Razões para rejeitar o inclusivismo (Parte 1)

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Os defensores da visão conhecida como inclusivismo argumentam que, embora ninguém seja salvo fora da obra redentora de Jesus, não é necessário ter conhecimento sobre o evangelho ou crer em Jesus para a salvação. O inclusivismo elimina o problema de que aqueles que não ouviram o evangelho não serão salvos, mas isso de maneira alguma significa que o inclusivismo é verdadeiro ou bíblico. Paulo, de fato, ensinou em Romanos 1-3 que apesar do conhecimento geral sobre um Criador estar disponível a todos através da luz da criação, esse conhecimento não traz salvação. Apenas a revelação especial sobre Deus, sobre o pecado, sobre Jesus e a salvação dada aos profetas e apóstolos e que está registrada na Bíblia fornece as informações necessárias para a salvação. Os inclusivistas afirmam que o conteúdo da fé não é crucial e que os não-evangelizados podem até ser salvos praticando suas religiões não-cristãs. No entanto, Paulo fala em Romanos 10:9-10 que um conhecimento de informação verdadeira faz parte da fé salvadora. Paulo também fala claramente que nem ele nem as pessoas incrédulas a quem ele pregou foram salvos antes de acreditar em Jesus Cristo.

Os inclusivistas argumentam que, se Deus salva os bebês e os que tem problemas mentais, que morrem sem nunca ter tido fé em Jesus, então Ele pode salvar aqueles que não foram evangelizados. Este ponto de vista, no entanto, ignora o fato de que os não-evangelizados são responsáveis por seus pecados, enquanto que os bebês e os deficientes mentais não são. Os inclusivistas também tentam apontar para os crentes do Antigo Testamento como exemplo de pessoas salvas que não tinham conhecimento sobre Jesus, mas só porque eles não tinham esse conhecimento explícito não significa que eles não tinham nenhuma outra revelação especial (como os não-evangelizados).

A visão inclusivista de que aqueles que nunca ouviram o evangelho serão salvos tem um impacto negativo sobre as missões cristãs. À luz destes e de outros problemas, o inclusivismo não deve ser considerado uma opção viável aos cristãos.

A grande maioria dos cristãos evangélicos sustentam a opinião de que a crença em Jesus é necessária para a salvação. Esse ponto de vista, conhecido como exclusivismo, pode ser resumido em quatro proposições: (1) Jesus é o único Salvador; (2) a fim de serem salvos, os seres humanos devem saber que eles são pecadores que precisam de salvação e perdão; (3) a fim de serem salvos, os seres humanos também precisam saber quem é Jesus e que Sua morte e ressurreição fornecem a base para essa salvação; e (4) os seres humanos devem colocar sua fé e confiança em Jesus como o único Salvador. Os dois textos seguintes tipificam as muitas passagens bíblicas que indicam que o conhecimento sobre (e a fé em) Jesus são essenciais para a salvação: (1) “A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação” (Romanos 10:9,10); (2) “Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do Filho Unigênito de Deus” (João 3:17,18). Não há outro Salvador além de Jesus, e nenhuma outra religião além do cristianismo bíblico que possa levar os seres humanos até a graça salvadora de Deus.

[…] Se o inclusivismo é verdade, ele elimina um problema que preocupa muitos cristãos: E aquelas pessoas que morrem sem nunca terem ouvido o evangelho? Pense na responsabilidade que é tirada das nossas costas quando adotamos essa visão. Pense no quão mais fácil podemos dormir à noite. No entanto, como cristãos pensantes, reconhecemos que só porque o inclusivismo torna a vida mais fácil ou elimina um problema intrigante, isso não significa que ele seja verdade. Sabemos, sim, que (1) um sistema de crença verdadeiro deve concordar com as Escrituras e (2) que ele deve ser coerente e logicamente consistente. Será que o inclusivismo passa nesses dois testes? Vamos começar a nossa investigação, olhando para o que o inclusivismo tem a dizer sobre o conhecimento.

SERÁ QUE O CONHECIMENTO É NECESSÁRIO PARA SE TER UMA FÉ SALVÍFICA?

Os inclusivistas nos dizem que milhões de pessoas serão salvas sem saber nada sobre a Bíblia ou sobre Jesus. Poderíamos perguntar, então, será que as pessoas não evangelizadas precisam saber de alguma coisa para serem salvas? Pareceria estranho se os inclusivistas argumentassem que a alternativa para entrar no céu por meio do conhecimento sobre Jesus é por meio de um conhecimento sobre nada em particular. Até mesmo John Sanders parece reconhecer o papel do conhecimento quando ele afirma que “algum grau de informação cognitiva é essencial para a fé salvadora” [No Other Name (Grand Rapids: Eerdmans, 1992), 229].

Ao ler autores inclusivistas, no entanto, nunca se deve aceitar a primeira palavra deles sobre um assunto. Eles costumam dar algo com a mão direita e pegá-lo de volta com a mão esquerda. Neste caso Sanders menciona a importância do conhecimento no que diz respeito à salvação, mas em outros lugares ele denigre o lugar do conhecimento na religião. Ele se opõe à crença de que os seres humanos devem possuir certos tipos de conhecimento objetivo como uma condição necessária para entrar em um relacionamento de confiança com Deus. Ele iguala essa crença ao Gnosticismo, um antigo inimigo do cristianismo que considerava a posse de “conhecimento secreto” como chave para a salvação. No entanto, sob esse sentido anti-histórico que Sanders prega, Paulo (Rom. 10:9-10), João (João 20:30-31), e até mesmo Jesus (Mt 16:13-17) seriam culpados de terem ensinado o gnosticismo já que os três reconheciam o conhecimento sobre Jesus como essencial para a salvação.

DUAS FONTES DE CONHECIMENTO

Suponhamos que a fé salvífica exija uma certa medida de conhecimento, ainda que os inclusivistas não façam ideia do que seria o conteúdo mínimo dele. Isso nos leva a fazer a seguinte pergunta: Qual é a fonte desse conhecimento?

Os pensadores cristãos fazem distinção entre duas fontes de conhecimento: a revelação especial e a revelação geral. As revelações extraordinárias que Deus fez a pessoas como Abraão, Moisés e Paulo tipificam a revelação especial. Esse tipo de revelação é “especial” porque Deus a deu a determinadas pessoas em determinadas épocas e lugares. Essa revelação também tem uma função especial, ou seja, a de fornecer aos seres humanos um conhecimento sobre o Deus em três Pessoas (e que não pode ser obtido pelo simples exercício da razão humana), tornando possível uma relação salvífica com Ele. A revelação especial foi registrada e preservada na Bíblia. A revelação geral, como o próprio nome indica, é a revelação que Deus coloca à disposição de todos os seres humanos à parte da revelação especial. A última metade de Romanos 1 afirma que os seres humanos podem vir a conhecer certas coisas sobre o Criador (Deus) com base no conhecimento de Sua criação. A revelação geral também dá aos humanos a uma compreensão moral geral, de modo que, mesmo sem a Bíblia certos tipos de conduta são entendidos como sendo errados.

Os inclusivistas acreditam que a revelação geral é suficiente para levar as pessoas a salvação. Eles insistem que a salvação é acessível a todos os seres humanos, incluindo os milhões que não têm qualquer contato com a revelação especial; portanto, o conhecimento que medeia a salvação para os não-evangelizados não tem que provir da Bíblia. Uma vez que os não-evangelizados, por definição, não possuem a revelação especial, os inclusivistas são forçados a encontrar um papel da revelação geral (que está disponível a todos e que todos podem entender) na salvação. Sanders, por exemplo, argumenta que a palavra “evangelho” tem um significado mais amplo do que simplesmente a boa notícia sobre Jesus. O evangelho, de acordo com os inclusivistas, também pode conter uma luz que está disponível para os não-evangelizados através da revelação geral. Obviamente, essa “luz” não contém informações sobre Jesus. Na verdade, é difícil dizer qual seria o conteúdo informativo contido nessa luz.

Aqui está o problema que os inclusivistas criaram para si mesmos: eles precisam de uma fonte de conhecimento alheio a qualquer informação nas Escrituras, e a única fonte para tal conhecimento é a revelação geral; no entanto, a passagem mais relevante das Escrituras no tocante da revelação geral nos diz claramente que ela não pode salvar! Paulo começou sua carta aos Romanos, explicando que uma das razões pelas quais todos os seres humanos são condenados é porque eles têm resistido a mensagem da revelação geral (Romanos 1:18-20). Ele ensinou que ainda que Deus tenha tornado disponíveis informações importantes para todos os seres humanos através da revelação geral, ela não trouxe salvação a eles. Paulo escreveu: “Não há um justo, nem um sequer” (Romanos 3:10); “Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rom. 3:23). O raciocínio de Paulo em Romanos 1-3 claramente contradiz a crença inclusivista de que pessoas de religiões não-cristãs podem ser salvas por responder ao conteúdo da revelação geral. Uma vez que nenhum ser humano vive de acordo com a luz da revelação geral, a revelação especial é extremamente necessária.

Os inclusivistas não possuem apoio bíblico claro e inequívoco em favor de sua opinião de que a revelação geral é suficiente para a salvação. Eles simplesmente assumem esse ponto de vista e, em seguida, o usam para comprometer outros ensinamentos bíblicos importantes, tais como a identificação de Paulo com a morte e ressurreição de Cristo como um componente essencial do evangelho (por exemplo, 1 Coríntios 15:1-4).

O OBJETO DA FÉ SALVÍFICA

Os inclusivistas acreditam que um ato de fé é necessário para a salvação mas nega que Jesus deva ser o objeto dessa fé salvadora. Eles acreditam que a salvação das pessoas não-evangelizadas depende de como eles respondem à luz que lhes foi dada. De maneiras que os inclusivistas acham difíceis de explicar, a luz da revelação geral leva muitos dos não-evangelizados a uma confiança no verdadeiro Deus – uma confiança que não tem nada a ver com Jesus Cristo. É a fé (confiança) que salva, não o conhecimento. A fim de serem logicamente consistentes, os inclusivistas devem ensinar que as pessoas são salvas pela fé e que o conteúdo ou o objeto dessa fé é irrelevante; e, uma vez que ter o único Deus verdadeiro como objeto de fé é irrelevante e, em muitos casos impossível, o fator-chave sobre a fé salvadora deve ser o seu aspecto subjetivo. O que conta é o sentimento, não o conhecimento ou a verdade objetiva. Considere estas afirmações feitas por Pinnock: “A fé em Deus é o que salva, mesmo sem possuir determinadas informações mínimas” (A Wideness in God’s Mercy (Grand Rapids: Zondervan, 1992), 157); “Uma pessoa é salva pela fé, mesmo que o conteúdo dessa fé seja deficiente … . A Bíblia não ensina que se deve confessar o nome de Jesus para ser salvo” (Ibid., 158 – esta afirmação contradiz claramente Romanos 10:9,10). Parece que Pinnock pegou emprestado essa vertente do liberalismo protestante moderno: “Não importa o que você acredita, é a sua sinceridade que conta” (Ibid.).

Os inclusivistas, portanto, argumentam que a fé possa salvar as pessoas, embora o seu conteúdo teológico seja deficiente ou mesmo falso. Não há nenhum lugar nas Escrituras, no entanto, que afirme isso; na verdade, as Escrituras ensinam exatamente o oposto. É verdade que as pessoas não são salvas ao simplesmente concordar mentalmente com certas informações teológicas; no entanto, as Escrituras dizem claramente que a fé salvadora possui uma consciência de informações verdadeiras. É imprudente, perigoso e anti-bíblico levar as pessoas a pensar que a pregação do evangelho (que deve conter detalhes sobre a pessoa e a obra de Cristo) e a fé pessoal em Jesus não são necessárias para a salvação.

Se não podemos aceitar a visão da fé sem conteúdo pregada pelos inclusivistas, tampouco podemos aceitar outros pontos do sistema inclusivista. No próximo post iremos examinar alguns deles.

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Autor: Ronald H. Nash
Fonte: The Christian Research Institute
Tradução/adaptação: Erving Ximendes
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