Teologia tupiniquim: Medievalismo e pós-modernismo

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Por Leonardo G. Silva - Th.M.

Não é de hoje que eu ando preocupado com a teologia brasileira. Aliás, falar de “teologia brasileira” é entrar em terra de ninguém, isso porque até hoje - ao menos segundo me consta - não existe uma teologia brazuca propriamente dita. Nosso “mercado” teológico experimenta o que eu aprendi na quinta série como sendo a tal “balança comercial (des)favorável” (se não é assim, a culpa é da dona Maria José, minha professora lá na E.E. Clóvis Salgado, que me ensinou errado): importamos muito, exportamos pouco e produzimos quase nada.

Eu sou brasileiro, então posso falar: A gente só gosta de coisa importada. Usamos Nike e desprezamos o Bamba. O nacional não presta; tudo de bom vem de fora. Na teologia, a tendencia é a mesma: importamos a Teologia da Prosperidade (made in USA), o pragmatismo teológico (Idem), e recentemente o Teísmo Aberto ou Teologia Relacional (Idem também!). Como nós amamos os Estados Unidos! “Se farinha fosse americana e mandioca importada, banquete de bacana era farinhada!”. Deus abençoe a América!

Apesar de ser um tanto dissoante perguntar pela nossa teologia (pois não criamos nada: apenas copiamos e compilamos), mesmo assim podemos propor uma investigação acerca das raizes da teologia dominante no meio protestante (protestante?) brasileiro. É claro que tal pesquisa envolveria uma busca enorme, catalogação de diversas fontes, etc. Mas como eu não estou escrevendo nenhuma monografia, e como isso aqui ainda é um blog, e não um compêndio de obras acadêmicas, poluido de jargões estereotipados e feito segundo o pedantismo da ABNT, vou arriscar um pitaco informal e falar um pouco das raizes da teologia predominante no mercado religioso:


1. A primeira forte tendência que eu encontro na atual teologia de mercado é de caráter medieval. Errou quem pensou que eu ia começar falando do Kannet Hagin e Essek Kenyon, dois “malucos beleza” do movimento da confissão positiva. Sim, senhores! O medievalismo ainda é a maior tendência dentro do protestantismo brasileiro. Olha só o que rolava naquele tempo, e o que rola até hoje nas igrejas pós-reforma:

a) Obscurantismo Teológico: O medo do novo é uma das marcas da teologia medieval. Tudo o que não se encaixava nos moldes do escolasticismo era chamado de heresia (qualquer semelhança com os fundamentalistas de hoje não é mera coincidência).

b) Ênfase nas obras: Não existia uma mensagem de graça. O perdão de Deus era obtido mediante o esforço do fiel, que graças a sua piedade intrinseca, se auto-redimia comprando para si o favor e o perdão de Deus (qualquer semelhança com as igrejas pentecostais legalistas de hoje não é mera coincidência).

c) Clero claudicante: O câncer da corrupção havia tomado conta do clero. Sacerdotes ladrões e adulteros, que não tinham tempo para apascentar o rebanho, mas que satisfaziam a cada dia a sua luxúria concupiscente eram comuns à época (qualquer semelhança com pastor, apóstolo e bispo safado, que dá mal testemunho e explora a fé superticiosa do povo não é mera coincidencia).

d) Uma fé palpável: Comercialização de ícones, de relíquias dos santos e imagens de escultura, além da compra do favor de Deus mediante o pagamento de indulgências (qualquer semelhança com lenços ungidos, venda de produtos made in Israel e com as pregações sobre dízimo – quem dá recebe, e pode colocar Deus contra a parede – não é mera coincidência).

e) União entre a Igreja e o Estado: A idéia era trazer o reino de Deus à terra mediante um governo cristão no mundo (qualquer semelhança com os discursos eleitoreiros evangélicos de hoje não é mera coincidêcia). Quase sempre os governantes religiosos davam escandalos e mal testemunho (qualquer semelhança com o episódio das ambulâncias, CPI dos sanguessugas não é mera coincidêcia também).


2. A segunda forte tendência
que eu encontro na atual teologia de mercado chama-se Pós-modernismo. Vilão bem conhecido nas igrejas, é o principal responsável mela mudança dos paradigmas, pela perda da identidade e valores cristãos. Além disso, sua influência pode ser vista:

a) Na relativização da verdade: Ninguém aceita que se fale em verdade absoluta, principalmente no contexto de religião, pois descobriu-se que todo esse dogmatismo ofende os ouvintes. Além do mais, eles estão absolutamente convencidos de que a verdade é relativa.

b) Remoção dos marcos antigos: Há uma forte aversão por tudo que é antigo. Desprezam o antigo por ser antigo, e aderem ao novo por ser novo, quando na verdade ambos, o antigo e o novo (qualquer semelhança com os discursos pra frentex que introduzem os modismos na igreja não é mera coincidência).

c) Amor livre: Não existe uma preocupação com a castidade. Aliás, alguns situacionistas classificam o pecado como aquilo que é feito sem amor. Fazer amor não é pecado! Realmente ainda não entendi que amor é esse, que hoje se entrega a um, amanhã se dá a outro. Talvez seja o amor cantado pelo Ed Motta: “amor de bicho!”. Ademais, amor livre é uma contradição de termos. Como dizia o poeta Camões, amar “é querer estar preso por vontade”. Amor é cativeiro, e não liberdade.

d) O homem como centro da teologia: basta ligar o televisor em qualquer programa evangélico para constatar que o foco da teologia está invertido. Deus já não é o objeto de culto, a quem se dirigem os fiéis em gratidão. Ele é um vassalo, um servo do homem, que está aí para atender todos os nossos caprichos. Nós determinamos, e ele (tal como um mascote bem treinado) instintivamente obedece, tudo porque nossas palavras têm poder (qualquer semelhança com o discurso triunfalista da IURD, Igreja Mundial, do gordinho da garrafa ou com o pastor daquela garagem na sua rua não é mera coincidência).

Nossa breve incursão pelo cenário teológico brasileiro, nos capacita a entender que, embora não exista uma teologia netamente brasileira, existe atualmente uma teologia sincrética, uma grande colcha de retalhos feita à partir de remendos modernos e medievais, que vai em busca do que há de pior em ambos sistemas e sintetiza-os, criando um cristianismo de mercado, onde o objetivo principal não é a glória de Deus, e sim deixar os clientes satisfeitos.

Fonte: [ Púlpito Cristão ]
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1 comentários:

Interessante é o fato divulgado na NewsWeek semana passada sobre o término do cristianismo na América... Uma diminuição de cerca de 15% de 1990 para cá...
Exportamos as técnicas do apagão americano para o Brasil. Quem sabe quanto tempo demorará para recebermos o mesmo apagão em vista de tanto investimento...

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