Eu sei o que vocês fizeram nos verões passados

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Por Thiago Azevedo


Já se tornou algo corriqueiro em ambientes evangélicos a mania de tratar de forma sub-humana e repreensiva a pessoa que cometeu algum deslize no passado e que já se encontra de fato recuperado deste erro e no convívio eclesiástico. Isso gera dissensão e uma verdadeira diáspora nas pessoas afetadas. 

Geralmente esta atitude é praticada por aqueles cristãos que o autor de Hebreus intitula como meninos na fé e que não podem comer comida sólida Hb. 5:12. De fato, os que se portam desta forma dentro das igrejas, estão no ambiente eclesiástico há anos e não sabem o que é comer algo sólido (sã doutrina). Primeiro que em muitos casos o responsável por dar uma alimentação substancial (pastor) é tão criança quanto. Segundo que muitos fiéis são descompromissados com uma vida de dedicação e estudos para com as escrituras sagradas. E a velha máxima bíblica de que o povo de Deus se perde por falta de conhecimento se torna cada vez mais verdadeira. Tudo isso é uma combinação mais que explosiva, além de inúmeros outros motivos. Faz-se necessário a compreensão de que Jesus morreu por quaisquer pecados na cruz, como também necessário é que seja compreendido que não há condenação para aqueles que estão em Cristo conforme está escrito. O que aparenta é que estas pessoas de senso crítico acima do comum e “santarrões que estão acima de qualquer suspeita”, acreditam que possuem poder maior que o próprio sacrifício de Cristo ao trazer o passado de alguém à tona com propósito de promover vergonha e exclusão. Ao fazer isso estão demonstrando com suas respectivas atitudes que não creem neste sacrifício como pleno e suficiente.

O que entristece realmente, ao longo da caminhada cristã, é ver pessoas que antes de serem regeneradas e conversas cometiam os mesmos erros, agiam da mesma forma, ou às vezes, até pior e de forma mais vergonhosa ainda. E na atualidade simplesmente querem demonstrar uma pseuda santidade por meio de uma repreensão eclesiástica permeada de injustiças, coronelismo e desamor destinado ao cristão que vacilou há pouco. Há um texto no livro de Êxodo que ensina uma verdade acerca deste comportamento infantil. O texto de Êxodo 23:9 mostra uma recomendação do Senhor para Israel acerca do estrangeiro no meio deles. “Não oprima o estrangeiro. Vocês sabem o que é ser estrangeiro, pois foram estrangeiros no Egito” (NVI). Esta recomendação estará sendo sempre lembrada a Israel pelo Senhor Deus. É como se Israel não pudesse de forma alguma negligenciá-la. 

Quando Israel saiu do Egito alguns egípcios saíram em paralelo, na expectativa de dias melhores Ex. 12:38. É bem verdade que havia cercas que delimitavam as distinções práticas e culturais de um povo e de outro, e que estas estavam bem evidentes e impostas pelo próprio Deus Ex. 12:43-48. Mas o próprio Deus queria tratar o estrangeiro de forma igual, pois propôs uma isonomia a estes Ex. 12:49. E a lei a ser seguida era estabelecida pelo próprio Deus. Estas cercas distintivas tinham que ser bem notórias pelo fato do povo egípcio ter algumas práticas pagãs. Por exemplo, em Levítico 17 se observa com mais detalhes esta ideia. Os vs. de 1 a 5 mostram que Deus regulamenta e estabelece uma lei sacrificial que apontava para uma prática litúrgica que aparentemente estava banalizada. O v.7 mostra uma prática pagã, sacrificar animais a ídolos, o que aparenta ser um costume egípcio. Os vs. 8-15 mostram um cuidado de Deus para que nenhum israelita siga costumes estranhos e que nenhum estrangeiro imponha sua liturgia pagã no seio do povo israelita. Observe que tudo é o próprio Deus quem regulamenta e não homens. Doravante, este comportamento de Deus para com o estrangeiro não deve ser visto como intimidador, muito pelo contrário. Deus propõe justeza e igualdade conforme em Lv. 19:35-36. E sempre ressalta na sua palavra o ensinamento já visto anteriormente “O estrangeiro residente que viver com vocês será tratado como o natural da terra. Amem-no como a si mesmos, pois vocês foram estrangeiros no Egito. Eu sou o Senhor, o Deus de vocês” (NVI) Lv. 19:34. Ou seja, quem já foi peregrino em terra estranha, quem já sofreu o desprezo em terra estranha, quem já foi reprimido com injustiça em terra estranha não pode, ou melhor, não deve pagar na mesma moeda! 

Ao observar a postura de Jesus ao ver a mulher adúltera prestes a ser apedrejada, argumenta Ele que aquele que não tenha pecado atire a primeira pedra. Jesus assim fez Porque as mãos que iam atirar as pedras eram as mesmas que cometiam o mesmo pecado daquela mulher (adultério). Isso se chama hipocrisia, e das brabas! É desta mesmíssima forma que agem os hipócritas contemporâneos que se munem de pedras para lançar em alguém, porém suas mãos são tão ou mais pecadoras quanto. As igrejas estão cada vez mais lotadas de pessoas que fizeram por notório seus estados pecaminosos e a podridão de suas almas quando andavam na contra mão de Deus. Cada vez mais se tem visto uma crescente fabricação nas igrejas atuais de ex. Ex-traficantes, ex-bandidos, ex-homossexuais, ex-estelionatários etc., Não que isso seja ruim (em parte). Consegue-se enxergar o verdadeiro poder regenerativo que há no nome e na pessoa de Cristo (quando de fato ocorre à regeneração). É bem verdade, que estas pessoas precisam saber identificar as cercas distintivas impostas pelo próprio Deus. Bem como fez com os estrangeiros no meio de Israel. Mas o principal, é que elas entendam que poderão desfrutar do ambiente pós cerca, uma vez obedecendo aos preceitos. O que gerará uma compreensão da importância de se ter uma vida regrada por estas normas. As cercas distintivas devem estar presentes não só no âmbito superficial, mas também e principalmente no doutrinário à medida que estes cristãos neófitos avançam na caminhada. São as cercas que determinarão quem quer e quem não quer seguir as normas divinas. Os que evidenciarem as características da eleição é que vão perseverar nesta missão e isso refletirá em toda igreja posteriormente. Porém, este processo deve ser totalmente desconexo de coronelismo e comportamento ditador. 

Não se pode agir de uma forma com a qual não queremos ser tratados no futuro. Nem se pode agir com uma postura humilhante com a qual já fomos tratados no passado. Pessoas que de fato sofreram uma regeneração e consequentemente uma conversão verdadeira devem ajudar aqueles cristãos neófitos que porventura venha a cometer erros semelhantes. Tudo deve percorrer as vias da isonomia divina e esta é o crivo abalizador da relação social e eclesiástica do cristão maduro com o cristão neófito. Não se pode tratar de forma subjetiva quando se tem o manual que ensina como agir. Este manual é a sagrada escritura. E muito menos, não se pode tratar com ostracismo nazista alguém que porventura caia em fraquezas (cristãos neófitos) uma vez já vividas pelos ditos cristãos maduros noutros verões. A atitude deve ser justamente a oposta, ou seja, dar suporte pessoal e espiritual. Estes subsídios se tornarão mais enfático e será permeado de sucesso na contribuição da manutenção do crescimento do reino de Cristo. Isso por que quem aconselha inserido neste contexto e seguindo esta pauta, exerce esta prática com propriedade, pelo fato de falar do que já viveu. E com certeza o poder de auxílio direcionado será mais significativo. 

Portanto há uma gama de cristãos que abarrotam as igrejas na atualidade e que já viveram muitos verões recheados de erros. E são verdadeiramente regenerados e convertidos em Cristo. Que esta experiência passada sirva de concreto em prol do reino de Deus na admoestação, crescimento e nutrição de cristãos imaturos. E não como forma de tripudiar e aparecer à custa de uns e para outros. Quem age desta forma pode ouvir a seguinte expressão; Eu sei o que vocês fizeram nos verões passados!


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Sobre o autor: Thiago Azevedo é Casado com Mercia Litian a 7 anos, membro da 2º Igreja Batista em Casa Amarela Recife/PE há 12 anos. Formado em Teologia pelo STPN, formando em Teologia pela Universidade Metodista de São Paulo Polo Recife. Graduando em Filosofia pela UNICAP Universidade Católica de Pernambuco. Área de pesquisa - Simples estudante dos idiomas bíblicos. 

Divulgação: Bereianos

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