Justificação

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Por Leonardo Dâmaso

Introdução
     
John Macarthur afirma que não há doutrina mais importante para a teologia cristã do que a doutrina da justificação pela fé somente - o princípio sola fide da Reforma.1

Lutero disse que a doutrina da justificação pela fé é o artigo pelo qual a igreja permanece ou cai. Calvino salienta que a doutrina da justificação é o eixo ao redor do qual a igreja gira. Antony Hoekema enfatiza que se a igreja estiver errada nessa doutrina, estará igualmente errada nas demais.2

Explanação

1. A definição de justificação

Em termos simples, podemos definir a justificação como “um ato de Deus pelo qual ele declara o pecador eleito como sendo justo sobre a base da justiça de Cristo, uma vez que a justificação se refere à justiça de Cristo sendo legalmente creditada ao eleito de Deus.”3

Berkhof sintetiza que, com base nessa justiça, todas as ordens da lei são satisfeitas com respeito ao pecador.4 Ou seja, a pessoa passa a ser considerada totalmente justa diante da lei de Deus e todas as exigências da lei são plenamente satisfeitas.5

Nessa mesma linha de pensamento, John Murray afirma que a justificação é simplesmente a declaração a respeito do relacionamento da pessoa com a lei com a qual o juiz tem o dever de julgar.6 John Stott expande este pensamento nestas sublimes palavras:

Justificação é um termo legal ou jurídico, extraído da linguagem forense. O contrário de justificação é condenação. Os dois são o decreto de um juiz (onde se declara o julgado como culpado ou inocente do crime cometido). Dentro do contexto cristão eles são veredictos escatológicos alternativos que Deus como juiz, poderá anunciar no dia do juízo (Hb 4.13). Portanto, quando Deus justifica os pecadores hoje, está na verdade antecipando o seu próprio julgamento, isto é, trazendo até o presente o que de fato faz parte dos últimos dias.7

Portanto, concluímos que a Justificação não é um processo, mas um ato declaratório de Deus. Acontece fora de nós, e não em nós.8 É instantâneo e não gradual. É a ação de Deus em declarar judicialmente que a situação de determinada pessoa está em harmonia com as demandas da lei.9 Noutras palavras, é ser plenamente absolvido do crime cometido como se nunca o tivesse feito.  

2. A necessidade da justificação

A razão insofismável pela qual era necessário haver a justificação é doravante ao pecado. Paulo diz em Romanos 3.23 que todos pecaram, e estão afastados da glória de Deus. (NTLH) Ainda, na carta aos Romanos, o apóstolo expande mais sobre esta realidade da corrupção radical do homem também no (1.21,23-31). Jesus Disse também no sermão do monte em Mateus 5.20 que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus. (ACF)

Não obstante, todos pecaram por estarem unidos pactualmente ao nosso representante federal Adão. Deus imputou o pecado dele a todos. Nós estávamos lá naquele dia em Adão! Partindo deste pressuposto, o homem pós-pecado é morto espiritualmente (Gn 2.16-17; Ez 18.4; Rm 6.23). No entanto, como todos morreram espiritualmente em Adão ao pecar contra Deus, toda a humanidade nasce pecadora, morta espiritualmente e completamente incapaz de se voltar para Deus em arrependimento e fé através de sua escolha (Rm 3.10-12; 1Cor 2.14).

Portanto, foi necessário Deus, pela sua soberania, graça e misericordiosa no conselho trinitariano traçar todo o plano da redenção e enviar Cristo Jesus, o justo, para morrer pelos injustos, para assim sermos justificados por Deus, adotados na família divina e retornarmos novamente a comunhão íntima e profunda com o Pai em espírito (Hb 10.19-20).

3. O autor da justificação

Indubitavelmente, Deus é o autor da justificação dos pecadores eleitos. “A salvação é obra de Deus do começo ao fim. Trata-se de um plano eterno, perfeito e infalível de Deus Pai. Deus planejou nossa salvação antes de lançar os fundamentos da terra.

1 Pedro 1.20 –  Pois vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver que lhes foi transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito, conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês. (NVI)

Não foi a cruz que tornou o coração de Deus favorável a nós; foi o coração terno de Deus que providenciou a cruz. O sacrifício de Cristo no calvário não foi a causa da graça, mas o resultado”.10 “Não foi Jesus Cristo quem tomou a iniciativa, no sentido de fazer algo que o pai relutava ou não estava disposto em fazer. Não há dúvida de que Cristo veio por sua própria vontade e se entregou gratuitamente. Mesmo assim, ele o fez em submissão à iniciativa do Pai”11 (Jo 10.17-18).

4. A base da justificação

Se o autor da justificação é Deus, a base da justificação é a justiça de Cristo. Todavia, o fator que predomina nesta justiça é a obediência de Cristo, a qual é composta pelo aspecto ativo, referente à obediência a lei por nós, e a obediência passiva, que consiste no cumprimento penal dos pecados por meio do sofrimento e morte de cruz.

Todavia, não devemos fazer separação entre ambos os aspectos da obediência. Tanto o lado ativo quanto passivo da obediência do Salvador estão praticamente interligados entre si, e apenas formam o pilar da plena obediência que Cristo obteve durante a sua vida impecável em que esteve presente nesta terra, que culmina na sua justiça como base da nossa justificação. Berkhof ressalta que a base da justificação encontra-se somente na justiça perfeita de Jesus Cristo.12

Isaías 53.12 – Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o seu despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu. (ARA)

Filipenses 2.7-9 – Ao contrário, esvaziou a si mesmo, ao assumir a forma de um escravo, tornando-se como os seres humanos são (natureza humana afetada pelo pecado). E, quando ele surgiu como um ser humano (no estado de humilhação), humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte – (e) morte na estaca (cruz) como um criminoso! (BJC) ... e ser encontrado nele, não tendo a minha própria justiça que procede da lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus e se baseia na fé. (NVI)

Romanos 3.21-22a – Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus, independente da lei, da qual testemunham a Lei e os Profetas, justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que creem. (NVI)

5. A distinção entre a justiça Transferida e a justiça pessoal

Basicamente, o termo imputar ou transferir significa “atribuir algo a uma pessoa”. “Denota creditar ou pôr esse algo em sua conta. O que é imputado ou transferido a pessoa passa a ser legalmente dela; e isto é contado como uma coisa que lhe pertence”.13
 
No contexto bíblico, imputação não significa trocar a natureza ou a essência da pessoa, isto é, a condição anterior, o seu caráter. Entretanto, a imputação somente afeta a posição legal da pessoa. Quando os pecados dos eleitos foram transferidos para Cristo na cruz, isto não fez de Jesus pecador e tampouco contaminou a sua natureza afetando o seu caráter santo. Essa transferência, na verdade, apenas tornou Cristo o responsável legal pelos pecados dos pecadores eleitos.

Sobre esta questão de justiça imputada, Calvino sintetizou a “iustitia aliena, isto é, a justiça que vem de outro, que vem de fora. Todavia, não há nenhuma dúvida de que aquele que é ensinado procurar justiça fora de si próprio é destituído de justiça em si mesmo. Mais adiante, Calvino diz: Você pode ver que nossa justiça não está em nós, mas em Cristo, e que a possuímos somente sendo participantes em Cristo; de fato, com ele possuímos todas essas riquezas”.14 Portanto, conforme diz as Escrituras, a justiça de Cristo é imputada ou transferida a nós. A nossa justificação vem de fora, iustitia extra nos, procedendo da justiça de Cristo. 

Por outro lado, “devemos também ter o cuidado de não confundir a justiça imputada (a qual recebemos pela fé e que é a única base de justificação) com os atos pessoais de justiça (santidade), realizados pelos crentes como resultado da obra do Espírito Santo em seus corações”.15

Vicent Cheung, com muita propriedade ressalta que “a justificação é uma justiça imputada, e a santificação é uma justiça infundida. A justificação é uma declaração instantânea de justiça, mas a santificação (progressiva, não no aspecto posicional de santificados) se refere ao crescimento espiritual do crente após ele ter sido justificado por Deus”.16

Romanos 4.6-11 Davi diz a mesma coisa, quando fala da felicidade do homem a quem Deus credita justiça independente de obras: Como são felizes aqueles que têm suas transgressões perdoadas, cujos pecados são apagados. Como é feliz aquele a quem o Senhor não atribui culpa. Destina-se esta felicidade apenas aos circuncisos ou também aos incircuncisos? Já dissemos que, no caso de Abraão, a fé lhe foi creditada como justiça. Sob quais circunstâncias? Antes ou depois de ter sido circuncidado? Não foi depois, mas antes! Assim ele recebeu a circuncisão como sinal, como selo da justiça que ele tinha pela fé, quando ainda não fora circuncidado. Portanto, ele é o pai de todos os que creem, sem terem sido circuncidados, a fim de que a justiça fosse creditada também a eles; (NVI)

6. O agente da justificação

Conforme vimos anteriormente, o autor da justificação é Deus e sua maravilhosa graça; a base da justificação é a justiça de Cristo, não obstante, o agente ou o meio da justificação é a fé. “A regeneração precede tanto a fé como a justificação, e nunca é dito que ela segue ou resulta da fé, nem que deve sempre ser confundida com a justificação. É a regeneração que leva à , e é a que leva à nossa justificação”.17

Gálatas 2.16b Assim, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo...

É dito na Escritura, principalmente por Paulo no NT, que “a fé justifica porque ela recebe e abraça a justiça de Cristo oferecida no evangelho”.18 “A fé, para Calvino, era apenas a causa instrumental da justificação. Somente Deus justifica. Então, nós transferimos esta mesma função a Cristo porque a ele foi dado ser nossa justiça. Heber Carlos de campos afirma que é pela fé somente que o homem é justificado, mas a fé em si mesma não justifica. Através dela o homem abraça a Cristo por cuja graça somos justificados.19

Comparamos a fé a uma espécie de vaso. A menos que venhamos esvaziados e com a boca de nossa alma aberta para procurar a graça de Cristo, não seremos capazes de receber Cristo.20 Portanto, a fé é nossa resposta divinamente capacitada ao chamado eficaz de Deus, e a justificação é a resposta à nossa fé, a qual, antes de tudo, veio de Deus (2Tm 2.24-26).21

7. Quando ocorre a justificação?

Sobre o tema em pauta, Berkhof escreve:

Em Romanos 8.29-30 a justificação está entre os dois atos de Deus realizados no tempo (antes de todas as coisas), os quais são a vocação eficaz e a glorificação, sendo que esta começa no tempo presente (a partir da conversão) e se completa na eternidade futura. Estes três juntos: conhecimento, predestinação e chamado resultam de outros dois que são explicitamente indicados como eternos, a saber - justificados e glorificados eternamente.

Entretanto, o Espírito não aplicou, nem poderia aplicar este ou qualquer outro fruto da obra de Cristo desde a eternidade. Contudo, podemos falar de uma justificação do corpo global de Cristo que aconteceu em sua ressurreição (Rm 4.25), mas esta justificação é puramente objetiva, e, portanto, não deve ser confundida com a justificação pessoal do pecador (no ato da conversão).22

Portanto, mesmo que os eleitos de Deus já tenham sido conhecidos, predestinados, chamados, justificados e glorificados por Deus em Cristo antes mesmo da criação e da queda, contudo, os eleitos não nascem regenerados, mas mortos espiritualmente. Sendo assim, eles precisam se arrepender de seus pecados e vir a crer em Jesus como o seu salvador para que possam receber todos os benefícios da obra de Cristo em suas vidas.

8. A extensão da justificação

Via de regra, a extensão da justificação nos remete a extensão da expiação de Cristo. Para entendermos até onde a justificação abarca, precisamos entender primeiro por quem Cristo morreu? Por todas as pessoas ou somente pelos seus eleitos? Conforme diz a tradição reformada – “Deus justifica somente o seu povo, sua igreja, aqueles que pertencem a Deus, aqueles que o Pai entregou ao Filho para que por eles morresse e ressuscitasse”.23

Em Romanos 8.33 é dito claramente que a extensão da justificação está limitada somente aos eleitos de Deus, os quais ele justificou por meio da obra redentora de Cristo. Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. (NVI)
A morte de Cristo pelo mundo inteiro ou por todas as pessoas em geral, conforme vemos dentre tantos textos como (Is 53.4-12; Mt 26.28; Mc 10.45; Jo 1.29; Jo 3.16; Rm 5.7-10; 1Cor 15.3; Gl 1.3-4; Tito 2.14; 1Jo 2.1-2; Hb 2.9; Ap 5.8-9; Mc 4.11-12; Jo 10.11,15, 26-28; Jo 17.6-9, 19-21) não deve ser entendida no âmbito universal, isto é, que a morte de Jesus foi pelos eleitos e para os não eleitos, para os crentes e para os que nunca vão querer ser crentes.

Não obstante, expressões como esta não significam em todo o contexto das Escrituras que a extensão é universal, mas simplesmente ela utiliza destes termos – mundo, por todos e por nós para sintetizar a universalidade e diversidade dos vários eleitos espalhados por todo mundo.

Apocalipse 5.9 ... pois foste morto, e com teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação. (NVI)
 
Ronald Hanko corrobora que o que tais passagens ensinam é que Cristo morreu por todos os homens sem distinção, não por todos os homens sem exceção. Em outras palavras, tais passagens ensinam que Cristo morreu por todos os tipos de homens (1Tm 2.6a), por todos que estão nEle (1Cor 15.22), ou pelo mundo de seu povo, isto é, por seus eleitos de todas as nações.24

Concluímos, então, que, assim como a expiação de Cristo foi limitada, a justificação também é limitada, isto é, restrita e eficaz somente nos eleitos para a salvação. Em contrapartida, quanto à humanidade não eleita por Deus, ainda sim, eles desfrutam e participam também dos benefícios da morte vicária de Jesus, porém, não para a salvação e justificação, mas no que se refere a uma providência geral, que incluí bênçãos materiais, saúde, prosperidade, dentre outras coisas.

Conclusão

Duas considerações finais acerca dos benefícios da justificação:

1) A doutrina da justificação nos dá esperança para a salvação mediante a fé na justiça de Cristo nunca será perdida (1Pe 1.5).

2) A doutrina da justificação nos remete a confiança e alegria de que nossos pecados foram pagos e perdoados na cruz de Cristo pelos seus méritos, e que Deus nunca irá nos punir, nos condenando ao castigo eterno (Rm 8.1). Por outro lado estamos sujeitos a consequência de pecados cometidos e a disciplinas oriundas do Senhor por causa deles (Hb 12.5-11).

Na justificação, Deus não nos torna justos, Ele perenemente nos declara justos, completamente inocentes como se jamais houvéssemos pecado contra Ele! É Deus declarando o culpado como inocente, o injusto como justo!

2 Coríntios 5.19 – Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação. (ARC)

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NOTAS:
1. John Macarthur. Artigo: Muito antes de Lutero: Jesus e a doutrina da Justificação.
2. Antony Hoekema. Salvos pela Graça, pág 155.
3. Vicent Cheung. Teologia Sistemática, pág 184-185.
4. Louis Berkhof. Teologia Sistemática, pág 510.
5. Franklin Ferreira. Teologia Sistemática, pág 254.
6. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 109.
7. John Stott. Romanos, pág 124.
8. Hernandes Dias Lopes. Comentário Bíblico de Romanos, pág 165.
9. Ibid, pág 166.
10. Hernandes Dias Lopes. Comentário Bíblico de Romanos, pág 168.
11. John Stott. Romanos, pág 127.
12. Louis Berkhof. Teologia Sistemática, pág 520.
13. David S. Steele e Curtis C. Thomas.  Justificação pela Fé (A dupla imputação). Jornal: Os Puritanos.
14. Calvino. Institutas da religião Cristã, III, 11,23.
15. David S. Steele e Curtis C. Thomas. Justificação pela Fé (A dupla imputação). Jornal: Os Puritanos.
16. Vicent Cheung. Teologia Sistemática, pág 188.
17.  Ibid, pág 185.
18. Calvino. Institutas da religião Cristã, III, 11,17.
19. Heber Carlos de Campos. A justificação pela fé nas tradições Luteranas e Reformadas.
20. Calvino. Institutas da religião Cristã, III, 11,17.
21. Vicent Cheung. Teologia Sistemática, pág 185.
22. Louis Berkhof. Teologia Sistemática, pág 516-517.
23. Heber Carlos de Campos. A justificação pela fé nas tradições Luteranas e Reformadas.
24. Ronald Hanko. Doctrine according to Glodiness, Reformed free publishing Association, pág 155-156.

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Fonte: Bereianos
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O Pacto e a Predestinação

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Por Rev. Herman Hoeksema


A reprovação está imediatamente conectada com a eleição, mas não pode ser colocada a par com a eleição. A reprovação segue a eleição, e a reprovação serve à eleição. A reprovação tem o seu motivo na vontade divina de realizar o pacto na forma antitética de pecado e graça. A plenitude da deidade habita no Cristo ressurreto. Da profundeza de miséria e morte, Cristo entra na glória da plena vida pactual de Deus. Esse caminho do sofrimento à glória, do pecado à justiça do reino dos céus, da morte para a vida, a igreja deve seguir. À medida que a igreja segue esse caminho, a casca réproba do organismo humano serve à igreja em Cristo. Na casca da reprovação o núcleo eleito se torna maduro. Por essa razão, a reprovação não pode ser colocada na mesma linha da eleição. 

A eleição é a pré-ordenação divina da igreja, com seus milhões de eleitos, para a salvação da vida do pacto de Deus em Cristo. A igreja serve a Cristo. A igreja eleita é dada a Cristo como o seu corpo. Ela deve servir para manifestar e radiar numa forma multiforme a glória que está em Cristo Jesus, que é a glória de Deus. Por essa razão, os eleitos são aqueles que são dados pelo Pai a Cristo. Aqueles que são dados formam uma unidade. Todo aquele (no singular) que o Pai me dá, esse virá a mim; e aqueles (no plural) que vêm a mim, de modo nenhum os lançarei fora (João 6:37, versão do autor). 

Esse é o ensino da Escritura. Novamente, essa apresentação tem sido objetada que a palavra eleição é uma tradução do grego ἐκλογή, que na verdade significa “escolher dentre”. Disso é argumentado que se é possível falar de eleição ou escolha dentre, então a multidão da qual a escolha é feita deve ser pressuposta existir. Aplicado à eleição eterna, isso significaria que no decreto de Deus a multidão de homens dentre a qual Deus elege seu povo deve preceder a própria eleição. Conclui-se então que no conselho de Deus o decreto de criação e a permissão da queda certamente devem preceder o decreto de predestinação. Por conseguinte, Deus escolheu dentre uma multidão de homens caídos. 

Por detrás dessa apresentação reside indubitavelmente a boa intenção de não fazer de Deus o autor do pecado. Podemos observar, primeiro, que de fato deve estar longe de nós o fazer de Deus o autor do pecado. Contudo, é uma questão inteiramente diferente se Deus deve ou não ser apresentado como a causa decretadora do fato da queda e do fato do pecado. Se não queremos destronar Deus e apresentar Deus e o pecado como um dualismo, certamente devemos manter que Deus é a causa decretadora do fato do pecado. 

Segundo, o infralapsariano, a despeito de todas as suas boas intenções, não resolve no final das contas o problema do pecado em relação a Deus mais que o supralapsariano o faz. O infralapsariano também terá que dar ao pecado um lugar no decreto de Deus. 

Com respeito à argumentação a partir da palavra ἐκλογή (eleger), podemos dizer que ela reside num mau entendimento. Esse equívoco é que a pessoa aplica a Deus o que é aplicável somente aos homens. Quando os homens elegem, nada vem à existência por causa disso. Os homens podem apenas fazer distinção e separação. Por conseguinte, quando os homens escolhem, aquilo dentre o qual a escolha é feita deve existir primeiro. Mas com Deus é exatamente o oposto. Com ele a eleição é causal, criativa e divina. 

Essa distinção é a mesma daquela entre a palavra divina e a palavra humana. A palavra de Deus é criativa. Essa palavra vem primeiro. A coisa que vem à existência por meio da palavra vem em seguida. A palavra do homem pode ser apenas uma imitação da palavra de Deus. Antes que o homem possa falar, a coisa criada deve primeiro ter vindo à existência pela palavra de Deus. O mesmo é verdade da eleição. Quando Deus em seu decreto escolhe dentre, então por meio desse decreto a diferenciação ou a multidão diferenciada vem à existência. Em outras palavras, a eleição de Deus é primeiro de tudo pré-ordenado para a salvação e para a glória da vida pactual em Cristo. 

Assim é na Escritura. Em outra conexão já apontamos o fato que a Escritura fala de uma eleição antes da fundação do mundo: “Nos elegeu nele antes da fundação do mundo” (Ef. 1:4). Isso não significa que esse “antes da fundação do mundo” é simplesmente antes do mundo ou da fundação do mundo no tempo. A eternidade, na qual reside o decreto de Deus, não precede o tempo, mas está muito acima do tempo; ela não é tempo. 

Além disso, a Escritura frequentemente fala do fato que Deus conhece o seu povo: 

Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou (Rm. 8:29, 30). 

Em 1 Pedro 1:2 lemos: “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo”. 

Esse pré-conhecimento de Deus não pode e não deve ser explicado de uma forma humana, como o arminiano deseja explicá-lo. Então pegamos a ideia de uma presciência de Deus, de um ver desde a eternidade quem irá e que não irá crer em Cristo e perseverar até o fim, e de uma eleição baseada sobre esse pré-conhecimento. De acordo com tal apresentação, o que é aplicável somente ao conhecimento humano é aplicado a Deus. Antes, esse pré-conhecimento de Deus é um conhecer criativo de amor, pelo qual o objeto vem a estar diante de Deus, e a corrente de amor soberano jorra dele. Somente nessa luz podemos entender uma passagem como Isaías 43:4 (ARA): “Visto que foste precioso aos meus olhos, digno de honra, e eu te amei, darei homens por ti e os povos, pela tua vida”. Devemos ver na mesma luz Isaías 49:16: “Eis que, na palma das minhas mãos, te tenho gravado; os teus muros estão continuamente perante mim”. 

Essa, então, é a conclusão do assunto concernente ao pacto de Deus: Deus quer revelar sua vida pactual gloriosa a nós; como o Deus triúno ele ordena seu Filho para ser Cristo e Senhor, o primogênito de toda a criação, o primogênito dentre os mortos, o glorificado, em quem habita toda a plenitude da divindade; para esse fim ele ordena a igreja e lhe dá a Cristo, e ele elege por seu nome todos aqueles que na igreja terão um lugar para sempre, para que a plenitude (πλήρωμα) de Cristo possa cintilar numa variação multiforme na igreja para o louvor de sua glória. Ao redor desse Cristo e sua igreja e desse propósito da revelação da glória da vida pactual de Deus, todas as coisas no tempo e na eternidade duradoura se concentram. O fim disso tudo é que nos prostremos em adoração perante esse glorioso Deus soberano e exclamemos, 

Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Porque quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém! (Rm. 11:33-36). 

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Fonte: Reformed Dogmatics – Volume 1, Herman Hoeksema, Reformed Free Publishing Association, pg. 477-80.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
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Jerusalém é a Terra Santa?

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Por Thiago Oliveira


Todos os anos, milhões de pessoas viajam para Jerusalém com o objetivo de conhecer os locais considerados sacros. Muitas igrejas evangélicas tentam ir, ao menos uma vez por ano, para Israel e dizem que a experiência mística é completamente diferente. Existem agências de viagem especializadas no turismo religioso para a “Terra Santa”. É um mercado bem explorado e rentável. Não nego que deve ser emocionante pisar nos mesmos lugares que Jesus e os Doze pisaram. Localidades que lemos sobre elas nos Evangelhos. Todavia, devemos ter o cuidado de não deixar que a emoção sobreponha a razão e negue algo que está claro nas Escrituras: Jerusalém não é uma terra santa.

Não existe respaldo bíblico para afirmarmos que exista um território físico, hoje, mais santo do que qualquer outra parte do planeta. Tal conclusão é um equívoco de uma promessa de Deus feita para seu povo. Quando olhamos para o conceito da “terra prometida” na Bíblia, temos que observá-la na perspectiva da redenção. Quando o pecado entrou no mundo, através do primeiro casal, não apenas o homem foi infectado, toda a terra foi. Deus disse a Adão: “Maldita é a terra por tua causa” Gn 3.17.

Se observarmos para os efeitos noéticos que o pecado causou em toda a terra, entenderemos melhor a promessa feita à Abraão (Gn 12.1). Um lugar especial entregue para os descendentes do patriarca hebreu foi reafirmado para Moisés, responsável por conduzir os hebreus do cativeiro Egípcio para Canaã (mas não entrou com eles), terra que mana leite e mel (Ex 3.8). Todavia, este local não era o único em que o Senhor habitava, não podemos restringir Deus a um pedacinho do mundo criado e governado por Ele. Afinal: “Ao Senhor, ao seu Deus, pertencem os céus e até os mais altos céus, a terra e tudo o que nela existe.” Dt 10:14.

Temos que entender que a posse desta terra dada aos hebreus, serve como mais uma das tipologias da antiga aliança. Abraão não seria apenas herdeiro de um pedaço de chão na Palestina, ele seria herdeiro do mundo (Rm 4.13). E assim ele se torna pai de muitas nações (Rm 4.16-17) e não apenas dos judeus. Canaã, e mais especificamente Jerusalém, cumpriu um papel de “sombra” para aquilo que na nova aliança se tornaria realidade. Da mesma forma que o tabernáculo, a lei, o sacerdócio e os sacrifícios não tinham um fim em si mesmo, mas apontavam para a plenitude da pessoa e do ministério de Cristo, assim também devemos entender a questão da terra. O próprio Abraão entendeu que embora a posse da terra fosse algo que aconteceria de maneira factível, ele já havia compreendido que empossar-se dela era um indicativo de que herdaria algo maior. Além de antever a Jerusalém terrena, ele anteviu, creu e ansiou pela Jerusalém celestial (Hb 11.16). 

Em Isaías 19:18-25 temos uma predição de futuro que abraça a ideia da redenção do mundo  e qual o papel de Israel nisso. A Salvação chegará ao Egito e lá será um centro de adoração a Deus (vs. 18 e 19). Isto é uma representação da salvação do mundo gentílico. Israel será mediador deste plano, pois vem dela o Salvador (Jo 4.22). O profeta fala de uma estrada que será construída do Egito até a Assíria (v. 23). Tal estrada é um caminho que corta Jerusalém, e os egípcios passarão para a Assíria e os assírios passarão para o Egito para cultuarem juntos. Reparem que Jerusalém não é tida como o centro da adoração. Os dois povos representando o mundo gentio ganham o status que pertencem a Israel “benção” e “obras de minhas mãos” (v.25). Assim Israel cumpriu o seu propósito de que por meio dela, seriam abençoadas todas as famílias da terra (Gn 22.18). Assim todos que estavam distantes agora estão perto (Ef 2.14-17).

Atualmente vemos o cenário de guerra em que vive a nação de Israel. Eles reclamam para si aquele território físico e fazem dele o objeto final da promessa que Deus fez lá no passado para Abraão. Isto é uma demonstração do endurecimento em que ainda vivem muitos judeus, os quais negam que Cristo seja o Messias que as Escrituras apontavam. Tal como no tempo dos Macabeus ou no tempo dos Zelotes, os israelenses querem um Messias político que reine com eles na Palestina. Esta negação é um retrocesso, pois exige a continuação da antiga e limitada aliança. Estar debaixo de uma ordenança da antiga aliança é desprezar a obra de Cristo. Paulo exemplifica isso ao tratar da circuncisão, outra “sombra” da antiga aliança: “Ouçam bem o que eu, Paulo, lhes digo: Caso se deixem circuncidar, Cristo de nada lhes servirá” Gl 5.2.

Ademais, a aliança é condicional (Ex 19.5). A terra não é um presente de Deus para os ímpios, mas para os justos (vide Sl 37), a justificação veio por meio da fé em Cristo, então apenas os crentes no Senhor Jesus são, mediante a graça divina, considerados justos (Rm 3.21-26). Também devemos alertar para o que o apóstolo Paulo falou acerca de Jerusalém, quando traçou o comparativo entre os dois filhos de Abraão: Ismael, o filho da escrava Hagar e Isaque, o filho da livre, que é Sara: “Hagar representa o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à atual cidade de Jerusalém, que está escravizada com os seus filhos. Mas a Jerusalém do alto é livre, e essa é a nossa mãe” Gl 4.25-26. 

Portanto, podemos concluir que Jerusalém não é a terra santa e que este adjetivo não mais lhe cabe. Enquanto, nos moldes da antiga aliança, o Templo situado no centro da Cidade era o local em que estava a Shekinah, o título era adequado. Mas o Senhor tirou a Sua glória do Templo antes da chagada dos babilônicos (vide Ez 10) e mesmo após ter restaurado a glória da segunda casa (Ag 2.9), Jesus rasgou o véu do Templo (Mt 27.51) e este foi novamente destruído no ano 70 pelos romanos. Hoje a glória do Senhor está naqueles que O adoram, nem em Jerusalém e nem em Samaria, mas em Espírito e em Verdade (Jo 4.23-24). Deus, em Cristo, redimiu toda a terra que Adão maculou. Aguardemos então a verdadeira Jerusalém, santa e imaculada, no qual Jesus é o Senhor e que foi revelada a João, o apóstolo amado. Lá:

- Deus estará presente, habitando no meio do Seu povo (Ap 21.3).

- Não haverá morte, nem sofrimento, nem dor (Ap 21.4).

- Teremos acesso direto a fonte da vida (Ap 21.6).

- Não será preciso santuário, pois a glória do SENHOR iluminará todo o local (Ap 21. 22-24).

- Não terá nada contaminado pelo pecado (Ap 21.27).

- Nesse lugar, o fruto da árvore da vida, negado a Adão e Eva, enfim nos será dado (Ap 22. 2).

- A maldição será totalmente abolida do meio do povo remido (Ap 22.3).

Maranata! Ora, vem Senhor Jesus! (Ap 22.20)

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Fonte: Bereianos
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Como evangelizar seus colegas de trabalho?



Por Ashok Nachnani


Conforme cresce a oposição cultural ao cristianismo, qual é o efeito disso no evangelismo que você faz no trabalho? Você está mais fiel ou mais temeroso?

Você dificilmente poderia ser culpado por estar mais temeroso. O rápido avanço do liberalismo social e das políticas de recursos humanos promovendo “tolerância” no local de trabalho apenas exacerbam os dois medos que comumente citamos para o não compartilhamento do evangelho com nossos colegas de trabalho: medo de má reputação e medo de repercussões na carreira, como perda de emprego ou estagnação da carreira.

O evangelismo sempre foi difícil. Se existe qualquer coisa nova a respeito dos nossos desafios de hoje é quão fortalecida a oposição parece estar. Não cristãos costumavam dizer “cada um na sua”. Agora eles estão mais propensos a nos acusar de estupidez (“Sério, você não acredita na evolução?”) ou de fanatismo intolerante (“Como você ousa dizer que homossexualismo é um pecado?”). Empregadores cada vez mais pesquisam nas mídias sociais sobre a vida dos candidatos ou empregados antes de tomarem decisões de contratação ou promoção. Há quanto tempo empresas que temem assédio moral e discriminação no ambiente de trabalho trocam o cristão mais visível por alguém menos notável?

Apesar de tudo isso, eu sou muito grato pelos irmãos que temeram mais a Deus do que ao homem e compartilharam o evangelho comigo. Minha própria fé é fruto do evangelismo no local de trabalho.

Perdido e achado no local de trabalho

Doze anos trás, eu era um pesquisador em uma firma de consultoria de médio porte em Washington, DC. Eu era um hindu autoconfiante, autossuficiente e profissionalmente próspero. Você não diria que eu era espiritualmente inseguro. Francamente, eu não sabia que eu era espiritualmente inseguro. Eu realmente não era um cara que estava me esforçando para buscar Cristo.

Entra meu colega cristão, Hunter. Bem conhecido e querido no escritório, Hunter era um vendedor de alto desempenho com uma gama de interesses. Alguém me disse: “Ele é cristão, sabia?” Nenhum de nós sabia por certo o que isso significava, mas ambos acreditávamos que isso era relevante o suficiente para acrescentarmos um tendencioso “Hum...”.

Eu sabia que Hunter não se encaixava no molde de um cristão que eu tinha construído mentalmente. Cristãos eram “legaizinhos”, antiquados, hipócritas, monótonos. Hunter não era assim. Então comecei a observá-lo.

Nós nos tornamos amigos. Nós passávamos tempo juntos e conversávamos sobre diversos tópicos: Os Simpsons, O Senhor dos Anéis, Cristo, Krishna, café, trabalho. Enquanto o Senhor usava o Hunter para me buscar, eu nunca me senti como um projeto, mas sim um amigo. Como só Deus é capaz de fazer, ele providenciou que Hunter estivesse comigo no mesmo momento em que ele orquestrava uma crise espiritual na minha vida. E ele deu a Hunter a sabedoria e a ousadia para falar a verdade à minha vida quando eu mais precisava.

Comportamentos de um evangelista no local de trabalho

Embora ele mesmo fosse jovem na fé na época, há muito no exemplo de Hunter que qualquer crente pode aplicar no contexto do ambiente de trabalho.

1. Lance Cristo sobre a mesa

Primeiro, lance Cristo sobre a mesa. Visto que pode ser raro conhecer cristãos no local de trabalho, é essencial que as pessoas no seu escritório saibam que você é um seguidor de Cristo. Assim, você pode se disponibilizar para crentes mais fracos e ser um exemplo para incrédulos. Foi um colega não cristão que me disse sobre a fé de Hunter. Obviamente nós não devemos fazer isso de forma ofensiva ou irresponsável, mas falar sobre o fim de semana, descrever um estudo bíblico do qual participa ou compartilhar como você ora pelos outros fará com que as pessoas logo saibam que você é cristão.

2. Trabalhe com excelência

Segundo, trabalhe com excelência. Quando você lança Cristo sobre a mesa, espere ser estudado pelos seus colegas assim como eu estudei o Hunter. Trabalhe de uma maneira que reflita a criatividade, o propósito e a bondade de Deus. Demonstre fidelidade e integridade. Trabalhe “sem murmurações nem contendas” (Fp 2.14). Submeta-se àqueles em autoridade e sirva humildemente.

Isso, em si mesmo, não é evangelismo, mas o conteúdo das nossas vidas no trabalho deve reforçar, não enfraquecer, o conteúdo da mensagem do evangelho que compartilhamos.


3. Ame os seus colegas

Terceiro, ame os seus colegas. Invista em amizades com não cristãos no seu local de trabalho, não de forma superficial como “projetos”, mas amando-os como tendo sido feitos à imagem de Deus. Não subestime a importância da confiança. Considere que foi um ano e meio depois de Hunter e eu termos nos conhecido que nós estudamos a Bíblia juntos e Deus me deu ouvidos para o evangelho.

Use o seu horário de almoço estrategicamente. Quando possível, faça uso generoso da hospitalidade, onde você possa compartilhar a sua vida com um colega longe do escritório e das brincadeiras e conversinhas de escritório.

4. Prepare-se para evangelizar

Quarto, prepare-se para evangelizar. Por mais bobo que isso possa parecer, certifique-se de que você sabe facilmente explicar o evangelho. Pratique se for preciso.

Quando o Senhor fornece uma oportunidade, você não quer a sua voz interna gritando com você por não ser claro — você quer a sua mente livre para ouvir o seu colega e o que ele está lutando para entender. Afinal, é o evangelho que salva, não a nossa perspicácia e profundo conhecimento de apologética. Eu louvo a Deus pela clareza, ousadia e confiança no poder do evangelho que Hunter possuía.

5. Ore

Quinto, ore. Ore pelos seus colegas regularmente. Ore por boas oportunidades de compartilhar o evangelho. Ore para que você cresça em ousadia. Ore para que Deus seja grande e o homem seja pequeno — todos nós somos culpados de misturar os dois.

E convide irmãos e irmãs da sua igreja para orar também. Hunter mais tarde me disse que seu grupo de estudo bíblico de homens estava orando por mim desde o momento em que eu perguntei a ele a respeito da fé cristã que ele tinha.

Um chamado à fidelidade

Conforme os locais de trabalho ficam cada vez mais hostis para o cristianismo, essas práticas básicas se tornam cada vez mais essenciais. O Senhor tem sido bom em responder minhas muitas orações por boas oportunidades e por palavras para falar. Ser conhecido como cristão, viver a minha fé profissionalmente e de forma interpessoal, e amar os meus colegas como portadores da imagem de Deus me deram oportunidades de falar abertamente sobre a minha fé. E, em sua maravilhosa graça, Deus escolheu me usar para trazer um colega à fé.

Nós devemos esperar que o Senhor responda as nossas orações e nos conceda oportunidades de falar de Cristo, então ore por ousadia. E esteja disposto a gastar seu “capital relacional”. Deus colocou você onde está por um propósito.


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Fonte: 9Marks
Tradução: Alan Cristie
Via: Ministério Fiel

A cosmovisão cristã, a cosmovisão ateísta e a lógica

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Por Matt Slick


Pode uma ateísta apresentar uma razão lógica de como sua cosmovisão pode dar satisfações para as abstratas leis da lógica? Eu penso que não. Mas, a cosmovisão Cristã pode. A cosmovisão cristã declara que Deus é o autor da verdade, lógica, leis físicas etc. Ateístas mantêm que leis físicas são propriedades da matéria, e que a verdade e lógica são convenções relativas (princípios consentidos). Isto é logicamente defensável? Apresento este esboço na esperança de esclarecer o assunto e apresentar, o que eu considero, um problema insuperável da cosmovisão ateísta. Eu hesito declarar que isto seja uma prova que Deus existe, mas eu creio isto seja uma evidência da absoluta natureza de Deus. Este argumento é adaptado do Argumento Transcendental defendido por Greg Bahnsen.

Como os cristãos descrevem as Leis da Lógica?

A cosmovisão cristã declara que Deus é absoluto e o padrão da verdade.

Então, as leis absolutas da lógica existem porque refletem a natureza absoluta de Deus. 

Deus não criou as leis da lógica. Elas não foram trazidas à existência, desde que elas refletem os pensamentos de Deus. Desde que Deus é eterno, as leis da lógica também são. [1]

O Homem, ser criado à imagem de Deus, é capaz de descobrir essas leis da lógica. Ele não as inventou.

Então, o Cristão pode declarar a existência das leis da lógica por reconhecer sua origem em Deus e que o Homem é único capaz de descobri-las.

Apesar disso, o Ateísta pode dizer que esta resposta é simplista e conveniente. Pode ser, porém, pelo menos a cosmovisão cristã pode explicar a existência da lógica e si mesma.

Exemplos da Leis da Lógicas

Lei da Identidade – algo é o que é. As coisas que existem tem uma natureza definida.
Lei da Não Contradição – algo não pode ser e não ser ao mesmo tempo, na mesma forma e no mesmo sentido.
Lei do Terceiro Excluído – uma proposição ou é verdadeira ou falsa. Assim, a declaração “uma proposição ou é verdadeira ou falsa” é verdadeira ou falsa.

Como o Ateísta descreve as Leis da Lógica.

Se o Ateísta declara que as leis da lógica são convenções (mutuamente combinada sob conclusão), então as leis da lógica não são absolutas porque elas são sujeitas ao “voto”.

As leis da Lógica não são dependentes das mentes de pessoas diferentes, desde que pessoas são diferentes. Então, elas não podem ser baseadas no pensamento do homem, pois os pensamentos dos homens são frequentemente contraditórios.

Se o Ateísta declara que as leis da lógica são derivadas por observar princípios naturais encontrados na natureza, então ele está confundindo a mente com o universo.

Nós descobrimos leis da física por observar e analisar o comportamento das coisas em nosso redor. As leis da lógicas não são resultados de comportamento observável dos objetos ou ações.

Por exemplo, na natureza não se ver nada que seja e não-seja ao mesmo tempo.

Por que? Porque nós só podemos observar fenômenos que existem, não um que não existe. Se algo não é, então não existe. Como pode, então, as características de algo não existente serem observadas? Elas não podem.

Então, nós não descobrimos a lei da lógica pela observação, mas pelo pensamento.

Ou, onde na natureza nós observamos que alguma não pode trazer em si mesma à existência se ela não já existe?

Você não pode fazer observações sobre como alguma coisa que não ocorre se ela não existe. Você não deveria, principalmente, observar coisa alguma, e, como pode qualquer lei da lógica ser aplicada ou derivada, nada observando?

As leis da lógica são realidades conceituais. Elas apenas existem na mente e elas não descrevem o comportamento físico das coisas porque comportamento é ação, e leis da lógica não são descrições de ação, mas de verdade.

Em outras palavras, leis da lógica não são ações. Elas não são declarações sobre conceituais de pensamentos padrão. Embora alguém pudesse dizer que a lei da física (i.e, o anglo da reflexão é igual ao anglo da incidência) é uma declaração que seja conceitual, isto é uma declaração que descreve um ato físico e comportamento observável. Mas, lógica absoluta não é observável e não descreve comportamento ou ação das coisas, desde que ela reside completamente na mente.

Nós não observamos as leis da lógica ocorrerem na matéria. Você não observa um objeto trazendo à existência se ele não existe. Então, nenhuma lei da lógica pode ser observável por não vê-las.

Se o Ateísta apela para o método cientifico para explicar as leis da lógica, então ele está usando uma argumentação circular porque o método científico é dependente da lógica; ou seja, raciocinou pensando aplicar a observação.

Se a lógica não é absoluta, então nenhum argumento lógico para ou contra a existência de Deus pode ser levantado, e o Ateísta não tem nada a fazer com isso.

Se a lógica não é absoluta, então a lógica não pode ser usada para provar ou negar o que quer que seja.

Ateístas usarão a lógica para negar a existência de Deus, mas fazendo isto eles estão assumindo o absoluto das leis absolutas e emprestando da Cosmovisão Cristã.

A cosmovisão cristã mantém que as leis da lógica são absolutas porque elas vêm de Deus, que é absoluto em si mesmo.

Mas a cosmovisão ateísta não tem um Deus absoluto.

Então, perguntamos, “como pode leis absolutas, conceituais, abstratas serem derivadas de um universo de matéria, energia e movimento?”

Em outras palavras, “como pode um ateísta com uma pressuposição naturalista explicar a existência da lógica absoluta quando lógica absoluta é conceitual por natureza e não física, energia ou ação?”

Conclusão

A cosmovisão teísta cristã pode explicar as leis da lógica por afirmar que elas foram criadas por Deus.

Deus é transcendente; quer dizer, Ele está além do universo material, sendo seu criador.

Deus deu origem às leis da Lógica porque elas refletem sua natureza.

As leis da lógica são absolutas.

Elas são absolutas porque existe um Deus absoluto.

A cosmovisão ateísta não pode explicar as leis da lógica/absolutas, e deve pegar emprestado da cosmovisão cristã a fim de argumentar racionalmente.

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Nota:
[1] Há, entre os Apologetas e Filósofos Reformados, divergências quanto a esta questão. Alguns, de fato, acreditam que as Leis da Lógica são criadas por Deus(p.e. Herman Dooyeweerd). Aguarde a tradução do artigo do Richard Pratt “Does God Observe the Law of Contradiction? . . . Should We?” (Third Millenium Ministries). Também é preciso afirmar que há, entre os estudiosos da lógica, divergência acerca da Lei da Não-Contradição. Como demonstra Pratt, a visão de Aristóteles tem sido desafiada por inúmeros pensadores modernos como Frege, Ayers, Russell, Einstein, Whitehead, Heisenberg, Lukasiewicz, Zadeh e Kosko. Veja o post anterior.(Nota do tradutor)

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Tradução: Rev. Gaspar de Souza
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