Conquistas esquecidas da Reforma [1]

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Por: Elaine Resende

Esta micro-série pretende resgatar algumas conquistas teológicas dos reformadores. Um conteúdo inovador, que distinguiu de uma vez por todas as igrejas protestantes do catolicismo. Contudo, muitas igrejas evangélicas modernas simplesmente esqueceram ou mesmo nunca praticaram esses pressupostos. Mesmo assim, estas denominações se dizem filhas do pensamento da Reforma. A pergunta que deixo para análise individual: será que apenas por não estar dentro do catolicismo romano, uma denominação pode ser considerada herdeira da Reforma?

A salvação pela fé

Começamos com o apelo primordial da Reforma, expresso muitos séculos antes pelo apóstolo Paulo:
Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie (Efésios 2,8-9).
A salvação pela fé é a antítese da salvação pelas obras. Com ela, questiona-se muitas práticas que visavam a salvação fora de Cristo, como a compra de indulgências. Mesmo práticas consideradas espirituais em certas igrejas, como orações pelos parentes falecidos, ficam sem sentido, uma vez que se entende que a fé deve ser exercida em vida.

Ainda não conheço nenhuma denominação evangélica que afirme a salvação pelas obras. Mesmo assim, a fé que certas igrejas proclamam está bem distante da fé defendida pelos reformadores. Algumas denominações atuais dizem que para "fortalecer" a fé e, com isso, assegurar a salvação, são necessários inúmeros objetos. Estes adquirem poder para abrir os caminhos, espantar mal olhado e restaurar a felicidade no lar. Tudo após um ritual bastante cênico e algumas palavras mágicas proferidas pela liderança.

Paul Freston, em seu artigo Breve história do pentecostalismo brasileiro (um pouco antigo, de 1994, demonstrando que certas coisas não mudam), faz um levantamento sobre a Igreja Universal do Reino de Deus:
Em uma só página da Folha Universal, lemos a respeito dos seguintes símbolos: o Pão da Fartura, a Maçã do Amor, a Rosa Consagrada, o Nardo Ungido, a Sarça dos Milagres , o Sabão em Pó Ungido e uma mesa de frutas simbolizando a prosperidade. Sem falar na Reunião da Paz ("os participantes comparecerão vestindo uma blusa branca e carregando uma rosa branca") e na Vigília do Clamor de Jonas ("os participantes se concentrarão dentro da representação simbólica de uma baleia"). A justificativa do uso de tais recursos é parecida com a da Igreja Católica. Segundo um pastor, as pessoas precisam deles como incentivo à fé , mas o que resolve é a fé.
Não só a Universal, mas suas "filhas" gostam de inventar um objeto mágico. A Igreja Mundial do Poder de Deus lançou no ano passado uma miniatura de um galão de água ungida. Segundo o pastor, uma só gota era suficiente para mudar a vida do fiel. Alguns meses depois do galão veio o pedaço de rede por R$ 153.

O que dizer? Um cristão não precisa de objetos mágicos para incentivar sua fé. O que um cristão precisa para manter a sua fé é de uma vida de oração, leitura atenta da Palavra e do auxílio do Espírito Santo. O resto é invenção para chamar a atenção ou tirar dinheiro das pessoas.

Obs: o artigo de Paul Freston está no livro Nem anjos, nem demônios. Interpretações sociológicas do pentecostalismo.

Autora: Elaine Resende

Fonte: [ Nani e a Teologia ]

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