar “tudo o que Deus criou é bom” para justificar todas as suas atividades e associações poderiam não estender isso, visto que fazem coisas como essa o tempo todo e não podem perceber nada errado aqui. Mas alguns de nós cremos com Paulo que “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam” (1 Coríntios 10.23, ACF). Todavia, esses membros de igrejas foram além da curiosidade, e assumiram que o pregador estava prestes a fazer algo errado. Mais tarde foi descoberto que o pregador entrou no estabelecimento com uma guitarra, subiu no palco e cantou umas poucas canções gospel. Sua performance comoveu tanto a audiência que alguns professaram fé em Cristo, e alguns foram trazidos da sua apostasia de volta à fé. Jesus nos ensinou a julgar não de acordo com a aparência, mas a fazer um julgamento justo (João 7.24). Algumas pessoas pensam que são cães de guarda de Deus, mas eles são apenas bisbilhoteiros que julgam as boas obras dos outros por suas próprias más intenções.

Os cristãos amam escândalos. Eles gostam de tomar conhecimento e falar sobre eles. Em vez de ser estudantes da Palavra de Deus, eles têm prazer em se tornar especialistas sobre quem disse ou fez o que a quem. Sem dúvida eles lamentam os escândalos, as falsas doutrinas e os fracassos morais dos outros. E como eles apreciam o lamento! Que válvula de escape emocional! Que forma maravilhosa de expressar indignação justa! Que atalho para uma sensação de santidade! Deve haver um mercado rentável para os tabloides de fofocas cristãs. Estou fora de contato com o clube de mexeriqueiros – talvez eles já existam, pelo menos na forma de sítios na internet.

Os cristãos amam os escândalos, pois estão entediados com o evangelho, e porque preferem alcançar um senso de justiça olhando para os fracassos de outros ao invés de confiar em Jesus Cristo e obedecer os seus mandamentos. Alguns deles publicam livros e sítios na internet que são quase inteiramente dedicados a relatar escândalos atuais e oferecer suas opiniões sobre os tais. E eles chamam isso de fazer apologética. Não importa se os escândalos pertencem à religião e doutrina, política, economia, educação, história ou ciência – eles amam todos eles. Nada excita-os mais do que uma nova heresia, ou a queda de uma figura religiosa ou política. Eles adoram nada mais que discutir como outra pessoa blasfemou o Senhor, e como outra nova tendência procura subverter a sua influência.

Então, os cristãos amam perdoar aqueles que estão envolvidos em escândalos, e amam fazer uma grande exibição do seu perdão. O ditado preferido deles é: “Aquele que não tem pecado, que lance a primeira pedra”. E com isso eles querem dizer a mesma coisa quando os não cristãos dizem: “Ninguém é perfeito”. Espere aí, quem diz mais isso, os cristãos ou os não cristãos? Os cristãos pregam o que os não cristãos dizem tão frequentemente e com tanta convicção que é difícil dizer quais slogans estúpidos como esses deveriam ser atribuídos a um ou ao outro. Em todo caso, perdoar um escândalo sobre essa base faz os cristãos se sentirem muito generosos, e eles mal podem esperar o próximo escândalo para que possam perdoar esse também. Isso é admitidamente uma generalização. Muitos cristãos que gostam de escândalos ficam felizes o suficiente sem a parte do perdão.

Sem dúvida, podemos dizer que esses são cristãos maus. E se assim for, há uma superabundância de cristãos muito maus. O ensino da Bíblia sobre o assunto representa o oposto dessas duas tendências. Ele nos diz para odiar escândalos e evitar fofocas. Enquanto algo for mero boado, não quero ouvir sobre isso. Não é da minha conta. Não estou interessado nisso. Contudo, uma acusação que é sustentada por múltiplas testemunhas é outra questão. Se for descoberto que o líder de uma igreja está em pecado, que estejamos nos referindo à heresia, adultério ou alguma outra má conduta, não devemos encolher os ombros e chamar isso de perdão. A Bíblia nos ordena a expor e repreender publicamente essa pessoa, fazer dela um exemplo de forma que os outros possam temer o mesmo tratamento. Devemos exigir o seu arrependimento, e em muitos casos, a pessoa deveria ser removida do ofício.

O versículo 19 diz: “Não aceite acusação contra um presbítero, se não for apoiada por duas ou três testemunhas”. Isso não significa que uma acusação trazida por duas ou três testemunhas seja necessariamente verdadeira. É possível que as testemunhas sejam desonestas ou incompetentes. O ponto é que, a menos que uma acusação seja trazida por pelo menos duas testemunhas, “não aceite”. Isso é proteger o acusado de alegações injustas e frívolas. Nenhuma pessoa deveria ter sua reputação afetada ou sua obra arruinada por uma acusação sem fundamento. Essa proteção é especialmente importante para líderes da igreja, visto que sua obra torna-os o alvo de ataques invejosos e maliciosos do povo. O princípio é uma aplicação de Deuteronômio 19.15-21. Ali é dito que “os juízes investigarão o caso”. Assim, uma mera acusação não é suficiente para condenar um homem, mas uma acusação que parece ter alguma base é suficiente para exigir uma investigação.

A passagem também fornece um princípio sobre como lidar com um falso testemunho: “Se ficar provado que a testemunha mentiu e deu falso testemunho contra o seu próximo, deem-lhe a punição que ele planejava para o seu irmão. Eliminem o mal do meio de vocês. O restante do povo saberá disso e terá medo, e nunca mais se fará uma coisa dessas entre vocês. Não tenham piedade. Exijam vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé”. Deus olha para o perjúrio ou calúnia com extrema desaprovação, especialmente um falso testemunho com o potencial de arruinar outra pessoa. Como é dito nos Dez Mandamentos: “Não darás falso testemunho contra o teu próximo”. A igreja deve não somente considerar com seriedade acusações plausíveis, mas deve também compartilhar o ódio de Deus pelo falso testemunho.

A prescrição é “deem-lhe a punição que ele planejava para o seu irmão” e “eliminem o mal do meio de vocês”. Em nosso contexto, se for descoberto que um membro da igreja ofereceu falso testemunho contra um líder, com a intenção de embaraçá-lo, prejudicar sua reputação, solapar sua influência, ou mesmo removê-lo do ofício, então a repreensão e disciplina pública que teria sido aplicada ao líder deveria ser aplicada às falsas testemunhas. A igreja deveria abrir uma investigação contra esse testemunho, e se for confirmado que ele ofereceu falso testemunho, a igreja deveria denunciá-lo em público, e exigir que ele se arrependa e faça qualquer restituição apropriada para resolver as coisas, incluindo uma apologia pública ao acusado e uma declaração pública de esclarecimento à congregação. Se for verificado que ele ofereceu deliberadamente falso testemunho, ele deveria ser removido de qualquer ofício da igreja que tenha, e despojado de toda autoridade e influência na igreja. A menos que o pleno arrependimento e restituição sejam oferecidos, ele é um perverso que deve ser eliminado da comunidade cristã – ele deveria ser excomungado.

Ora, qualquer líder de igreja que seja perverso o suficiente para merecer ser despedido, e qualquer membro de igreja que seja perverso o suficiente para acusar um líder inocente, é provavelmente também mal o suficiente para processar a igreja por reforçar a instrução bíblica de expor publicamente o ofensor. Muitos membros de igreja valorizam sua dignidade mais que os mandamentos de Deus e o bem-estar da igreja. O motivo é que existem muitos falsos crentes em nossas congregações. De fato, os processos decorrentes da disciplina eclesiástica não são desconhecidos. Portanto, seria sábio para uma igreja consultar um advogado a respeito de como ele pode permanecer protegida no que concerne as políticas bíblicas. Muitas dessas políticas deveriam ser declaradas no regimento interno da igreja, o qual os oficiais e membros assinariam obrigatoriamente antes de serem aceitos em suas posições.

Fonte: [ Monergismo ]
Via: [ Ministério Batista Bereia ]

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Porque devo orar?

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Então Jesus contou aos seus discípulos uma parábola,
para mostrar-lhes que eles deviam orar sempre
e nunca desanimar
” (Lucas 18.1)

Por que não oramos se a Bíblia insiste em dizer que nós, filhos de Deus, devemos orar? Com tantos exemplos maravilhosos de oração nas Escrituras por que será que nosso coração não é atingido ou afetado por eles? Onde é que estamos falhando quando não oramos?

Há muitas coisas que nos afastam da oração como, depressão espiritual, falta de disciplina, insensatez na organização do tempo. Porém, quero falar sobre um motivo que tem atrapalhado, e muito, a nossa vida de oração, a saber: o raciocínio equivocado sobre a soberania de Deus. É comum encontrarmos alguém que, sem conseguir discernir a responsabilidade que nos cabe neste mundo de Deus, diz: “Deus não sabe nossas necessidades antes mesmo de pedirmos? Ele não faz todas as coisas segundo o propósito de sua vontade soberana (Ef 1.11) ? Então por que devo orar se Ele já sabe tudo e fará tudo segundo sua vontade?”

Os que raciocinam assim não consideram o fim para o qual o Senhor ordenou a oração. Porém, antes de analisarmos algumas razões pelas quais devemos orar, cumpre dizer que algo está muito errado em nosso raciocínio teológico se ele nos leva para longe da oração. D. A. Carson tem razão: “O crente levemente ingênuo mas entusiástico, pode ter mais experiência na oração do que o teólogo que pensa muito sobre a oração”.

Obviamente, a saída não é parar de pensar sobre a oração ou sobre a soberania de Deus, mas pensar corretamente, considerando de antemão pelo menos duas coisas básicas. A primeira é que a soberania de Deus não foi revelada para produzir cristãos fatalistas que nunca oram. A segunda é que Deus, de fato, causa notáveis mudanças em nós e no mundo em resposta à oração. Nas palavras do teólogo Wayne Grudem: “Deus determinou que a oração fosse um meio bastante importante de gerar resultados no mundo. Quando sinceramente intercedemos por uma pessoa ou situação, muitas vezes descobrimos que nossa oração serio o meio que ele usaria para gerar as mudanças no mundo”. Cf. Tiago 4.2, João 16.24

Não podendo considerar todas as razões para orarmos, por ora apresentarei pelo menos quatro. Todas foram dadas pelo teólogo João Calvino (1509 – 1564) nas Institutas da Religião Cristã, em um longo capítulo em que o teólogo de Genebra aborda especificamente a questão da oração (o maior capítulo das Institutas, diga-se de passagem). O título do capítulo é bem sugestivo: “Da oração, que é o principal exercício da fé, por meio da qual recebemos a cada dia os benefícios de Deus”. Escolhi Calvino propositalmente: é que alguns acreditam, ingenuamente, que um cristão que enfatiza a soberania de Deus não teria nada a dizer sobre a oração. A palavra está com o reformador:
“Portanto, embora Deus vele e esteja atento para conservar-nos, mesmo quanto estamos distraídos e não sentimos nossas misérias, e se bem que às vezes nos socorre sem que lhe roguemos, não obstante nos importa muito invoca-lo de contínuo”.

1) Inflamar nosso coração.

“A fim de nosso coração inflamar-se num constante desejo de buscá-lo, amá-lo e honrá-lo sempre, acostumando-nos a acolher-nos somente nele, em todas as nossas necessidades, como em um porto seguríssimo”.

2) Desenvolver o espírito de gratidão.

“A fim de nos preparar para receber seus benefícios e favores com verdadeira gratidão de coração e com ações de graça, já que, pela oração, damo-nos conta de que todas essas coisas vêm de sua mão”.

3) Desfrutar com alegria os favores de Deus.

“Da mesma forma, para, uma vez que alcançamos o que lhe pedimos, convencermo-nos de que ouviu nossos desejos, e por eles sermos mais fervorosos em meditar em sua liberalidade, e ao mesmo tempo desfrutarmos com maior alegria dos favores que nos fez”.

4) Confirma a providência divina.

“A fim de que a contínua experiência confirmem em nós sua providência, compreendendo que não somente promete que jamais nos faltará, que por sua própria vontade nos abre a porta para que, no momento da necessidade, possamos apresentar-lhe nossa petição, e que não nos enleva com vãs palavras, mas nos socorre e ajuda realmente”.
É isso galera! Espero que vocês consigam, pela graça de Deus, desenvolver uma vida de oração e busca pelo Deus que veio ao nosso encontro em Jesus Cristo. Não deixe de orar, pois como alguém pode negligenciar um tesouro, deixando-o enterrado e escondido na terra?

Autor: Daniel Grubba
Fonte: [ Soli Deo Gloria ]
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O limite da fraqueza

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Por Adeildo Nascimento Filho


“Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos.”
1 Co 9:22.

Lendo este texto fico me perguntando se Paulo pensou em algum limite para esta fraqueza quando o escreveu. Também me pergunto se atualmente a suposta fraqueza de alguns efetivamente tem o objetivo santo de ganhar os fracos.

Até que ponto a pregação do evangelho tem que se sujeitar a modismos e ondas pós-modernas de dominação do mundo e principalmente do consciente e inconsciente coletivo? Será que a cruz precisa de estratégias agressivas de marketing como os produtos tecnológicos ou as cadeias de varejo? Será que a TV e os programas de auditório, antes tão atacados pelos cristãos tradicionalistas, agora são a mais indicada forma de se pregar o evangelho de Cristo? Boas perguntas.

Não consigo acreditar que Paulo toparia lançar oferendas para Iemanjá a fim de alcançar os seus devotos. Também não consigo imaginar que Paulo toparia subir num palco e cantar “ai se eu te pego” a fim de abrir caminho para o coração do pessoal da “tribo” do sertanejo universitário. Não acredito em discipulado feito virtualmente, não foi assim que Jesus fez. Também não creio que o evangelho precise de subterfúgios de entretenimento coletivo para “vender” sua mensagem. Até porque ele não precisa ser vendido, é gratuito.

Talvez o limite da fraqueza citada por Paulo seja o da pessoalidade. Se fazer de fraco não significa ser fraco, ou seja, não é necessário ser viciado em nada para ter o mínimo de empatia com aqueles que são. Do contrário, seguindo esta lógica, seríamos forçados a pecar para demonstrar amor aos que pecam. Jesus não pecou e ninguém amou mais o pecador que ele.

Outro ponto é o motivo explicitado por Paulo para este tipo de atitude, ganhar os fracos. Se fazer de fraco só tinha este objetivo. Como sempre a resposta está no motivo e não na ação em si. Não tenho dúvidas quanto aos objetivos de Paulo, sua vida traduziu na íntegra tudo o que ele pregou. E hoje? O motivo ainda é o mesmo? Estamos fazendo papel de tolos e fracos buscando as mesmas glórias de Paulo? Tenho lá minhas dúvidas. E quando digo isso não penso em ninguém mais além de mim. Meu coração é enganoso e falho. Vivo a várias centenas de anos distante de Paulo e do primeiro derramar do Espírito Santo. Tenho receio de, no mínimo, me perder na fraqueza enquanto tento ganhar os fracos. Acho melhor mostrar a fortaleza da rocha na qual procuro me firmar a cada novo dia.

Na maior parte das vezes acho que estamos abrindo mão da nossa responsabilidade na expansão do reino. A maior propaganda do evangelho deveria ser nossas vidas. Pregações ambulantes. Corpos cravejados de cicatrizes que provam a eficácia do evangelho. Vidas redimidas e limpas através do sangue de um cordeiro inocente. Mas ao invés disso, na maior parte do tempo, temos terceirizado nosso chamado para ícones do mundo gospel na esperança que eles preguem, discipulem e conduzam vidas até a cruz.

É difícil não ser pessimista quanto a eficácia dessa estratégia para o reino de Cristo. Continuo acreditando não haver comunhão entre luz e trevas.

O limite da fraqueza citada por Paulo é Jesus. Enquanto Ele for o ÚNICO caminho apontado por você ok, mas caso Ele se torne UM DOS, então você deixou de se fazer de fraco e passou a ser um deles.

Fonte: [ NAPEC ]

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