A Falibilidade dos Ministros (sermão inédito)



17º capitulo do livro "Nós desatados" de 1885, escrito por J. C. Ryle, 1º Bispo da Diocese da Igreja da Inglaterra em Liverpool (traduzido de um texto com ingles atualizado por Tony Cappocia):

"Quando, porém, Pedro veio a Antioquia, enfrentei-o face a face, por sua atitude condenável.  Pois, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, ele comia com os gentios. Quando, porém, eles chegaram, afastou-se e separou-se dos gentios, temendo os que eram da circuncisão.

Os demais judeus também se uniram a ele nessa hipocrisia, de modo que até Barnabé se deixou levar.  Quando vi que não estavam andando de acordo com a verdade do evangelho,declarei a Pedro, diante de todos: “Você é judeu, mas vive como gentio e não como judeu.  Portanto, como pode obrigar gentios a viveram como judeus?

Nós, judeus de nascimento e não ‘gentios pecadores’ Sabemos que o ninguém é justificado pela prática da lei, Mas mediante a fé em Cristo Jesus. Assim nós também cremos em Cristo Jesus Para sermos justificados pela fé em Cristo e não pela prática da lei, porque pela prática da lei, ninguém é justificado". Gálatas 2:11-16

Você já refletiu sobre o que o apóstolo Pedro fez em Atioquia? Essa pergunta merece uma séria reflexão.

Mesmo com pouquíssimas informações confiáveis, frequentemente ouvimos falar sobre as obras do apóstolo Pedro em Roma. Lendas, tradições e fábulas abundam nesse assunto. Infelizmente para esses escritores, a Bíblia é totalmente muda nesse ponto. Nas escrituras não há nada mostrando que o apóstolo Pedro esteve sequer em Roma!

O que fez o apóstolo Pedro em Antioquia? Para esse ponto, dirijo minha total atenção hoje. Esse é o assunto tratado em Gálatas e que encabeça este sermão, afinal de contas, nesse ponto, a Bíblia fala claramente e inequivocamente.

Os seis versos dessa passagem batem em várias questões. Se consideramos o evento descrito, eles estão discutindo, um apóstolo repreendendo o outro! Quando percebemos quem são esses dois homens, Paulo, o mais novo, repreendendo Pedro, o mais velho, eles estão discutindo! Entretanto, se observamos a ocasião, Pedro não cometeu nenhuma falha berrante ou um pecado flagrante à primeira vista. Ainda assim, o apóstolo Paulo diz, “enfrentei-o face a face, por sua atitude condenável”.  Ele faz ainda mais do que isso, ele reprova a notoriedade de Pedro pelo seu erro perante toda a Igreja de Antioquia.  Indo mais além, Paulo escreveu sobre o ocorrido e agora todos sabem desse incidente em duzentos idiomas diferentes pelo mundo.

Acredito que o Espírito Santo deseja que prestemos uma atenção particular a essa passagem bíblica. Se o cristianismo fosse uma invenção humana, essas questões nunca teriam sido divulgadas. Algum impostor teria encoberto as diferenças entre os dois apóstolos. Entretanto, o Espírito da verdade fez com que esses versos fossem escritos para o nosso aprendizado e seremos sábios se dermos atenção ao seu teor.

Devemos aprender com essa passagem, que nos evidencia três grandes lições sobre a Antioquia.
I. A primeira lição é que grandes ministros podem cometer grandes erros.

II. A segunda é que manter a verdade de Cristo na sua igreja é muito mais importante do que manter a paz.

III. A terceira é que não há doutrina alguma que devemos proteger tanto quanto a da justificação pela fé, sem obras da lei.


I. A primeira lição é que grandes ministros podem cometer grandes erros.

Qual prova mais evidente podemos ter do que essa posta diante de nós?  Pedro, sem dúvida alguma, foi um dos melhores na companhia dos Apóstolos. Ele era um discípulo ancião. Ele foi um discípulo com vantagens e privilégios peculiares e uma companhia constante do Senhor Jesus. Ele escutou às pregações do Senhor, viu-O operando milagres, aproveitou o benefício dos ensinamentos privados dEle, foi numerado entre os amigos íntimos do Senhor e entrou e saiu com Ele durante todo o tempo que Jesus ministrou na terra. Pedro foi o apóstolo para quem as chaves do reino dos céus foram dadas e por cujas mãos foram primeiramente usadas. Ele foi o primeiro a abrir a porta da fé para os judeus, ao pregar a eles no dia de Pentecostes; foi o primeiro que abriu as portas da fé para os gentios, ao ir à casa de Cornélio e recebê-lo na igreja; foi o primeiro a levantar-se no Concílio, em Atos 15, dizendo, “por que agora vocês estão querendo tentar a Deus, impondo sobre os discípulos um jugo que nem nós nem nossos antepassados conseguimos suportar?" Ainda assim, esse mesmo Pedro, esse mesmo apóstolo, claramente caiu num grande erro.

O apóstolo Paulo nos diz, “enfrentei-o face a face”. E continua, “por sua atitude condenável”. Ele disse, “temendo os que eram da circuncisão”. Ele falou sobre Pedro e seus companheiro, que “não estavam andando de acordo com a verdade do evangelho”. Paulo fala sobre sua “hipocrisia” e afirma que por meio dela, até Barnabé, seu antigo companheiro na obra missionária, "se deixou levar”. Que fato surpreendente. Esse é Simão Pedro! Esse foi seu terceiro grande erro, que a Bíblia Sagrada achou que deveria ser relembrado! Primeiro, nós o vemos tentando conter nosso Senhor, com todas as suas forças, da grande obra na cruz, e censurou-O severamente. Depois, encontramo-lo negando a Cristo três vezes - e com juras. Agora, vemo-lo pondo em risco a grande verdade do Evangelho de Cristo. Certamente podemos dizer, “Senhor, que é o homem?”. Notemos que, de todos os apóstolos, não há nenhum - à exceção, claro, de Judas Iscariotes – que temos tantas provas de ser um homem falível.

É interessante perceber o descaso com o qual alguns escritores foram tratados, a fim de dar satisfação sobre o significado tão claro desses versos que encabeçam o sermão. Alguns afirmaram que Paulo não repreendeu verdadeiramente Pedro, apenas forjou, para aparecer! Outros afirmaram que não foi Pedro, o apóstolo, o repreendido, mas outro Pedro, um dos setenta! Interpretações como essas não precisam de comentário, visto que são completamente absurdas. A verdade é que o significado claro e honesto desses versos é um golpe certeiro na doutrina preferida da Igreja Católica Romana, que discorre sobre a primazia e a superioridade de Pedro sobre os demais apóstolos.

Tudo isso foi relatado para nos ensinar que até mesmo apóstolos, quando não escrevem sob a inspiração do Espírito Santo, estão sujeitos ao erro. Esses versos tem o intuito de nos ensinar que mesmo os melhores homens são fracos e falíveis enquanto estiverem em seus corpos. Se não fosse a graça de Deus sustentando-os, qualquer um deles poderia se deixar levar a qualquer momento. Isso pode ser humilhante, mas é a verdade. Verdadeiros cristãos são convertidos, justificados e santificados. Eles são membros vivos de Cristo, os amados filhos de Deus e herdeiros da vida eterna. Eles são eleitos, escolhidos, chamados e guardados para a salvação. Eles tem o Espírito, mas não são infalíveis.

Posição e dignidade não garentem infalibilidade? Não, não garentem! Não importa como um homem é chamado, ele pode ser czar, imperador, rei ou príncipe, pode ser pregador, ministro ou diácono. Ainda assim, ele é falível. Nem a coroa, nem o óleo sagrado, tampouco a imposição das mãos, podem precaver um homem de cometer erros.

Números não garantem infalibilidade?
Não, não garentem! Você pode reunir príncipes em grande número, assim como centenas de ministros, entretanto, mesmo estando reunidos, estão sujeitos ao erro. Você pode chamar de conselho, assembleia, conferência ou seja lá o que for. Não importa. Suas conclusões ainda serão conclusões de homens falíveis. A sabedoria coletiva é capaz de cometer erros gritantes.  

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Fonte: [ Projeto Ryle ]
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