O Dia do Senhor e outras verdades: Uma refutação ao artigo de Dani Marques

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Por Rev .Francisco Belvedere Neto


Ultimamente virou moda atacar o cristianismo histórico. A cada dia que se passa, aparece uma critica ou acusação nova. Os alvos preferidos são geralmente o ministério ordenado (clero), o dízimo, a igreja institucional, etc. 

O presente artigo tem como objetivo ser uma refutação ao artigo de Dani Marques intitulado: Casa de Deus, Dia do Senhor e outras mentiras[1], publicado no site Genizah que apresenta-se como apologético. Ao publicar artigos como esse fico a pensar que tipo de apologética eles estão de dispondo a praticar. Nada contra o site, tem até um artigo meu publicado por eles há dois anos, mas ultimamente tenho me decepcionado com o conteúdo de alguns artigos que eles têm publicado.

Fiquei simplesmente perplexo primeiramente diante da arrogância do texto, depois com a falta de fundamentação teológica adequada para as afirmações feitas. Se a autora tivesse sido humilde o suficiente para dizer que simplesmente não concorda com o conceito de um “dia do Senhor”, por exemplo, seria apenas uma opinião pessoal, mas, ela se coloca como dona da verdade classificando como mentira as opiniões divergentes da sua, referentes aos temas que ela abordou. Vamos então examinar os argumentos da autora e perceber que sua acusação de “mentira” não se sustenta, podendo sempre, como em qualquer debate, sustentar a possibilidade de discordância de ideias.

“Acho curioso quando pastores ou padres terminam suas celebrações dizendo: "Senhor, despede-nos na sua santa paz!" Bom, seguindo essa lógica, quando vamos embora Deus fica lá na casa dele esperando ansiosamente a nossa volta, correto?”

Errado! Poderia então a autora nos apontar algum pastor que afirme isso? Então nessa lógica, quando oramos para Deus acompanhar alguém em alguma viagem, estamos pedindo para Deus literalmente restringir sua presença a fazer companhia essa pessoa? Seria um absurdo pensar algo assim. Ao usar o argumento exposto, ela usa de raciocínio semelhante.

“Querido, gostaria de te dizer que Deus habita em gente, não em prédio. Ele nos permite ter espaços que viabilizem nossos encontros, mas não mora neles. O templo não é uma construção repleta de vitrais, com altar de mármore e bancos de madeira, não! O pior, é que em cima dessa mentira, constroem-se muitas outras: "O altar é lugar sagrado!" ou "Não pode vir a igreja de bermuda ou boné, pois é lugar santo!" A Bíblia que eu leio me ensina que o santuário é meu corpo e que lugar sagrado é meu coração!”

Que Deus não habita em templos é fato, o Antigo Testamento também afirma isso! Vejam o que diz o versículo 1 do Salmo 123: “A ti, que habitas nos céus, elevo os olhos!” Este salmo está entre os chamados cânticos de romagem, que eram cantados quando o povo subia a Jerusalém, cidade onde se encontrava o templo, para celebrar algumas festas. Até mesmo Jesus chamou aquele lugar de casa de Deus (Lc. 19.46) mesmo ensinando seus discípulos que Deus habita verdadeiramente nos Céu (Mt. 6.9, Jo. 14.2). A Igreja do Deus vivo (que pode referir-se tanto a totalidade do povo de Deus, quanto a organização local de um grupo de crentes em Cristo) é chamada de casa de Deus pela Escritura, onde é necessário que haja um proceder adequado (não me refiro ao uso de  bonés ou bermudas no culto público, mas ao principio que na igreja deve-se adotar um proceder digno, reverente). 1. Tm. 3.15:  "para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade."

Além do já exposto, ela ataca a observância do domingo como dia do Senhor. Ao fazer isso ela mostra ignorância tanto bíblica quanto teológica e histórica. Ela se utiliza de textos cujo contexto é a influencia dos judaizantes na igreja primitiva, que queriam impor a guarda da lei de Moisés, inclusive cobrando a observância dos dias santos judaicos, tais como o sábado, as luas novas e as festas. Mas, o dia do Senhor está fora desse contexto. O dia do Senhor (domingo) é tão neotestamentário quanto o batismo e a santa ceia. Dani Marques então afirma:

“Não, não existe lugar e momento certo para cultuar a Deus. Nossa vida deve ser um culto diário! Restringir esse privilégio a um dia da semana chega a ser herético. A única recomendação que encontramos na Bíblia a respeito deste assunto é: "Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia." Hebreus 10:25. Lembrando que a palavra igreja vem do grego ekklesia, que significa "ajuntamento ou reunião de pessoas" (cristãs ou não). Dito isso, vamos pensar juntos: este versículo NÃO quer dizer que "faltar nos cultos de domingo é pecado", que "deixar de ir ao culto para ficar em casa ou passear com a família é pecado", que "você precisa estar nos cultos da manhã e da noite", que "se fizer outras coisas ou for à outros lugares no 'Dia do Senhor' receberá o castigo devido" e etc. Olhando para vida de Cristo e seus ensinamentos, não encontro nada que comprove essas afirmações.”

Vamos então às bases bíblicas que ela nega existir com respeito  ao domingo ser dia do Senhor começando por Ap. 1.10: "Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta. Bem, esse versículo já lança o ponto de vista defendido no referido artigo por terra, já que afirma a existência de um “dia do Senhor”.  Vejamos mais fatos bíblicos:

1. Jesus ressurgiu dos mortos no primeiro dia da semana (Mc. 16.9, Jo. 20.1).

2. O Senhor sempre aparecia aos discípulos no primeiro dia da semana (Lc. 24.13-15, Jo. 20.19,26).

3. Foi justamente num domingo que o Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos que estavam no cenáculo (At. 2.1-4).

4. No primeiro dia da semana os crentes se reuniam para cultuar e celebrar a santa ceia do Senhor (At. 20.7, 1. Co.16.2).

Logicamente o dia do Senhor (Kyriake hemera) de Ap. 1.10 não se refere a outra coisa a não ser o dia especial separado para o culto cristão e memória da consumação da obra do Senhor Jesus Cristo. Não bastando isso, temos inúmeras provas históricas disso. Os escritos dos pais da igreja, em especial os chamados “pais apostólicos” que viveram logo em seguida à era apostólica, assim como o  Didaché (antigo escrito da igreja cristã, datado do século II ) e até Plínio (historiador romano, que observou como viviam os cristãos) atestam isso:

Didaché: Mas a cada DIA do SENHOR? ajuntai-vos e partilhai do pão, e fazei vossas ações de graça após ter confessado vossas transgressões, para que o vosso sacrifício possa ser puro. Todavia não deixai ninguém que está em divergência com seu amigo agregar-se a vós, até que eles estejam reconciliados, para que o vosso sacrifício não possa ser profanado. (Didaché 14:1, Padres Ante-Niceianos Vol. 7, pg. 381)

107 AD Inácio: Não vos enganeis com doutrinas estranhas, nem com velhas fábulas, as quais não trazem nenhum proveito. Pois se nós vivêssemos ainda de acordo com a lei Judaica, nós reconheceríamos que não teríamos recebido a graça...Se, portanto, aqueles que foram trazidos da antiga ordem das coisas vieram à possessão de uma nova esperança, não mais observando o Sabbath, mas vivendo na observância do Dia do Senhor, na qual também nossa vida brotou novamente por Ele e por intermédio de Sua morte (Que alguns negam), por tal mistério nós recebemos fé, e contanto que soframos a fim de que nós possamos ser achados discípulos de Jesus Cristo, nosso único Mestre, como seríamos capazes de viver apartados dele por quem até mesmo os profetas estão procurando como seu Mestre uma vez que estes são seus discípulos no espírito? ...Que todo amigo de Cristo guarde o Dia do Senhor como um festival, um dia de ressurreição, a coroa e chefe de todos os dias da semana. É um absurdo falar de Jesus Cristo com a língua , e fomentar na mente um Judaísmo que tem agora chegado a um fim, pois onde houver Cristianismo não pode haver Judaísmo...Estas coisas eu envio a vós, meus amados, não que eu saiba que algum de vós esteja em tal estado; mas desejo de ante mão vos resguardar, antes que qualquer dentre vós caia nos anzóis de vãs doutrinas, mas para que possais melhor apegai-vos a uma completa certeza em Cristo...(Inácio, Epístola aos Magnesianos, capítulo 9. Padres Ante-Niceianos, Vol. 1, pg.62-63)

110 AD Plínio: eles tinham o hábito de se reunirem num determinado dia fixo antes que clareasse, quando cantavam hinos diversos a Cristo, como para um Deus, se uniam em um solene juramento de não praticar quaisquer atos iníquos, nunca cometerem qualquer tipo de fraude, roubo ou adultério, nunca em prestar um falso testemunho nem em negar uma responsabilidade quando fossem eles chamados para tal; após o que era costume deles se separarem e então se reunirem novamente para participar de uma boa refeição ! mas comida de tipo frugal e inocente.

190 AD Clemente de Alexandria: Ele cumpre os mandamentos de acordo com o Evangelho e guarda o !Dia do Senhor?, quase sempre ele lança fora maus pensamentos...glorificando a ressurreição do Senhor nele mesmo. (Ibid. Vii.xii.76.4)

200 AD BARDESANES: Onde quer que estejamos, somos todos chamados segundo o nome dos Cristãos de Cristo. Em um dia, o primeiro da semana, nós nos reunimos em assembleia.

Diante do exposto só posso lamentar as afirmações que Dani Marques faz em seu artigo. Espero sinceramente que ela leia este artigo e reveja seus posicionamentos, ou se desejar mantê-los, que reconheça que antes de classificarmos algo como sendo “mentira”, devemos fazer uma pesquisa séria sobre o que se escreve de modo a provar tal alegação.

Soli Deo Gloria!

Nota:

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1 comentários:

Convenhamos que a definição de "Dia do Senhor" não passa de uma convenção cultural, inclusive considero equivocada. "Dia do Senhor" inicialmente na bíblia se refere a um dia que marcará o final da história, então não entendi porque os primeiros cristãos associaram esse nome ao dia do domingo. Ao meu ver não passa de uma convenção. Somente foi "definido como estatuto" no Concílio de Nicéia, e como não encontro uma base bíblica convincente para "guardar o dia de domingo para adorar a Deus", não acho nem que seja heresia (como a Dani falou) e nem que seja uma regra (conforme o autor apontou indiretamente). Acho vago e de pobre hermenêutica pegar um versículo de Apocalipse e outros que demonstram que eventos importantes aconteceram no domingo e justificá-los com os costumes dos primeiros cristãos. Ainda temos de lembrar que no segundo século os cristãos lutaram fortemente contra o gnosticismo e o paganismo, então muitos costumes deles são contraposições aos costumes estranhos.

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