Padrão para a Pregação

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por Vincent Cheung


Retenha, com fé e amor em Cristo Jesus, o modelo da sã doutrina que você ouviu de mim. Quanto ao que lhe foi confiado, guarde-o por meio do Espírito Santo que habita em nós. (2 Timóteo 1.13-14)

Paulo tinha estabelecido um “modelo da sã doutrina” para Timóteo seguir. Visto que esse padrão é autoritativo por proceder da inspiração do Espírito Santo, o que podemos dizer com respeito a ele também se aplica aos ensinamentos dos profetas e dos apóstolos, visto que eles também ensinaram por inspiração divina.


A Bíblia fornece um padrão ou modelo de sã doutrina. Ela diz a todos os crentes e especialmente aos ministros para pregar a palavra. Por definição, a pregação da Escritura é distinta da própria Escritura. Portanto, pregar a mensagem da Bíblia não é o mesmo que citar a Bíblia, e pregar um sermão não é apenas ler a Bíblia para uma audiência. Um sermão não é um arranjo de citações da Escritura; antes, o pregador produz a mensagem sobre a base do que ele aprendeu da Escritura. A comunicação fiel do evangelho não consiste de uma repetição verbatim da Bíblia, pois se esse fosse o caso, mesmo conversações ordinárias sobre as coisas de Deus seriam eliminadas.


A ideia bíblica de pregação deixa certa liberdade de variação em termos de expressão, ênfase e coisas semelhantes. Não existe nenhuma base bíblica para fazer do chamado método expositivo de pregação uma prescrição para o que deveria ser um sermão, embora ele represente o que um sermão poderia ser, precisamente devido à liberdade que a Escritura concede nessa área. Todas as tentativas de estabelecer um caso bíblico em favor do método expositivo que examinei inferem muito mais dos textos da Escritura do que eles realmente dizem.


Além disso, juntamente com essas tentativas, uma razão dada pela qual esse método é preferido é que ele é a melhor forma de permanecer fiel à Escritura em nossa pregação. Isso é aceitável como uma opinião, e é de fato uma forma de permanecer fiel à Escritura. Contudo, se usar o método expositivo torna-se uma regra quanto ao que um sermão deve ser, e que outras formas são inferiores ou mesmo erradas, então essa preferência pelo método expositivo tornou-se uma tradição humana antibíblica. Os fariseus também adicionaram regras humanas à palavra de Deus e alegavam que elas eram úteis ou mesmo necessárias, mas Jesus disse que elas tinham o efeito oposto. É verdade que algumas formas de sermão são de fato inferiores e errôneas, mas elas fracassam por seus próprios defeitos, e não por serem diferentes do método expositivo.


Outras razões têm sido promovidas para recomendar o método expositivo. Por exemplo, é dito que sermões expositivos, e especialmente exposições de livros bíblicos inteiros, expõe os ouvintes diretamente a passagens completas da Escritura no contexto apropriado, e dessa forma aumenta a familiaridade deles com a Bíblia, e capacita-os a conhecer e compreendê-la melhor. Esse é um benefício prático, e o pregador poderia preferir o método por causa disso. Contudo, isso ainda não requer que ele use o método. É de fato responsabilidade do pregador aumentar a familiaridade com a Escritura em seus ouvintes, mas nada na própria Escritura requer que ele o faça dessa forma.


O pregador não deve se prender a opiniões e tradições de homens, não importa quão bem intencionadas sejam elas. Se ele usa o método expositivo, é porque ele prefere este por suas próprias razões e baseado em seu próprio julgamento ao pensar que pode cumprir melhor o seu ministério com ele, e não porque é pressionado a fazê-lo. E se ele não pode seguir ou descobrir um método que lhe seja adequado e que siga o padrão da sã doutrina, então ele nem mesmo deveria ser um pregador.


Dessa forma, a Bíblia fornece um padrão ou modelo de sã doutrina, e isso deixa lugar para certa liberdade de variação no método e expressão. Dito isso, o padrão é muito mais que um esboço. É muito mais que um esqueleto – os detalhes sendo preenchidos. Ele é um padrão altamente desenvolvido e um modelo plenamente suficiente. Portanto, embora permita certa medida de fluidez na apresentação, e embora seja adaptável a todos os tipos de conversações, não há espaço para variação, adição ou subtração em sua substância. Isto é, seguir o padrão bíblico de sã doutrina é conformar-se exatamente às suas ideias. Há flexibilidade somente na apresentação.


Para ilustrar. Pedro disse: “Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4.12). Podemos comunicar essa ideia citando o versículo, mas é aceitável também dizer: “A Bíblia ensina que Jesus Cristo é o único caminho para a salvação”. E permanecemos fiéis ao padrão que esse versículo estabeleceu quando afirmamos: “Maomé não pode te salvar. Buda não pode te salvar. Maria não pode te salvar. Somente Jesus Cristo pode te salvar da condenação eterna”. Essas declarações não são encontradas na Escritura, mas se conformam às ideias exatas da Escritura, e não adicionam ou subtraem a substância do que a Escritura ensina.


Visto que a pregação envolve nossa própria expressão de ideias bíblicas, é ainda mais importante que aprendamos essas ideias com precisão, e que cuidemos para preservá-las e promovê-las sem contaminação, guardando-as com vigilância zelosa. Se a pregação é mera leitura da Bíblia ou se envolve apenas exegese rígida, então até mesmo não cristãos podem realizá-la. O que a Bíblia diz sobre as qualificações do ministro não fariam sentido então. Contudo, a qualidade da pregação de fato depende da qualidade do pregador, e isso é verdade porque pregar o evangelho não é apenas ler a Bíblia, mas digerir suas ideias e então transmitir e aplicá-las de uma forma que seja moldada pela formação, personalidade e competência do pregador, bem como pela audiência e a situação a qual ele se dirige. Na pregação, a Escritura não é simplesmente lida, mas “manejada” (2 Timóteo 2.15). Suas ideias são processadas, organizadas, reformuladas e aplicadas pelo pregador. E esse é o motivo pelo qual o pregador deve constantemente se purificar e se esforçar para crescer.


Algumas instruções sobre homilética sugerem que a melhor pregação ocorre quando o ministro sai do caminho o máximo possível e permite que a Bíblia “fale por si mesma”. O método expositivo é então recomendado. Mas a melhor forma de alcançar esse efeito é fazer o ministro ler a Bíblia à sua audiência sem nenhum comentário. Isso, contudo, é ler e não pregar. A Bíblia ordena que preguemos. O ministro deve fazer contribuições decisivas para a forma e conteúdo do seu sermão. Pregar não é sair do caminho, mas sim estar bastante nele.


Nesse sentido, pregar não é deixar a Bíblia falar por si mesma, mas falar por ela. Muitos cristãos se sentem desconfortáveis com isso, mas na extensão em que nossa definição de pregação enfraquecer o papel humano, nessa mesma extensão ela também destrói a própria pregação, e também reduz a nossa responsabilidade na questão. Talvez esse seja o motivo pelo qual muitas pessoas favorecem tal definição em nome de permitir que a Bíblia fale por si mesma: faz-nos sentir como campeões da ortodoxia sem ter que assumir a responsabilidade.

Fonte: Reflections on Second Timothy
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto, julho/2010
Fonte: Monergismo
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