Devem os cristãos comemorar a páscoa usando os tipos cerimoniais do Antigo Testamento?

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Por Rev. Alan Rennê Alexandrino Lima


Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema” (Gálatas 1.6-9).

I – INTRODUÇÃO

Estamos no período comumente conhecido como “Semana Santa”, uma data promovida, a princípio, pelo Catolicismo Romano, mas que em virtude da “alma católica dos evangélicos brasileiros”[1], foi assimilada pelo evangelicalismo e até mesmo pelas denominações protestantes reformadas. Em 2010 postei aqui, no Cristão Reformado, o meu posicionamento e o que entendo ser a postura do presbiterianismo histórico em relação à Páscoa (aqui, aqui e aqui).

Apesar do meu posicionamento, convivo bem com irmãos amados que não possuem o mesmo entendimento que eu. Não brigo, não crio um clima beligerante com aqueles que desejam celebrar a Páscoa em suas igrejas, culminando com a celebração do chamado “culto da ressurreição” no domingo pela manhã. Não obstante, não consigo admitir que pastores, homens incumbidos de ensinar a Palavra de Deus em sua inteireza à igreja local entregue aos seus cuidados, levem as ovelhas do Senhor de volta às sombras veterotestamentárias, e que, para tentar justificar isso, apelem para decisões conciliares claramente discutíveis. Não consigo ficar calmo quando vejo igrejas desprezando o sacrifício de Cristo na cruz do Calvário, por celebrarem o que chamam de Páscoa se reunindo no dia do Senhor, no domingo, para juntos comerem um cordeiro assado, pães sem fermento e ervas amargas (alface). E o mais aberrante é que, logo depois celebram a Ceia do Senhor, resultando assim, num sincretismo pernicioso.

II – “FUNDAMENTAÇÃO” DA PRÁTICA

Três justificativas são apresentadas:

1) Trata-se de uma simples lembrança da primeira páscoa, em Êxodo 12, quando os israelitas receberam o mandamento referente à instituição da Sêder, a páscoa veterotestamentária. Argumenta-se que é um simples memorial de um dos grandes eventos da História da Redenção, quando o Senhor, com mão poderosa, libertou o seu povo do jugo egípcio;
2) Os adeptos dessa prática dizem que, além de ser uma simples lembrança da primeira páscoa, o fato de a igreja se reunir para comer um cordeiro assado, pães sem fermento e alface se constitui numa simples encenação, ou seja, uma simples representação teatral da primeira páscoa. Diz-se que a igreja não está sendo ensinada a celebrar a Páscoa. Na verdade, a igreja está apenas apresentando uma peça; e
3) Há afirmação de que seja apenas um recurso didático, uma forma de ensino. Diz-se que a igreja não está sendo ensinada a celebrar a páscoa nos moldes veterotestamentários, mas está sendo ensinada, simplesmente acerca de como se deu a primeira páscoa, em Êxodo 12.

Gostaria de fazer alguns comentários pontuais a respeito das três justificativas apresentadas em favor daquilo que, escrituristicamente, é uma abominação:

1) Em Mateus 28.19-20, encontramos Jesus dizendo o seguinte aos seus doze discípulos: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”. Os discípulos deveriam fazer com que a Igreja praticasse tudo aquilo que foi ordenado pelo Senhor Jesus Cristo. Apenas isso! Encontramos alguma ordem de Jesus referente à observância da páscoa? Sim e não. Em Lucas 22.19, Jesus, estando reunido com os Doze, ordena o seguinte: “E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim”. Jesus não ordenou, em absoluto, que os seus discípulos organizassem um memorial ou uma lembrança da páscoa judaica. A partir daquele instante, os discípulos deveriam lembrar a sua morte através da celebração da Ceia do Senhor, o que é confirmado pelo apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 11.23-25: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim”. A razão para tal descontinuidade entre a celebração pascoalina veterotestamentária e a Ceia da Nova Aliança é apontada pelo mesmo apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 5.7: “Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado”. Jesus Cristo é o cumprimento da páscoa do Antigo Testamento. O Dr. John Sittema diz o seguinte a este respeito: “Jesus, um rabino do século 1º, celebrou a festa do modo como foi transmitida à sua geração, uma comemoração envolta em séculos de costumes. Honrou todos os requisitos de uma celebração pascal tradicional. Sua ‘Última Ceia’ foi, evidentemente, uma refeição Sêder. Porém, Jesus fez mais do que celebrar a Páscoa. Ele a encarnou”.[2] Interessantemente, apesar de a refeição de Jesus ter sido uma Sêder, ele não ordenou que os discípulos se reunissem para comer um cordeiro assado, porém, apenas pão e vinho. Nada mais que isso.

2) A afirmação de que se trata simplesmente de uma lembrança da primeira páscoa é falaciosa, visto que a primeira páscoa foi caracterizada por ser uma celebração familiar. Cada família deveria providenciar e imolar o seu próprio cordeiro. Cada família deveria se reunir em seu lar para comer o cordeiro, os pães asmos e as ervas amargas. Cada família deveria espalhar o sangue nos umbrais das portas e janelas de sua própria casa. É o que diz Êxodo 12.3-4: “Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês, cada um tomará para si um cordeiro, segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família. Mas, se a família for pequena para um cordeiro, então, convidará ele o seu vizinho mais próximo, conforme o número das almas; conforme o que cada um puder comer, por aí calculareis quantos bastem para o cordeiro”. Reunir a igreja para comer cordeiro, pão e alface em nada lembra a primeira páscoa – a não ser nos alimentos oferecidos. Tal prática lembra, sim, a páscoa celebrada no tabernáculo e no templo, já na terra de Canaã, a partir de Deuteronômio 16.1-8, particularmente o versículo 2: “Então, sacrificarás como oferta de Páscoa ao SENHOR, teu Deus, do rebanho e do gado, no lugar que o SENHOR escolher para ali fazer habitar o seu nome”. Tal celebração era parte inextricável do que ficou conhecido como “lei cerimonial”. Sobre o caráter da primeira páscoa, as palavras do Dr. John Sittema são pertinentes: “Os participantes pertenciam ao círculo íntimo: tratava-se de uma celebração familiar e cada homem deveria escolher um cordeiro para a sua casa e só compartilhá-lo com o vizinho se sua família fosse pequena demais para consumir o cordeiro inteiro”.[3] Ele diz ainda que, a mudança para o tabernáculo e, posteriormente, para o templo “transformou a Páscoa na primeira das ‘festas peregrinação’ para as quais os israelitas deviam se deslocar até a casa do Senhor”.[4] O Pr. Moisés Bezerril, respeitado teólogo, afirma ainda que: “A Santa Ceia tem aspectos característicos da Nova Aliança. A páscoa era somente para Israel e alguns peregrinos estrangeiros que deveriam ser circuncidados para participarem daquele sacramento. Certamente que a páscoa era o sacramento familiar, daquela família com exclusividade, mas a santa ceia é o sacramento de todas as famílias juntas ao mesmo tempo”.[5] Isto posto, os adeptos da celebração pascoalina judaizante deveriam ser sinceros a respeito de seu apego às sombras do Antigo Testamento e do seu descaso para a com a viva realidade que é Jesus Cristo.

3) Ainda no que tange à afirmação de que reunir a igreja para comer cordeiro assado, pães sem fermento e alface é um simples memorial da primeira páscoa, podemos afirmar que, isso se constitui em um retorno ao cerimonialismo judaico, o qual deveria ser repetido todos os anos. Com a celebração da primeira páscoa, em Êxodo 12, foi estabelecida também a cerimônia anual da Pêsah: “Este dia vos será por memorial, e o celebrareis como solenidade ao SENHOR; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo” (v. 14). Sobre isso, o comentário de L. S. Chafer é interessante: “Tão profunda foi esta redenção que de Israel era exigido que, em reconhecimento dela, fosse estabelecida a Páscoa por todas as gerações – não como uma renovação da redenção, mas como um memorial”.[6] Devemos compreender que, aqueles que estavam debaixo das sombras do Antigo Testamento é quem deveriam celebrar a primeira páscoa. Os israelitas tinham o dever de lembrar a libertação ocorrida naquela noite extraordinária. Então, como deve ser entendida a ação de reunir a igreja, no dia do Senhor, para relembrar a primeira páscoa? Não seria essa uma prática judaizante? E não foi justamente contra esse tipo de prática que o apóstolo Paulo lançou os seus anátemas (Gálatas 1.8-9)?

4) Dizer que reunir a igreja, no domingo, para comer cordeiro assado, pães asmos e alface se trata, apenas de uma simples e inofensiva encenação e que a igreja não está sendo ensinada a celebrar a páscoa judaica é um argumento extremamente débil e falacioso. Quando alguém argumenta dessa maneira, a intenção é descaracterizar o cerimonialismo inerente ao ritual judaico e, assim, não ser acusado de fazer de tal ritual um ato de culto. Apesar desse esforço, tal tentativa é ineficaz, pois essa “encenação”, quando repetida ano após ano, adquire, sim, um caráter ritualístico e cerimonial. Essa “encenação”, quando repetida ano após ano, acaba por se constituir em uma tradição vista como correta e, daí por diante, como legítima expressão cúltica. À medida que a “Semana Santa” se aproxima, os membros da igreja criam uma grande expectativa a respeito do cordeiro que será comido pela igreja reunida no domingo. Com isso, estabelece-se um perigoso e maléfico misticismo no seio da igreja. Além disso, se é necessário que exista alguma encenação acerca do sofrimento do Redentor, creio que a Ceia do Senhor é a melhor e mais apropriada encenação pascal (1 Coríntios 5.7). Sendo assim, quando um pastor “encena” ano após ano a páscoa judaica, reunindo a igreja sob seus auspícios para comer um cordeiro assado e os demais alimentos, ele está, sim, ensinando a sua igreja a fazer aquilo. Ele está fazendo com que a sua igreja se devote às sombras cerimoniais. Sem saber, ele faz com que sua igreja despreze o sacrifício perfeito de nosso Senhor Jesus Cristo.

5) Sobre o argumento de que se trata apenas de um recurso didático, o mesmo nada mais é do que uma tentativa de eufemizar a prática, pois a execução da mesma mostra que se trata, sim, de um ritual. Quando isso acontece, é comum vermos os presbíteros postados à mesa, os membros da igreja em fila no corredor central da nave, prontos e ávidos por receberem uma porção da carne do cordeiro, do pão sem fermento e da hortaliça. Além disso, o pastor está no púlpito, dando a palavra de ordem para que os membros se dirijam até à mesa. Pra tornar o caso ainda mais sério, logo após celebra-se a Ceia do Senhor, na mesma mesa onde o cordeiro foi servido à congregação, e no mesmo serviço litúrgico. Creio que, se a intenção fosse simplesmente a de ensinar à igreja como se processou a primeira páscoa de Êxodo 12, uma ocasião excelente seria a realização de um almoço logo após à Escola Dominical.

O que pode ser percebido nos argumentos apresentados em favor da prática abominável de celebrar a páscoa nos moldes veterotestamentários, é que os mesmos carecem de fundamentação escriturística. Não é apresentada sequer uma passagem que justifique a inserção do cerimonialismo judaico em um culto segundo os princípios da Nova Aliança. Quando muito, apresenta-se uma resolução conciliar que, numa leitura distorcida, apóia a prática.

III – SOBRE O APEGO AOS TIPOS E O DESPREZO PELO ANTÍTIPO

Etimologicamente, a palavra grega tipos “significa uma estampa que pode servir como um molde ou padrão, e que é típica no Antigo Testamento como um molde ou padrão do que é antitípico no Novo Testamento”.[7] Um tipo pode ser definido como: “um modelo ou exemplo que antecipa ou precede uma realização última”.[8] Nesse sentido, pessoas, lugares, coisas, rituais, fatos e animais podem aparecer nas Sagradas Escrituras como tipos. O Dr. Heber Carlos de Campos define “tipo” da seguinte maneira: “Um tipo diz respeito a uma pessoa, a uma ação, a um evento, a uma cerimônia, etc., mencionado no Antigo Testamento, que prefigura um Antítipo da mesma natureza no Novo Testamento”.[9] O scholar Louis Berkhof afirma que, “a ideia fundamental [do tipo] é a da ‘relação representativa preordenada que certas pessoas, eventos, e instituições do Antigo Testamento têm com pessoas, eventos, e instituições correspondentes do Novo’”.[10] Chafer diz que, “um tipo é uma descrição estruturada que retrata o seu antítipo. Ele é a própria ilustração que Deus dá de sua verdade desenhada por sua própria mão”.[11]

Assim, objetos como a arca que livrou Noé e seus familiares do dilúvio, a serpente de bronze, o tabernáculo e o templo são claramente tipológicos. Eles funcionam nas Sagradas Escrituras como tipos de Jesus Cristo, aquele que livrou o povo de Deus do derramamento de Sua ira, que pendurado no madeiro trouxe salvação àqueles que olham com confiança para Ele e que é a perfeita habitação de Deus entre o seu povo. Homens como Abraão, José, Moisés, Josué também serviram como tipos de Jesus, por retratarem aspectos da obra que seria realizada e consumada futuramente por Jesus Cristo, em sua encarnação e ministério terreno.

Claramente, o cordeiro pascal de Êxodo 12 é um tipo de Jesus Cristo. Na verdade, todos os sacrifícios realizados durante a administração pactual do Antigo Testamento apontavam, prefiguravam o sacrifício perfeito de nosso Senhor Jesus. O Dr. Gerard van Groningen afirma que, “o relato sobre o cordeiro pascal em Êx 12.3-11 é o ponto de partida para todas as outras referências a esse cordeiro”.[12] Esse cordeiro pascal era um tipo do Cordeiro que seria revelado plenamente no Novo Testamento. Ele era um tipo de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus: “No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1.29). Em Atos dos Apóstolos 8.32, somos informados de que, “a passagem da Escritura que estava lendo era esta: Foi levado como ovelha ao matadouro; e, como um cordeiro mudo perante o seu tosquiador, assim ele não abriu a boca”. Filipe disse ao Eunuco etíope que, a passagem de Isaías 53.7-8 estava falando a respeito de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus. O fator central relativo ao cordeiro de Êxodo 12 é o sangue marcado nos umbrais das portas dos israelitas:

O sangue foi o meio que Yahweh empregou para poupar os primogênitos de Israel. O cordeiro, para que seu sangue fosse útil, tinha de morrer. Assim, o cordeiro tornou-se um substituto para todos os primogênitos em Israel. Sem que o sangue do cordeiro fosse derramado, recolhido e aplicado, não haveria nenhuma libertação, nenhuma redenção para o povo escolhido de Yahweh. O sangue do cordeiro usado no tempo do êxodo apontava, como um tipo, para o sangue de Cristo derramado, sem o qual não há redenção do cativeiro do pecado (Hb 9.22). O sangue do cordeiro funcionava redentivamente e, portanto, tem um significado messiânico definido.[13]

Algo que não deve ser esquecido a respeito dos tipos, é que, por natureza, eles são imperfeitos, isto é, “o Antítipo é superior e maior em significado do que Tipo”.[14] A imperfeição dos tipos é claramente afirmada em Hebreus 9.9-11: “É isto uma parábola para a época presente; e, segundo esta, se oferecem tanto dons como sacrifícios, embora estes, no tocante à consciência, sejam ineficazes para aperfeiçoar aquele que presta culto, os quais não passam de ordenanças da carne, baseadas somente em comidas, e bebidas, e diversas abluções, impostas até ao tempo oportuno de reforma. Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação”. No Antigo Testamento, os cordeiros oferecidos eram imperfeitos no sentido de não serem, em si mesmos, a razão pela qual Deus perdoava os pecados do povo. O perdão concedido tinha por base o sangue derramado do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Apenas o seu sangue é eficaz para a remissão dos pecados do povo de Deus. A morte do cordeiro pascal de Êxodo 12, em si mesma, era ineficaz.

Dado o caráter imperfeito dos tipos e o caráter perfeito do Antítipo, é pertinente a observação do Dr. Heber Carlos de Campos: “A revelação é progressiva porque ela parte do imperfeito para o perfeito. Por essa razão, quando o Cordeiro veio, não mais precisamos de outros cordeiros. Quando o antítipo chega, os tipos cessam. Quando perfeito chega, o imperfeito desaparece”.[15] Hebreus 10.1-4 afirma de forma inequívoca a imperfeição dos sacrifícios veterotestamentários:

Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem. Doutra sorte, não teriam cessado de ser oferecidos, porquanto os que prestam culto, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais teriam consciência de pecados? Entretanto, nesses sacrifícios faz-se recordação de pecados todos os anos, porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados.

Já o versículo 12 assevera a perfeição inerente ao sacrifício de Jesus Cristo na cruz do Calvário: “Jesus, porém, tendo oferecido,para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus”.

Com a vinda de Jesus Cristo, seu sofrimento e morte na cruz, os tipos cessaram. As sombras cerimoniais e sacrificiais do Antigo Testamento foram banidas com a obra expiatória de Jesus. Depois da chegada da realidade, Cristo, as sombras tipológicas cessaram, perderam a sua razão de ser, de maneira que, os cristãos devem se alegrar pela realidade de Cristo Jesus, e não devem, de forma alguma, retornar às sombras veterotestamentárias. Os crentes, hoje, desfrutam de uma bênção maravilhosa que é poder relembrar a morte substitutiva de Jesus na Ceia instituída pelo próprio Cordeiro de Deus. Por conseguinte, inserir no culto o que é chamado de “rememoração da primeira páscoa” é inserir um elemento estranho à realidade da Nova Aliança e uma abominação aos olhos da tradição apostólica legada pelo apóstolo Paulo: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema” (Gálatas 1.8-9).

Já disse em outra ocasião: NOSSA PÁSCOA É A CEIA DO SENHOR! Trata-se de uma grande abominação, um culto sincrético, colocar no mesmo culto uma “lembrança” da páscoa cerimonial veterotestamentária e a Ceia do Senhor. É necessário que haja arrependimento, pois maldito é aquele que ensina outro evangelho que não aquele recebido por Paulo do próprio Senhor Jesus Cristo.

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Notas:
[1] Esta frase é o título de um artigo escrito pelo Dr. Augustus Nicodemus Lopes. Ele identifica cinco características dessa alma católica: 1) o gosto por bispos e apóstolos; 2) a ideia que pastores são mediadores entre Deus e os homens; 3) o misticismo supersticioso no apego a objetos sagrados; 4) a separação entre sagrado e profano; e 5) somente pecados sexuais são realmente graves. Disponível em http://tempora-mores.blogspot.com.br/2006/11/alma-catlica-dos-evanglicos-no-brasil.html. Particularmente, creio que o apego às festividades do calendário litúrgico da Igreja de Roma seja a sexta característica.
[2] John Sittema. Encontrei Jesus numa Festa de Israel: Os Festivais do Antigo Testamento à Luz do Evangelho de Jesus Cristo. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. p. 37.
[3] Ibid. p. 33.
[4] Ibid. p. 34.
[5] Moisés C. Bezerril. Sacramentos e Clericalismo. Artigo disponível em: http://www.monergismo.com/textos/sacramentos/sacramentos_moises_bezerril.htm. Acessado em 21 Abr 2011.
[6] Lewis Sperry Chafer. Teologia Sistemática. Volume 1 & 2. São Paulo: Hagnos, 2008. p.
[7] Lewis Sperry Chafer. Teologia Sistemática. Volume 1 & 2. São Paulo: Hagnos, 2008. p. 27.
[8] Louw-Nida Greek Lexicon (58.63) in BIBLEWORKS 7.0. Minha tradução.
[9] Heber Carlos de Campos. Teologia da Revelação. Apostila do curso de TST 301 – Teologia da Revelação. São Paulo: Andrew Jumper, 2011. p. 90.
[10] Louis Berkhof. Princípios de Interpretação Bíblica. São Paulo: Cultura Cristã, 2000. p. 142.
[11] Lewis Sperry Chafer. Teologia Sistemática. Volume 1 & 2. p. 72.
[12] Gerard van Groningen. Revelação Messiânica no Antigo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. p. 214.
[13] Ibid. p. 216.
[14] Heber Carlos de Campos. Teologia da Revelação. p. 91.
[15] Ibid. p. 94.

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Fonte: Cristão Reformado
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