Depravação Total - Graças a Deus pela Eleição em Cristo

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Desde a queda de Adão, todos nascem espiritualmente separados da presença de Deus ou espiritualmente mortos e, assim, dependem de uma intervenção divina que é a regeneração para a vida para a qual são incapazes. O texto de Efésios 2. 1 – 10 nos fornece material para podemos entender que estávamos mortos, a nossa natureza era mundana, fomos salvos pela graça de Cristo, não podemos nos gloriar e somos criados em Cristo. Assim, para o homem não resta capacidade alguma que o possibilite alcançar a salvação de sua vida a não ser que a misericórdia e a graça de Deus o alcance e o regenere para a vida eterna. O autor R. K. McGregor Wright escreve que “as aspirações morais da alma não-regenerada são limitadas espiritualmente pelo seu próprio compromisso com os princípios da natureza adâmica” (p. 120)¹. Conclui-se, portanto, que as inclinações do ser humano estão comprometidas por sua natureza caída, carecendo do amor de Deus para socorrê-la.


Nesta condição o homem é escravo de sua natureza pecaminosa, podendo ser liberto apenas e somente pelo poder da cruz de Cristo. O autor Tim Chester, sobre a cruz de Cristo em seu livro Sobre o Deus Trino, escreve que “a cruz não é somente um ato de redenção. É também ato de revelação” (p. 72)². A partir dessa ideia de Tim podemos perceber que o ato da regeneração é a revelação de um salvador capaz ao homem perdido e prisioneiro de sua natureza pecaminosa. Assim, como está na CFW, “Quando Deus converte um pecador e o transfere para o estado de graça, Ele o liberta de sua natural escravidão ao pecado e, somente por sua graça, o habilita a querer e a fazer com toda liberdade o que é espiritualmente bom” (P. 90)³.

Qual o conceito de Depravação Total, afinal? Augustus H. Strong escreve que “a expressão 'depravação total', contudo, é passível de falsa interpretação, e não deve ser usada sem qualquer explicação” (vol II, p. 1128)⁴. Para Augustus o pecador não é “destituído de consciência [...] desprovido de todas as qualidades agradáveis ao homem e úteis quando julgadas segundo os padrões humanos [...] inclinação para toda sorte de pecado [...] o seu mais intenso egoísmo e oposição á Deus” (vol II, p. 1128)⁵. Assim, “depravação total” não quer dizer que as faculdades inerentes do ser humano não produzam resultados bons na esfera humana. 

O conceito sobre “depravação total” apresentado por Millard J. Erickson está da seguinte maneira: “já comentamos (p. 605 - 8) a questão da depravação total, que não significa que os seres humanos sejam tão perversos quanto poderiam ser, mas, sim, que são totalmente incapazes de fazer algo para se salvarem ou para se libertarem de sua condição pecaminosa” (p. 771)⁶. O mesmo autor deixa bem claro, em relação à aceitação da oferta de salvação, que “a posição adotada aqui não é a de que os que são chamados que Deus devem obrigatoriamente responder, mas a de que Deus torna a sua oferta tão atraente que eles responderão de forma afirmativa” (p. 898)⁷.

Sobre este conceito Wayne Gruden afirma que “não é certo dizer que algumas partes de nós são pecaminosas, e outras puras. Antes, cada parte do nosso ser está maculada pelo pecado – o intelecto, as emoções e desejos, o coração [...] as metas e motivos e até mesmo o corpo físico” (p. 409)⁸. Portanto, para Gruden, todas as partes do ser humano estão afetadas pelo pecado, impossibilitando o mesmo a alcançar a salvação.

Charles Hodge, sobre a doutrina do pecado original, escreve a respeito da incapacidade do homem para fazer de si próprio algo espiritualmente bom, e assim descreve três argumentos que permeiam o pensamento da igreja que são a doutrina pelagiana, a semipelagiana e a doutrina agostiniana que “ensina que tal é a natureza da depravação inerente e hereditária, que os homens, desde a queda, são totalmente incapazes de converter-se a Deus, ou de fazer algo verdadeiramente bom diante Dele” (p. 675)⁹, e aponta que as confissões reformadas que subscrevem a respeito.

Joel R. Beeke e Mark Jones, sobre o pecado original, em sua obra diz que “o homem é culpado não apenas de ter participado, por representação, da transgressão de Adão no jardim, mas também de uma contaminação universal, total e pecaminosa, espalhadas por todas as faculdades da alma e do corpo, com uma inexistência ou falta de todo bem e com uma inclinação para todo o mal” (p. 314)¹⁰.

Então, em linhas gerais, Depravação Total seria, conforme McGregor, “doutrina segundo a qual a natureza caída do homem, incluindo a vontade, está totalmente escravizada ao pecado, sendo incapaz de escolher o bem” (p. 242)¹¹, inclusive se salvar.

Então, graças a Deus que quis, segundo o seu amor, revelar-se aos seus eleitos pela cruz de Cristo, para das trevas resgatá-los para o seu eterno Reino. Sem esta intervenção seria impossível para qualquer homem alcançar, por qualquer meio, a graça do Nosso Senhor Jesus.

Amém.

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Notas:
[1] WRIGHT, R. K. McGregor. A soberania banida. 2 ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. 256 p.
[2] CHESTER, Tim. Conhecendo o Deus Trino: porque Pai, Filho e Espírito Santo são as boas novas. São Paulo: Fiel, 2016. 187 p.
[3] Confissão de fé de Westminster. 17 ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. 240 p.
[4] STRONG, Augustus H. Teologia Sistemática. 2 ed. rev. São Paulo: Hagnos, 2007.
[5] Idem.
[6] ERICKSON, Millard. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015. 1232 p.
[7] Idem.
[8] GRUDEN, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
[9] HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001.
[10] BEEKE, Joel R.; JONES, Mark. Teologia puritana: doutrina para a vida. Paulo: Vida Nova, 2016.
[11] WRIGHT, R. K. McGregor. A soberania banida. 2 ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. 256 p.

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Autor: Seminarista Rogério Vilaça
Divulgação: Bereianos
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Existem Apóstolos nos dias atuais?

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Um número crescente, de igrejas neopentecostais, exibe o termo “igreja apostólica” em referência à submissão ao “apostolado” que os seus líderes arrogam ter recebido do próprio Deus, com base em revelações subjetivas que experenciaram. Não advogam o apostolado da mesma forma que a Igreja católica em seu sistema papal – sucessão ininterrupta dos apóstolos de Cristo – mas como novos apóstolos de Jesus Cristo, laureados com revelações, como se Deus, durante todo o tempo houvesse encoberto da Igreja, e só agora estes “apóstolos” possuíssem o saber oculto que trará a salvação dos povos. 

Os maiores influenciadores do movimento apostólico no Brasil foram Peter Wagner e Rony Chaves, sobre eles o dr. Augustus Nicodemus, em seu livro Apóstolos – verdade bíblica sobre o apostolado, trata com ricas informações. Rony Chaves foi o apóstolo que ungiu ao apostolado as brasileiras Vanilce Milhomens e Neuza Itioka (principais promotoras do movimento de batalha espiritual). Nicodemus (2014, p. 275), denuncia uma das “pérolas” do Chaves: 

Muitos apóstolos hoje, não usam o nome, título de seu ofício ministerial. Isto só faz restringir e limitar o ministério. Quando não se usa o termo ‘Apóstolo’, a unção não opera em toda a sua potência. A unção flui com mais poder ao se usar corretamente o título bíblico de “Apóstolo” para um homem chamado por Deus a este ministério. A Igreja tem tido homens que Deus queria que fossem apóstolos e que funcionassem como tais, mas eles não quiseram. 

Ouve-se o som da explosão de um ego inflado, no livro “Crescimento explosivo da Igreja em Células”, quando o autor, Joel Comiskey (2013, p. 60), cita que o “apóstolo” César Castellanos, em seus períodos de oração, recebe a “visão mundial para a sua igreja [sic]” e assim como os apóstolos antigos, Castellanos recebe o mérito pelo sucesso dos demais líderes em aplicar a sua inspiração e visão.

Segundo MacArthur (2015, p. 109), Peter Wagner chega a regurgitar, dentre muitas, a seguinte heresia: “Hoje temos entrado em outro novo odre, que eu chamo de segunda era apostólica” (grifo meu). É com essa teologia que no ano de 2000, Wagner torna-se o apóstolo presidente da Coligação Internacional de Apóstolos - EUA, sendo promovido em 2009 a Presidente Apóstolo Emérito. 

Interessante que para fazer parte dessa coligação, os novos apóstolos precisam realizar pagamentos mensais, com diferentes taxas, a depender do lugar em que vivem (MACARTHUR, 2015, p. 107-108). O Brasil conta com o Conselho Apostólico Brasileiro, a Coalizão Apostólica Profética Brasileira e o Projeto Transformação Brasil, além das redes apostólicas (BEZERRA, 2017).

Análise bíblica sobre a função dos apóstolos 

Inspirado por Deus, o apóstolo Paulo informou que o próprio Cristo: “deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores” (Efésios 4:11). No original, grego (OLIVETTI, et al., 2015) a palavra “concedeu” está no tempo aoristo, que significa um ato realizado de forma completa no passado; isso nos ajuda a entender que os apóstolos e profetas foram escolhidos por Deus para compor o registro de Sua Revelação, concluída em Apocalipse 22 e após isso, nada lhe seria acrescentado, mas exposto pelos evangelistas, pastores e doutores. 

Se fomos, como Igreja do Senhor, “Edificados (também no aoristo) sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina” (Efésios 2:20), logo, partindo do fato de que não existe novo alicerce, nem nova pedra angular em uma construção (cf. 1 Co. 3.10-11), os apóstolos e profetas foram usados por Deus para edificar a Igreja em Cristo e não precisamos mais de profetas e apóstolos hoje, uma vez que já possuímos a Revelação completa, que são as Sagradas Escrituras. Corrobora com essa verdade, o fato de a Igreja primitiva considerar, como prova de autenticidade da inspiração divina sobre um escrito, a autoria ou influência de um apóstolo.

O trabalho dos apóstolos e profetas foi necessário para o período de transição da antiga aliança para a nova, claro é, que nenhum dos apóstolos, após a morte, foi substituído, com exceção de Judas, o traidor, porque o número dos apóstolos precisava estar completo para o Pentecostes, em virtude do simbolismo do número, representando a Igreja de Cristo, como podemos aferir mediante alguns versículos dos Evangelhos; escrito por Mateus: “E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel; escrito por Lucas: Para que comais e bebais à minha mesa no meu reino, e vos assenteis sobre tronos, julgando as doze tribos de Israel.” (Lucas 22:30), e escatológico:

E tinha um grande e alto muro com doze portas, e nas portas doze anjos, e nomes escritos sobre elas, que são os nomes das doze tribos dos filhos de Israel. Do lado do levante tinha três portas, do lado do norte, três portas, do lado do sul, três portas, do lado do poente, três portas. E o muro da cidade tinha doze fundamentos, e neles os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro” (Apocalipse 21:12-14).

Quanto a Paulo, ele foi o único, além dos 12, a receber a função de apóstolo, com o propósito de anunciar Jesus Cristo aos gentios. Paulo, de fato, viu o Cristo ressurreto e foi chamado diretamente por Ele. Todos os apóstolos, os 12 e Paulo, viram o Cristo ressurreto. Ser testemunha ocular da ressurreição é marca indispensável a um verdadeiro apóstolo (Atos 1.22; 10.39-41. 1 Coríntios 9.1; 15.7-8), e Paulo afirma ter sido a última testemunha: “por último de todos apareceu também a mim como a um abortivo” (1 Coríntios 15:8).  É notória a diferença entre a teologia dos “apóstolos” atuais e a do apóstolo Paulo. Enquanto aqueles confirmam seu apostolado contabilizando seu sucesso, este declarava os seus sofrimentos como qualificações principais do seu “curriculum apostólico” (cf. 2 Co 11:13-33).  

No NT encontramos outras marcas do verdadeiro apostolado. Para ser reconhecido como apóstolo, era necessário um chamado pessoal do próprio Cristo (Marcos 3.14, Lucas 6.13, Atos 1.2,24; 10.41; Gálatas 1.1); outro critério era a operação de sinais miraculosos (Mateus 10.1-2, Atos 1.5-8; 2.43; 5.12; 8.14, 2 Coríntios 12.12; Hebreus 2.3-4). Somente sob a autoridade dos verdadeiros apóstolos, um escrito era considerado inspirado por Deus para compor as Escrituras Sagradas. Segundo MacArthur (2015, p. 116): 

A maioria dos que se autodenominam ‘apóstolos’ tem a pretensão de ser especial, de ter a revelação direta de Deus. Se eles realmente têm autoridade apostólica, o que os impede de incluírem-se na Bíblia? Por outro lado, se apóstolos modernos não estão dispostos a incluírem-se nas Escrituras, então o que isso diz sobre a legitimidade do seu apostolado?

Se a Bíblia não pode continuar a ser escrita, qual o sentido de uma nova era apostólica com novas revelações para uma nova Igreja? Só se for uma falsa Igreja com seus falsos apóstolos e suas falsas revelações. E para aquele que acha que pode acrescentar algo às Escrituras ou escrever um livro e creditar a mesma autoridade da Bíblia, no último capítulo do último livro do cânone está escrito: “Declaro a todos os que ouvem as palavras da profecia deste livro: se alguém lhe acrescentar algo, Deus lhe acrescentará as pragas descritas neste livro”. Acréscimo na Bíblia corresponde à acréscimo ao livro de Apocalipse, pois este foi escolhido, sob orientação do Espírito Santo, para ser o último livro da Bíblia, seguido de mais nada. Portanto, depois dele, nenhum escrito possui a autoridade da inspiração divina.

A liderança bíblica para a Igreja hoje é a que vemos estabelecida nas igrejas do NT, uma liderança capacitada, composta de bispos/presbíteros/pastores e diáconos. Em vista ao aprofundamento do estudo, segue referências de textos bíblicos que elucidam a questão: At. 6.1-7; 11.30; 15.2.4; 6.22; 16.4; 20.17-35; 21.18; Fp 1.1; Tm 3.1-16; 1 Pe 5.1-4; Tito 1.5-9. Como Moisés escolheu 70 homens dos anciãos de Israel para ajudá-lo a liderar o povo no deserto, hoje nós não temos toda a igreja liderando, mas "anciãos", que remete à função dos presbíteros, para exercerem a liderança da igreja, na administração, no ensino e no confronto às falsas doutrinas. 

Apóstolos, além dos doze e de Paulo, relatados no NT

Há passagens do Novo Testamento em que outras pessoas, além dos doze e de Paulo, parecem ter sido chamadas de “apóstolos”, a saber: Tiago, Apolo, Barnabé, Silas, Timóteo, Andrônico, Júnias, Epafrodito e os irmãos chamados “apóstolos das igrejas”. Importa saber que o sentido em que a palavra apóstolo foi empregada nesses casos difere do sentido em que é empregado quando referida a Paulo e aos doze. O sentido de “apóstolos” no caso dos que não foram testemunhas da ressurreição de Cristo, nem chamados para lançarem o fundamento da igreja cristã, é mais amplo, entende-se por “enviados”, “mensageiros”, “representantes”, “missionários”, pessoas designadas pela Igreja a cumprir uma missão. 

Segundo Augustus Nicodemus, (2014, p. 120-121), Barnabé (At 14.1,14; 1 Co 9.6), Silvano, Timóteo (1 Ts 1.1; 2.7) e os “demais apóstolos” que Paulo menciona (1 Co 9.5) foram enviados por Cristo para anunciar o Evangelho em lugares onde o mesmo não havia chegado. Epafrodito foi enviado pela igreja de Filipos para levar uma oferta a Paulo (Fp 2.25), e os “apóstolos da igreja” foram enviados por elas para levar uma oferta a Jerusalém (2 Co 8.23). Sendo assim, nos nossos dias, somente poderia reivindicar esse “título” os missionários pioneiros, desbravadores de novos campos, estes, porém, costumam não sentir atração por títulos que os engrandeçam. “Todavia, não é neste sentido que o movimento de restauração apostólica o emprega hoje, e sim num significado similar aos doze e a Paulo”, dilucida Nicodemus. 

O pastor inglês, Brian Edwards (2001, p. 08), no seu opúsculo: “Onde estão os apóstolos e profetas”, elenca pontos bastante relevantes, ele diz que se fosse tão simples a intitulação de apóstolo, Paulo não precisaria ter defendido vigorosamente o seu apostolado ao escrever suas cartas aos coríntios e aos gálatas; Brian analisa o versículo 5 da primeira epístola aos Coríntios e observa que “Paulo sabia que Tiago não era um dos apóstolos, pois fez distinção entre os ‘apóstolos’ e os ‘irmãos do Senhor’. 

Segundo Edwards (2001, p. 08), de acordo com Atos 15, Tiago era um presbítero, e não um apóstolo”, ele explica o sentido de Gálatas 1.19 com a paráfrase: “eu não vi nenhum dos apóstolos; vi apenas Tiago, irmão do Senhor”. Quanto à Andrônico e Júnias, apontados em Romanos 16.7 como “notáveis entre os apóstolos”, Brian defende que eles tinham, simplesmente, uma boa reputação entre os apóstolos. Após estas e outras observações, ele conclui: “Não existe apóstolos hoje, a menos que levemos em conta os ‘super apóstolos’ aos quais Paulo se referiu em 2 Co. 11. Mas ele os rejeitou como ‘falsos apóstolos’, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo (v. 13)”. Há ‘super apóstolos’, ainda hoje, tencionando alçar voo nas asas do crescimento acelerado da igreja local. 

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Referências Bibliográficas:
COMISKEY, Joel. Crescimento explosivo da igreja em células. Fortaleza, CE: Editora Premius, 2013.
EDWARDS, Brian. Onde estão os apóstolos e profetas. São José dos Campos, SP: Fiel, 2001.
GOMES, Paulo Sérgio; OLIVETTI, Odayr. Novo Testamento Interlinear Analítico Grego-Português: texto majoritário com aparato crítico. São Paulo, Cultura Cristã. 2ª ed, 2015. 
MACARTHUR, John. Fogo estranho. Thomas Nelson Brasil, 2015.
NICODEMUS, Augustus. Ministério Pastoral. Campina Grande, PB: Visão Cristã, 2016.
NICODEMUS, Augustus. Apóstolos: a verdade Bíblica sobre o apostolado. São Paulo, Editora Fiel. 1ª ed, 2014.

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Sobre a autora: Karoline Evangelista é aluna do Seminário Teológico Congregacional do Nordeste. Formada em Fonoaudiologia pela Universidade Federal da Paraíba. Congrega na Igreja Presbiteriana do Bairro dos Estados em João Pessoa-PB. Atua na área de Apologética Cristã, escreve para a Revista Vida Cristã e é colunista no blog Cosmovisão Cristã
Imagem: Saint Paul Writing His Epistles. Valentin de Boulogne, 1618-1620. Arte: Bereianos
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Imunidade tributária para os templos: taxação ou supressão?

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Da recente controvérsia

Conforme o artigo 150, VI, “b”, da Constituição Federal de 1988, “é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: instituir impostos sobre: templos de qualquer culto”. No mesmo dispositivo, em seu parágrafo 4º, é disposto que tal imunidade compreende “somente o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas”.

A expressão “templos”, interpretada lato sensu, indica Igrejas, conventos, Seminários, veículos para atividades eclesiásticas, anexos, etc, da religião cristã e de outras. Já “patrimônio” aponta para rendas e serviços aplicados finalisticamente ao templo.

O motivo, em tese, é que, como aponta Pimenta (2017), “as religiões podem ser consideradas como de interesse social e que, na qualidade de organizações sem fins lucrativos e que, teoricamente, não comercializam produtos ou vendem serviços”.

Em sentido contrário, em 2015, por meio de uma Sugestão Popular (SUG 2/2015), a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA) defende que, como o Estado é laico, não é razoável que se dê imunidade tributária a entidades religiosas. Outro problema apontado é que os escândalos financeiros que líderes religiosos protagonizam levam adiante a ideia de se banir a Imunidade Tributária.

Desse modo, dizem os defensores da SUG 2/2015, como os líderes enriquecem, é preciso que haja tributação. Ainda pontua que “quando certos líderes religiosos abusam do conceito de liberdade religiosa, exigindo mais e mais dinheiro dos fiéis para enriquecimento próprio, isso mostra que o único combate que deve ser feito é o do bolso”.

A matéria em pauta aguarda um parecer da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), tendo, até o momento, recebido mais de 279 mil votos, aproximadamente 141 mil votos a favor e 138 mil contrários, no site Consulta Pública, do portal e-Cidadania do Senado.

Do papel social das Igrejas

A referida Sugestão Popular (SUG 2/2015) coloca que “do ponto de vista do Estado, a igreja deve ser vista como uma empresa como outra qualquer, que luta com os concorrentes (...) para obter o maior número de clientes (fiéis) e, com isso, ter a maior receita”.

Essa acusação pode, de fato, ser aplicada em alguns casos, mas não a todos. As Igrejas e templos em geral prestam um serviço social notável, tanto assistencialmente quanto na formação e recuperação psicológica de milhares de pessoas. Não é difícil encontrar, em tais instituições, pessoas socialmente reabilitadas. Nem o Estado nem as ONG’s, historicamente, recuperam pessoas como os templos religiosos o fazem.

Essa discriminação é desconhecedora da ampla realidade religiosa do país. Por exemplo, a SUG 2/2015 argumenta que “as igrejas não podem ser consideradas associações não lucrativas”, pois, conforme o texto dirá, quer “monopolizar a crença”.

Mas quem determina ou julga isso? Na verdade, esses juízos desconsideram o papel histórico que os templos têm no país. Religiosos lutaram por liberdade de expressão, de crença, de culto, de limitação estatal, e são parte essencial da tradição nacional. Todas as instituições podem vir a manipular crenças, mas não cabe ao Estado determinar o conteúdo que cada instituição pode pregar e as pessoas acreditarem.

Desse modo, o papel social dos templos é histórico, cultural e tradicional. A permissividade dada a qualquer governo de taxar, limitar, e suprimir a atuação das entidades religiosas pode acarretar dificuldades financeiras e extinguir instituições que são memórias vivas da sociedade.

Isenção tributária?


Muitas pessoas argumentam que os templos não deveriam ter imunidade tributária, mas sim isenção. Silva Junior (2014) diferencia os institutos: “Imunidade é a proibição constitucional propostas às entidades políticas que detêm a competência tributária, de tributar determinadas pessoas (...) Já a isenção, não é a vedação, mas sim a dispensa legal do pagamento do tributo”. Ou seja, enquanto o primeiro conceito está ligado a uma vedação feita pela Constituição, o segundo pode ser previsto em lei infraconstitucional. Além disso, com a imunidade tributária não há incidência de imposto, mas com a isenção gera-se o imposto e, por previsão legal, seu crédito é excluído.

Pois bem, essa diferenciação é de vital importância. Se os templos passassem a ter isenção tributária, determinados grupos religiosos, especialmente os majoritários que têm mais apelo político, poderiam atuar pressionando por leis infraconstitucionais que assegurassem a isenção para seus templos. Consequentemente, os grupos minoritários seriam, de pronto, prejudicados devido à taxação.

Além disso, é preciso que se perceba que os contribuintes de templos já têm suas rendas tributadas, por exemplo, o Imposto de Renda. Como são as entradas de contribuições que sustentam essas instituições, “bitributar” – cobrando impostos dos templos sobre os mesmos montantes doados e já tributados – é inconstitucional.

Das Garantias Constitucionais

A liberdade de culto é uma extensão de outros mandamentos da Constituição, como a liberdade de crença e expressão. Com isso, a garantia de imunidade tributária aos templos assegura o efetivo exercício desses direitos sem ingerência estatal. Em um Estado laico, há de se respeitar tais garantias. Aliás, tal configuração de Estado não adota oficialmente nenhuma religião oficial, mas não é ateu, tentando suprimir as vozes religiosas.

Com efeito, contra o controle dos opositores, deve-se preservar a imunidade tributária em equidade para todas as entidades religiosas, sem se prever privilégios para templos específicos, a fim de haver isonomia. O fim de tal instituto poderia levar a um maior desequilíbrio, visto que religiões majoritárias, com um “lobby” político mais poderoso, podem dispor de mais recursos para se sustentar e se proteger, enquanto as mais simples podem ser solapadas em não suportar tributos, caindo na ilegalidade e na clandestinidade. Não se pode nivelar por cima (templos abastados) e solapar as instituições menores.

Das diferentes esferas

Para conservação dos direitos fundamentais, é importante que se entenda que o Estado e as instituições religiosas são esferas sociais diferentes que não podem suprimir-se, um ao outro. Isto é, o Estado tem seu papel, assim como, as instituições religiosas, o seu. Cada um deve respeitar a esfera de atuação do outro.

Com efeito, não há uma teoria social no Brasil que possa discriminar as instituições que deixaram de atuar de modo religioso e filantrópico, para agirem, estritamente, como uma organização empresarial. Ora, ligar a televisão e ver pedidos de dinheiro por religiosos não pode ser uma teoria social para tal empreendimento.

Desse modo, sem a clara delimitação dos limites entre essas esferas pode ocorrer uma atuação de resistência e acirramento. O Estado, por meio da Lei Constitucional, deve continuar limitando-se em não imiscuir-se nas atividades religiosas, atuando apenas em casos de gravames sociais e de ilegalidades.

Considerações finais

Primeiramente, é preciso que se reconheça que, no Brasil, várias instituições eclesiásticas deixaram seu papel, de administração de seu culto religioso e ação social, passando a exercer um papel empresarial. Nem por isso, é recomendável que se meça todos os templos religiosos como tendo assumido essa via. Se toda instituição que deixa de exercer sua atuação precípua levasse a uma mudança legal, talvez o Congresso Nacional também precisasse ser taxado.

Para além disso, a questão principal é perceber que o Estado, por meio da taxação de templos, pode assumir uma política de supressão da liberdade religiosa, já vista em tantos países. Deve-se, então, respeitar a esfera de atuação dos entes religiosos, sendo que, em casos de gravames legais, aja-se para a normalização das relações sociais.

Não há, como em qualquer política estatal, uma solução perfeita. Mas rever a previsão constitucional no sentido contrário à imunidade tributária pode levar a um mal maior, em permitir que governos de viés antirreligioso atuem contra a tradição e cultura nacionais historicamente consolidadas. Talvez por isso, uma instituição como a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA) tenha um interesse mais religioso do que de política de Estado.

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Referências bibliográficas:
MOREIRA, Roberta. Qual a abrangência da imunidade tributária aos templos de qualquer culto? Disponível em: https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/40791/qual-a-abrangencia-da-imunidade-tributaria-aos-templos-de-qualquer-culto-roberta-moreira. Acesso em 10 de agosto de 2017.
PIMENTA, Luciana. Imunidade tributária: por que igrejas são isentas de pagar impostos? 2017. Disponível em: http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI254436,51045-Imunidade+tributaria+por+que+igrejas+sao+isentas+de+pagar+impostos. Acesso em 10 de agosto de 2017.
RIBEIRO, Bianca. Imunidade tributária: por que entidades religiosas não pagam impostos no brasil? 2016. Disponível em: http://www.politize.com.br/imunidade-tributaria-entidade-religiosa/. Acesso em 10 de agosto de 2017.
SILVA JUNIOR, Agenor da. Distinção entre isenção e imunidade tributária. 2014. Disponível em: http://www.oab-sc.org.br/artigos/distincao-entre-isencao-e-imunidade-tributaria/1535. Acesso em 15 de agosto de 2017.

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Sobre o autor: Anderson Barbosa Paz é seminarista do Seminário Teológico Betel Brasileiro. Bacharelando em Direito pela Universidade Federal da Paraíba. Congrega na Igreja Presbiteriana do Bairro dos Estados em João Pessoa-PB. Atua na área de Apologética Cristã, debatendo e ensinando.
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Lições Bíblicas para Liderança na Igreja Local - Parte 2/2

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A Liderança de Moisés

Moisés foi o maior líder do povo de Deus depois de Jesus. A história desse homem de Deus nos ensina grandes e valiosas lições. Esse espaço não comportará as inúmeras aplicações que podemos extrair da vida de Moisés. O livro de Êxodo nos mostra o nascimento de Moisés, como Deus preservou sua vida, como a providência guiou a vida deste homem para ser o grande líder do povo de Deus. Moisés enfrentou várias dificuldades em sua liderança. A idolatria do povo construindo um bezerro de ouro, a revolta de seus irmãos Arão e Miriã, a sedição do povo, a rebelião de Corá, Natã e Abirão, a murmuração do povo. O salmo 78 nos mostra com riqueza de detalhes como o povo de Israel foi rebelde no deserto. Moisés foi um líder que orava pelo povo, rogava a misericórdia de Deus, até mesmo quando seus irmãos erraram Moisés pediu por Miriã que estava leprosa.

Clamou, pois, Moisés ao Senhor, dizendo: Ó Deus, rogo-te que a cures. E disse o Senhor a Moisés: Se seu pai cuspira em seu rosto, não seria envergonhada sete dias? Esteja fechada sete dias fora do arraial, e depois a recolham, (Números 12.13,14).

Moisés tinha um coração pastoral, mesmo diante da ingratidão e sedição dos seus liderados ele demonstrava amor por eles. Quando Deus desejou destruir o povo por causa do bezerro de ouro, Moisés também intercedeu por eles:

Moisés, porém, suplicou ao Senhor seu Deus e disse: Ó Senhor, por que se acende o teu furor contra o teu povo, que tiraste da terra do Egito com grande força e com forte mãoPor que hão de falar os egípcios, dizendo: Para mal os tirou, para matá-los nos montes, e para destruí-los da face da terra? Torna-te do furor da tua ira, e arrepende-te deste mal contra o teu povo. Lembra-te de Abraão, de Isaque, e de Israel, os teus servos, aos quais por ti mesmo tens jurado, e lhes disseste: Multiplicarei a vossa descendência como as estrelas dos céus, e darei à vossa descendência toda esta terra, de que tenho falado, para que a possuam por herança eternamente. Então o Senhor arrependeu-se do mal que dissera que havia de fazer ao seu povo, (Êxodo 32.11-14).

Quantas coisas podemos aprender com esse homem de Deus! Um pastor que orava pelo seu rebanho, um líder que suportava a afronta. Um homem que amava seu povo e apelava para as bênçãos do pacto. Poderíamos extrair várias lições para uma liderança bíblica olhando para a história de Moisés, mas, apontaremos apenas algumas:

  1. Um líder não pode ser levado pelo sentimento de injustiça e esmorecer.
  2. Um líder não deve deixar ressentimentos o travarem, deve perdoar quando seus liderados se portam de forma errada, deve orientá-los, deve exortá-los, mas não deve ser dominado pela mágoa e ressentimento.
  3. Um líder deve interceder pelo seu povo, deve lutar em oração por quem Deus o confiou.
  4. Um líder confia em Deus em sua Palavra que é poderosa (Êxodo 14).
  5. Um líder deve ensinar a Palavra mesmo quando seu povo se porta rebeldemente contra o Senhor, um grande exemplo está nas pregações de Moisés em Deuteronômio.
  6. Um líder zela pela santidade do culto a Deus, guiando o povo a pureza espiritual.
  7. Um líder prepara outros líderes, a correta visão de liderança bíblica é preparar sucessores, temos como exemplo Josué e Calebe.

A liderança de Moisés também nos mostra seus erros, quando ele bateu na rocha. Deus cobrou do seu servo, não o permitiu entrar na terra prometida. Com essa correção severa de Deus para com ele, lembramos das palavras de Jesus:

Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedir, ( Lucas 12.48).

Uma leitura dos livros de Moisés nos mostram a integridade desse homem santo que as Escrituras nos apresentam, sobre ele Deus testemunhou:

E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, o Senhor, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele. Não é assim com o meu servo Moisés que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a semelhança do Senhor; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moisés? (Números 12.6-8)

A Liderança de Davi

Nos livros de Samuel encontramos a história de Davi, que era um pastor de ovelhas, vivia a trabalhar ajudando seu pai Jessé e também era músico. A narrativa bíblica nos mostra como Deus chamou aquele jovem e o tirou do pastoreio de animais e o constituiu pastor do povo, rei de Israel. Sobre os reis diz-nos Deuteronômio:

Se quando entrarem na terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá, tiverem tomado posse dela, nela tiverem se estabelecido, vocês disserem: "Queremos um rei que nos governe, como têm todas as nações vizinhas", tenham o cuidado de nomear o rei que o Senhor, o seu Deus, escolher. Ele deve vir dentre os seus próprios irmãos israelitas. Não coloquem um estrangeiro como rei, alguém que não seja israelita. Esse rei, porém, não deverá adquirir muitos cavalos, nem fazer o povo voltar ao Egito para conseguir mais cavalos, pois o Senhor lhes disse: "Jamais voltem por este caminho". Ele não deverá tomar para si muitas mulheres; se o fizer, desviará o seu coração. Também não deverá acumular muita prata e muito ouro. Quando subir ao trono do seu reino, mandará fazer num rolo, uma cópia da lei, que está aos cuidados dos sacerdotes levitas para o seu próprio uso. Trará sempre essa cópia consigo e terá que lê-la todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer o Senhor, o seu Deus, e a cumprir fielmente todas as palavras desta lei, e todos estes decretos. Isso fará que ele não se considere superior aos seus irmãos israelitas e a não se desvie da lei, nem para a direita, nem para a esquerda. Assim prolongará o seu reinado sobre Israel, bem como o dos seus descendentes, (Deuteronômio 17.14-20).

Um texto riquíssimo para refletirmos sobre liderança cristã, a partir do rei Davi. Podemos ver aqui que Davi cumpriu muitos desses requisitos da lei, mas, também violou muitos outros. Deus havia dado essa lei ao seu povo, especificamente aos futuros reis de Israel, considerando as tentações que tal liderança sofreria. Um líder pode ser tentado e muito tentado no exercício da sua tarefa, pode ser seduzido pelo poder, pelas facilidades, pela fama, pelo status, pela honra humana, pelo seu ego. Listemos esse valoroso ensino que os reis deveriam manter e zelar por eles em sua vida, numeraremos pela ordem no texto bíblico.

  1. O rei deveria ser um israelita, deveria ser da família da fé. Isso pode nos ensinar algo importante, básico, mas necessário. O líder cristão deve ser cristão.
  2. O rei não deveria acumular cavalos. Um líder cristão, não deve acumular riquezas as custas dos seus liderados. Liderar o povo de Deus não é sinônimo de enriquecimento por meio da fé alheia.
  3. O rei não poderia fazer o povo voltar para o Egito. A bíblia nos ensina que o Egito é sinônimo da nossa vida pregressa no pecado. Um líder cristão não pode fazer o povo de Deus se desviar do caminho da verdade.
  4. O rei não poderia tomar para si muitas mulheres. Isso nos ensina que a vida sexual do líder é importante para o exercício de uma liderança saudável. A impureza sexual impede o exercício da liderança cristã. Paulo nos diz o mesmo em primeira Timóteo 3, o pastor deve ser marido de uma só mulher.
  5. O rei deveria ter uma cópia da lei. Deveria lê-la, conhecê-la, vivê-la. O líder cristão deve seguir esse mesmo padrão. Deve ter contato com a Palavra de Deus diariamente (Josué 1.8). Deve observar a lei de Deus com zelo e piedade, deve viver a palavra dia a dia (Tiago 1.23-25).
  6.  O rei deveria guiar seus súditos na lei do Senhor. O líder cristão deve guiar seus liderados na vontade de Deus expressa em sua Palavra. A autoridade do líder não está nele mesmo, mas, deve entender que é um comissionado, a autoridade da liderança cristã está na Palavra de Deus. O líder deve ser fiel a Palavra.

Davi quebrou alguns desses pontos, e acertou em outros deles. Davi foi um líder importante na história do povo de Deus, dele proveio o messias. Davi foi um homem piedoso, mas, que caiu em pecado algumas vezes, desobedecendo ao Senhor. Seu coração arrependido é mostrado de forma belíssima no salmo 51 que mostra seu lamento pelo pecado com a mulher de Urias. Poderíamos apontar vários pecados do rei Davi, mas, não é necessário, evidentemente a Bíblia nos mostra tais pecados e com isso sabemos que líderes e até grandes líderes do povo de Deus podem cair, podem errar e pecar gravemente. Isso nos mostra que somos pecadores, nos mostra que devemos lutar contra o pecado, nos mostra que devemos buscar a vontade de Deus e não a nossa no exercício da liderança na igreja.

A Liderança do Rei Josias

As histórias dos reis de Israel me chamam muita atenção. Na verdade, ao lermos o livro de Josué, Juízes, 1º e 2º Samuel; 1º e 2º Reis; 1º e 2º Crônicas; temos livros inteiros que tratam sobre lideranças do povo de Deus, lideranças boas e lideranças ruins. A história de Josias nos ensina muitas lições importantes para uma liderança genuinamente bíblica. O texto começa expondo algo valioso sobre esse grande homem de Deus:

Josias tinha oito anos de idade quando começou a reinar, e reinou trinta e um anos em Jerusalém. Ele fez o que o Senhor aprova e andou nos caminhos de Davi, seu predecessor, sem desviar-se nem para a direita nem para a esquerda, (2 Crônicas 34.1,2)

O rei Josias foi um homem levantado por Deus para por em ordem o culto e todos os negócios do reino. Um homem de coragem e fé que foi zeloso pela Palavra de Deus. Josias é um exemplo clássico de líder bíblico e reformador. O sacerdote Hilquias achou o livro da lei do Senhor, isso causou uma grande reforma no reinado de Josias, o texto sagrado nos diz que quando o rei teve contato com a notícia disse:

Vão consultar o Senhor por mim e pelo remanescente de Israel e de Judá acerca do que está escrito neste livro que foi encontrado. A ira do Senhor contra nós deve ser grande, pois os nossos antepassados não obedeceram à palavra do Senhor e não agiram de acordo com tudo o que está escrito neste livro, (2 Crônicas 34.21).

Podemos ver claramente que a preocupação do rei era com o cumprimento da Palavra de Deus. Justamente o que era requerido em Deuteronômio 17. O versículo 15 do capítulo 34 de segundo Crônicas nos diz algo que vale para uma aplicação cabível aqui:

Hilquias disse ao secretário Safã: Encontrei o livro da Lei no templo do Senhor. E o entregou a Safã, (2 Crônicas 34.15).

O livro da lei estava perdido na casa do Senhor. Que ensino importante! A liderança cristã precisa estar sempre alerta a isso. Podemos estar liderando o povo de Deus sem a lei de Deus, podemos estar no templo e não acharmos o que é mais importante no tempo: a Palavra, a Lei do Senhor! A lei perdida no tempo, que tragédia.

Podemos aprender algumas questões bem peculiares na narrativa da história deste rei de Israel. Ele também foi um grande administrador da casa de Deus. Devemos compreender que lidar com dinheiro faz parte em muitos casos da liderança bíblica. Devido ao grande crescimento no meio cristão da charlatanice, muitos pastores e líderes se acanharam de falar sobre dinheiro e até mesmo de ensinar sobre isso. Como se fosse algo pecaminoso. Jesus falou mais sobre dinheiro do que sobre o inferno. Vejamos algumas lições importantes no texto bíblico sobre a liderança de Josias sobre a administração da casa de Deus.

Sucedeu que, no ano décimo oitavo do rei Josias, o rei mandou ao escrivão Safã, filho de Azalias, filho de Mesulão, à casa do Senhor, dizendo: Sobe a Hilquias, o sumo sacerdote, para que tome o dinheiro que se trouxe à casa do Senhor, o qual os guardas do umbral da porta ajuntaram do povo, E que o deem na mão dos que têm cargo da obra, e estão encarregados da casa do Senhor; para que o deem àqueles que fazem a obra que há na casa do Senhor, para repararem as fendas da casa; Aos carpinteiros, aos edificadores e aos pedreiros; e para comprar madeira e pedras lavradas, para repararem a casa. Porém não se pediu conta do dinheiro que se lhes entregara nas suas mãos, porquanto procediam com fidelidade, ( 2 Reis 22.3-7).

Desse texto podemos extrair algumas aplicações, vejamos:

  1. Josias delega a Safã. Um líder bíblico não é centralizador, mas compartilha a liderança e as funções, isso é um princípio sábio. O líder forja outros futuros líderes, treina-os e envia-os.
  2. O líder administra os bens sagrados para a glória de Deus e escolhe pessoas habilitadas para fazerem o trabalho.
  3. A liderança bíblica reconhece dons e talentos no meio do povo de Deus, ninguém sabe ou poder fazer tudo. A pessoa certa no lugar certo produz muito fruto.
  4. A integridade, a firmeza de caráter tem grande peso na liderança cristã, a fidelidade na administração dons bens divinos transmite ao povo liderado confiança, segurança e louvor a Deus pelo serviço feito e pelos líderes que Deus dá a seu povo.

Conclusão

A liderança espiritual bíblica pode usar sabiamente ferramentas do conhecimento humano, como administração, comunicação, pedagogia e psicologia. Mas, se ela não for regida por uma sólida base bíblica ela ruirá mais cedo ou mais tarde. O sucesso da liderança bíblica é integridade, piedade, temor ao Senhor. Toda liderança que seguir esses princípios será uma liderança bem-sucedida.

Líderes bíblicos, são líderes que amam a Deus e o servem de todo coração.

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Autor: Rev. Thomas Magnum de Almeida
Divulgação: Bereianos

Leia também: 
Lições Bíblicas para Liderança na Igreja Local - Parte 1/2
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A intercessão de Cristo, o pacto da redenção e a nossa felicidade eterna

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Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7.25).

Eu fico impressionado com quão pouco paramos para meditar a respeito da maravilhosa verdade da continuidade da obra sacerdotal de Jesus Cristo, no céu, em nosso benefício. Durante o seu ministério terreno, como sacerdote, Jesus foi o sumo sacerdote perfeito, que ofereceu a si mesmo como sacrifício todo-suficiente para a nossa salvação. Após a sua ascensão, o Senhor continua a desempenhar o ofício sacerdotal, nas palavras do autor aos Hebreus, “vivendo sempre para interceder” por aqueles por quem entregou a sua vida como sacrifício agradável a Deus.

Em Hebreus 4.14-15, o autor diz: “Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado”. Por volta de 1645 algumas pessoas chegavam até o puritano Thomas Goodwin e diziam: “Esse texto coloca um problema diante de nós. Ele diz que Cristo penetrou os céus. Ele está exaltado no lugar mais alto e distante. Como é possível que ainda lembre de nós?” A resposta de Goodwin era que esse texto também apresenta a solução, a resposta, pois esse que penetrou os céus se compadece de nossas fraquezas. Goodwin afirmava que essa passagem “por assim dizer, pega as nossas mãos e as coloca no peito de Cristo, e nos deixa sentir como o seu coração bate e suas afeições anseiam por nós” (The Heart of Christ. p. 48).

Assim, de acordo com Goodwin, as nossas fraquezas inspiram a compaixão de Cristo. E ao trabalhar a passagem, ele argumentou que o termo “fraquezas” envolve tanto o mal das aflições quanto o mal dos nossos pecados, pois Hebreus 5.2 diz que Jesus “é capaz de condoer-se dos ignorantes e dos que erram”. Assim, mesmo a nossa tolice e nossas escolhas pecaminosas despertam a compaixão do nosso meigo e doce Redentor.

Quando o autor aos Hebreus nos diz que Jesus, estando á destra do Pai, vive sempre para interceder pelos seus, precisamos compreender que essa intercessão tem como alvo as nossas fraquezas, o que envolve, as nossas dores e também os nossos pecados.

Muitas vezes entendemos errado o que significa a intercessão de Jesus. É como se ele se colocasse diante do Pai e começasse a argumentar, a nos defender, a tentar convencer um Pai indisposto que não deseja nos perdoar. Não! Jesus não argumenta com base em nosso esforço. Ele não tenta lembrar ao Pai que, mesmo ainda cometendo pecados, temos nos esforçado para fazer o que é correto (Rm 7.21). Como afirma Richard D. Phillips: “Jesus não precisa falar nada disso. Ele só precisa identificar você como um daqueles que pertencem a ele” (Reformed Expository Commentary: Hebrews. Posição 3168. Edição Kindle).

A intercessão de Jesus é feita a partir da sua obra em nosso benefício, não do nosso esforço. O apóstolo João nos dá um vislumbre dessa verdade: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1Jo 2.1). O nosso advogado é o Justo. Sua intercessão em nosso benefício é feita com base na sua morte na cruz.

Tente imaginar o Filho apresentando ao Pai as marcas nas suas mãos, nos seus pés e no lado do seu corpo, e dizendo: “Foi por ele! Ele é meu!” Não há outra consequência senão perdão e desfrute prático do amor trinitário que é derramado em nossos corações.

Mas, como Jesus pode se dirigir ao Pai, dizendo: “Ele é meu!”?

João, em seu Evangelho, registrou a mais bela oração já feita, a oração sacerdotal do Senhor. E nessa oração, várias vezes Jesus afirma que lhe fomos dados pelo Pai: “Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra […] É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (vv. 6,9). Além disso, no famoso cântico do Servo Sofredor, nós encontramos a seguinte declaração: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si. Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu” (Is 53.11-12). Percebam: o Servo, o Senhor Jesus Cristo, como recompensa da sua obra perfeita, da sua obediência perfeita recebeu “muitos”.

A passagem acima e muitas outras nas Escrituras nos falam de um acordo prévio entre o Pai e o Filho, não de forma explícita, é verdade, mas, ainda assim, de forma muito clara. Quando fomos dados pelo Pai ao Filho? Quando foi que muitos foram prometidos pelo Pai ao seu Servo como a sua parte na obra da Redenção? Pense também nas várias passagens em que o Filho declara que veio tão somente para fazer a vontade daquele que o enviou (Jo 4.34; 5.30; 6.38,39).

Considere, por exemplo, Lucas 22.29: “Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio”. As palavras de Jesus aos seus discípulos são uma espécie de testamento. Por duas vezes neste versículo Jesus usa um verbo cujo significado é “fazer um pacto”. Literalmente, o Senhor Jesus afirmou: “Assim como meu Pai me confiou, por meio de um pacto, um reino, eu o confio a vocês também por meio de um pacto”. O Filho fala de um Pacto feito entre ele e o Pai. Quando tal Pacto foi feito? Com toda certeza, Jesus está se referindo àquilo que na teologia é chamado de “Pacto da Redenção”, a aliança entre Pai e Filho, na qual todos os detalhes da nossa salvação são acertados. Nesse pacto o Pai, representando a Trindade, apresenta todas as exigências da lei e toda a penalidade que o Filho deveria assumir sobre si. Por sua vez, o Filho recebe as promessas em caso de obediência perfeita. Uma dessas promessas foi um povo, uma Noiva, um rebanho.

Pense nas implicações dessa verdade gloriosa!

Na eternidade passada teu nome foi pronunciado pelo Pai como fazendo parte daqueles que foram dados ao Filho. O Pai se dirige ao Filho, o fiador da Nova Aliança e diz algo como: “O Alan será teu”. Hoje, no tempo presente, teu nome continua a ser pronunciado pelo Filho em sua intercessão. O Filho se dirige ao Pai e diz: “O Alan é meu! Tu mo deste!”. E teu nome continuará a ser pronunciado no céu até à eternidade futura, pelos séculos dos séculos, como alguém que é amado pelo Filho, mas não apenas por ele, mas também pelo Pai e pelo Espírito Santo.

Nossos pecados são tratados completamente por nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós e por nós intercede. Nossas aflições também são alvo da intercessão do Senhor. É por causa dele que temos recebido bênção sobre bênção. É por causa dos seus méritos que somos abençoados com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais (Ef 1.3).

De nenhum modo tais conceitos devem nos lançar à inércia na busca pelo crescimento na piedade. Muito pelo contrário, como expressão de nossa gratidão, não nos resta outra coisa a fazer senão lutar, pelo Espírito, para mortificarmos os feitos do corpo (Rm 8.13).

Somos fracos, é verdade. Mas, uma vez que ele é tudo aquilo de que necessitamos, podemos bradar com Richard Sibbes: “Somos fracos, mas somos dele” (The Bruised Reed. p. 62). Somos vacilantes, fracos, tímidos, mas pertencemos a ele; fomos comprados com o seu sangue precioso, puro, sem mácula. Por esta razão, aborreçamos toda dúvida, toda incerteza, todo pensamento que nos leve a imaginar que não há mais esperança, sejam quais forem os nossos problemas e pecados.

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Autor: Rev. Alan Rennê
Fonte: Jovem Reformado
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Amor e a desumanidade do casamento homossexual

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Mais e mais comentaristas dizem que já passamos do ponto crítico em relação ao casamento homossexual nos Estados Unidos. Quase que diariamente um político ou uma celebridade encara um microfone e declaram seu apoio à causa. Parece que o paradigma mudou, que os valores estão invertidos.

Se o casamento homossexual é politicamente uma realidade indiscutível, eu não sei. O que me preocupa, atualmente, é a tentação entre os cristãos de seguirem a corrente. A premissa é de que a nação não compartilha mais de nossa mesma moralidade e nós não podemos impor nossa visão aos outros ou ultrapassar a linha que divide Estado e Igreja. Além do mais, nós não queremos que nenhuma política impertinente entre no nosso caminho de pregar o evangelho, certo? Então nós também devemos simplesmente engolir essa realidade. E dessa maneira, o pensamento continua.

Lições Bíblicas para Liderança na Igreja Local - Parte 1/2

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Introdução

Muitos estudos têm sido empreendidos na área de liderança, na verdade há sempre uma necessidade de reavaliar tais posicionamentos sobre a questão da condução de qualquer obra, grupo, igreja, povo, tribo ou nação. A liderança é algo necessário e presente na cultura humana. A liderança não foi instituída por causa da Queda. Deus já havia instituído tal liderança a Adão e também a Eva. Eram eles subgerentes na criação. Deus havia lhes dado os mandatos da criação: espiritual, social e cultural¹.

Então temos de fato uma necessidade de refletir biblicamente sobre liderança. Sobre os princípios que a Bíblia ensina sobre liderança, a importância disso é muito grande, uma liderança sem princípios é como um navio sem bússola. Liderança sem o processo de experiência é como um navio sem o capitão. Liderança sem um padrão é como um navio sem porto seguro². Tal é a importância dos princípios bíblicos para a liderança, serão uma bússola, um capitão, um padrão, um porto seguro. Os princípios ditarão o que será a liderança e mostrarão os pressupostos da liderança exercida. Se o pressuposto não for a glória de Deus, o que teremos é uma liderança que glorifica a criatura em vez do Criador. Isso é relevante para entendermos o que disse o Dr. Shedd:

Os eventos, as pessoas e as circunstâncias afetam as atitudes e produzem reações que as pessoas desenvolvem desde o nascimento até a morte. Enquanto uma pessoa amadurece, ela aprende através da experiência e da reflexão. A leitura, o estudo e a discussão afetam o processo que transforma um jovem imprudente em um líder respeitado³.

Os princípios serão aprimorados pela experiência do líder, Paulo nos diz isso em várias de suas epístolas, “Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo”, (1 Timóteo 3.6); é um exemplo escriturístico. Então, como disse Shedd, a experiência e reflexão devem seguir os princípios bíblicos. Tudo na liderança deve girar em torno da sabedoria bíblica. A boa liderança bíblica é marcada pela integridade de caráter e sabedoria bíblica. Alguém pode até ser um bom líder e arrebanhar multidões sem ser bíblico e íntegro. Portanto, o que marca o líder cristão não é o sucesso diante dos homens, mas, sua fidelidade a Deus e sua Palavra. O que um líder cristão precisa ler? Ele pode ler bons livros sobre liderança, pode recorrer a palestras e a congressos, mas, diante da enxurrada de literatura sobre o assunto pautada na literatura secular empresarial, meu conselho é simples, o líder bíblico deve procurar sabedoria, então, leia Provérbios.

Deve ser piedoso, buscar sabedoria. Temos muitos líderes com muito conhecimento, mas pouca sabedoria. Fontes sem águas. A sabedoria bíblica é prática. O conhecimento de Deus deve permear a comunidade e redundar em prática, em vida. Devemos ensinar nosso povo a buscar conhecimento, mas, também devemos ensiná-los a amar a sabedoria, afinal, “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria”, (Pv 1.7), isso é tão básico que esquecemos tamanha riqueza.

Uma liderança bíblica destoa grandemente do tipo de liderança que temos visto em nosso tempo. Não podemos negar que uma grande onda de influência empresarial tem invadido, mudado o foco e distorcido o que dizem as Escrituras sobre uma liderança bíblica. Estratégias, planejamento, projeções, análises de dados tem sido as principais abordagens de muitos autores que escrevem nessa área, não apenas isso, muitos pastores têm tomado conselhos de uma abordagem puramente empresarial e não bíblica da liderança e isso causa consideráveis problemas a igreja. Neste artigo, iremos caminhar observando alguns líderes na Bíblia, extrairemos alguns exemplos nas narrativas que mencionam cada um deles. Necessário é sabermos que o foco não está, de fato, na vida deles, mas, como Deus operou através deles, usou e corrigiu muitos dos seus erros. A Bíblia é o maior manual de liderança já conhecido. Não há e não haverá outro livro que supere a Bíblia nos ensinamentos sobre liderança, nela temos as diretrizes eternas para o exercício da liderança espiritual.

A Igreja não funciona como uma empresa

Não queremos dizer com isso que a igreja não deve se preocupar com suas obrigações como registro de funcionários, pagamentos de contas como de água, luz, telefone e internet. Não queremos dizer com isso que uma igreja não possa ter trabalhos como creches ou escolas infantis, absolutamente não. Não queremos dizer que a igreja não deva valer-se de recursos vindos do mundo empresarial, porque se fizéssemos isso, estaríamos negando a graça comum. Quando dizemos que a igreja não funciona como uma empresa, dizermos que o rebanho do Senhor não pode ser visto como consumidores, funcionários, gerentes, supervisores (no sentido empresarial) e proprietários. A igreja é uma organização no sentido de que ela precisa estar organizada com fins a melhor testemunhar com evangelho de Cristo, mas, a igreja também é um organismo vivo. Então, é necessário cuidado com abordagens seculares a respeito da liderança, liderar na igreja não é a mesma coisa de chefiar um departamento numa empresa. A liderança espiritual está totalmente ligada a edificação da igreja para glória de Deus.

A Igreja não funciona como um clube

Muitos tem figurado a igreja como um clube ou agremiação. Uma associação de pessoas que estão ali para viverem juntas em com um objetivo terapêutico. Não devemos duvidar que a vida em comunidade na igreja também é terapêutico, pessoas solitárias, deprimidas, atribuladas, indecisas, assoladas por tragédias e sofrimentos que não temos como listar, estão na igreja e são atraídas para a igreja. Essas pessoas são, em grande medida, transformadas pelo evangelho e desfrutam na comunidade de fé de amizades saudáveis, relacionamentos que lhes fazem bem, companhia e cura de dores dos seus sofrimentos. É verdade que na igreja pessoas tristes encontram alegria de viver em comunidade, mas, isso não faz da igreja um clube. A igreja é a comunidade da Palavra, todos os benefícios que a igreja proporciona deve girar em torno da Palavra. Toda comunhão, alegria, solidariedade, compaixão, misericórdia, bondade, longanimidade e fé são frutos da Palavra e para a glória da graça que opera na santa igreja de Deus.

A Igreja como Comunidade Cristã

Segundo a confissão de fé congregacional, mais conhecida como Declaração de Savoy, sobre a igreja:

A igreja católica ou universal, a qual é invisível, consiste de todo o número dos eleitos que têm sido, são ou serão reunidos num só corpo, sob Cristo – sua Cabeça; ela é a Esposa, o corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas⁴.

Isso é a igreja de Cristo, a reunião dos eleitos de Deus, que foram predestinados, chamados, justificados, santificados e que serão glorificados, para a glória única do Deus triúno. Nos diz ainda o Catecismo de Heidelberg, pergunta 55:


O que você crê sobre a comunhão dos santos?
Resposta: Primeiro, creio que todos os crentes, juntos e cada um em particular, como membros de Cristo, têm comunhão com Ele e participam de todos os Seus tesouros e dons. Segundo, creio que cada um têm o dever de usar seus dons com disposição e alegria para o benefício e o bem-estar dos outros membros.

Através dessa pergunta do catecismo podemos mensurar o que é a liderança bíblica: o exercício de dons para a edificação da igreja. Os dons de liderança que foram dados a igreja em todas as eras, mostram que a finalidade da existência de líderes é para o bem-estar  da comunidade de fé que é regida pela Palavra de Deus. Líderes bíblicos servem a Deus e o glorificam, cuidando da igreja seguindo os princípios bíblicos e não formulas empresariais ou publicitárias. A liderança cristã bíblica é cativa ao ensino bíblico e a busca da sabedoria bíblica. 


A Liderança Espiritual Bíblica

Aqui temos um princípio básico, a liderança espiritual é humilde e exemplo. Quando era menino ouvi muito um ditado proferido por cristãos imaturos dizendo “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, há certa verdade nesse ditado, mas absolutamente ele não transmite o que a Bíblia diz sobre liderança cristã. Temos vários exemplos de liderança cristã nas Escrituras, vamos falar um pouco sobre cada uma delas. Nossos objetos de estudo serão as lideranças de Adão, Moisés, Davi e Josias.

A Liderança de Adão

Poderíamos tratar de vários personagens bíblicos que serviriam de estudo de caso para a liderança bíblica, mas, por questões de espaço selecionamos alguns. Nosso primeiro estudo será com base na liderança de Adão. Deus criou o homem e a mulher (Gn 1.26,27) a sua imagem e semelhança. Colocando-os como vice-gerentes na criação. Eles tinham que cuidar, gerir tudo aquilo que Deus tinha colocado em suas mãos. Nesse contexto, temos a liderança de Adão como o cabeça de sua esposa. Adão deveria governar o que Deus havia lhe dado como trabalho na criação e também sua mulher e seus filhos. Observamos na narrativa bíblica algo interessante, vejamos:

E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim, (Gênesis 3.8)

Podemos extrair algumas aplicações desse texto sagrado. Depois de pecarem, o homem e sua mulher, não mais eram atraídos pela voz do Senhor, mas, temeram juízo. A liderança de Adão foi destruída por causa do seu pecado, Adão agora perdera a comunhão com Deus; sem comunhão como poderia liderar justamente, como poderia exercer aquilo para que Deus o havia criado? Adão pecou, seu pecado comprometeu sua liderança. Uma liderança bíblica deve ser santa, uma vida que busca a piedade e afasta-se do pecado. O apóstolo Paulo disse que o presbítero deve ser irrepreensível, equilibrado, modesto e que tenha domínio próprio (1 Timóteo 3). Essas são algumas das características para um pastor, mas, devemos perceber que tais atribuições morais e espirituais não são restritas a pastores, mas a todo cristão. Mas, de fato, principalmente aqueles que lideram. Um líder intemperante, ímpio, sem equilíbrio não promoverá saúde aos seus liderados.


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Continua em breve...
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Notas:
[1] Para estudos mais profundos sobre esse assunto da liderança de Adão e Eva, as obras de Gerard Van Groningen são uma contribuição ímpar. Criação e Consumação, são três volumes publicados pela editora cultura cristã.
[2] SHEDD, Russell. O Líder que Deus Usa. Ed. Vida Nova, p. 25.
[3] Ibid, p. 24.
[4] Declaração de Savoy. Capítulo 26. 1. Ed. Aliança.

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Autor: Rev. Thomas Magnum de Almeida
Divulgação: Bereianos
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